quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Cine Dica: Em Cartaz- 'O Menino e a Garça'

Sinopse: O jovem Mahito luta para se estabelecer em uma nova cidade após a morte de sua mãe. Quando uma garça falante conta para Mahito que sua mãe ainda está viva, ele entra em uma torre abandonada em busca dela. 

Hayao Miyazaki é apontado por muitos fãs como o Disney do Japão e se pararmos para pensar a comparação não é muito forçada. Só pelo Studio Ghibli ele criou obras primas que, tanto explora a fantasia como foi visto em "A Viagem de Chihiro" (2001), como também filmes com o pé mais na realidade e que fala um pouco sobre a sua pessoa como no caso de "Vidas ao Vento" (2013). Portanto, "O Menino e a Garça" (2023) transita entre o realismo e o fantástico e nos transportando novamente para um universo pessoal do realizador como um todo.

Baseado no livro de Genzaburo Yoshino de 1937, a trama é sobre o menino Mahito Maki. Após a trágica morte de sua mãe, Mahito se muda com o seu pai e sua nova mãe para uma propriedade no interior, mas que lá começa acontecer eventos misteriosos e que o lava a conhecer uma garça peculiar e que fala. Quando a sua nova mãe desaparece o jovem decide procurá-la, mas indo de encontro com um mundo mágico e cujo tempo e espaço se fundem como um todo.

Embora seja baseado em um livro de outro autor é notório que Hayao Miyazaki usou o conto para falar um pouco sobre si mesmo, já que o próprio passou por maus bocados ao lado da sua família durante a Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo que o seu pai ajudava na fabricação de aviões para colaborar com o governo japonês, o realizador, por sua vez, sempre questionou se valeria a pena ajudar em uma guerra em que ambos os lados saem perdendo independente de quem ganha. Por conta disso, os seus filmes falam de protagonistas que fogem da realidade nua e crua e embarcam em um mundo fantástico cheio de detalhes e conteúdo.

Neste filme não é diferente, onde o realizador elabora uma trama em que quase pode ser tocada na tela, pois embora seja feito com desenho tradicional é impressionante os inúmeros detalhes que se encontram em nossa frente. Acompanhamos os personagens por esses cenários, desde uma sala cheia de livros ou um simples quarto, mas que ali guarda diversas histórias a partir de cada detalhe que acabamos fisgando quando nos encontramos mais atentos. E essa sensação não é diferente quando o pequeno protagonista adentra ao mundo mágico que ele irá conhecer, onde os traços do realizador fluem de tal modo como se eles fossem realmente vivos e nos passando a sensação de peso e sendo algo que quase nunca sentimos em produções sobrecarregadas de CGI.

O filme em si lembra bastante alguns contos já elaborados pela Disney, como no caso do clássico "Alice no País das Maravilhas" (1951), mas tudo embalado com a cultura oriental e fazendo da obra muito mais genuína. Em comum, ambas falam sobre a busca de um protagonista em tentar fugir da dor que se encontra em sua realidade, sendo que o mundo fantástico não serve somente como ponto de fuga, como também uma forma deles enfrentarem as suas dores interiores e podendo, enfim, enfrentar o mundo real de uma forma mais madura. Até lá, nos deliciamos com as imagens fantásticas e cujo personagens enigmáticos aumenta ainda mais a experiência.

Mahito, por exemplo, é um menino que facilmente nos identificamos com ele, já que os seus sentimos e pensamentos são coisas das quais nos identificamos e fazendo com que a gente fique do seu lado o tempo todo enquanto ele embarca nesta estranha aventura. Ao mesmo tempo, a Garça é sem sombra de dúvida uma das figuras mais peculiares e divertidas do longa, já que ela se apresenta de uma forma misteriosa, para logo depois surgir com uma nova faceta de uma forma original e ao mesmo tempo surpreendente. Esse é um de inúmeras estranhas e fantásticas figuras que surgem na tela e fazendo da obra se tornar ainda mais encantadora.

Curiosamente, é um filme que também brinca com a questão do multiverso e que hoje em dia está na moda dentro do gênero de Super Heróis para o cinema´. Porém, aqui ela é usada de uma forma emocional, para que o pequeno protagonista aprenda ainda mais sobre qual é a missão dos seres humanos em vida e como é preciso lidar com a morte, pois ela pode ser o fim, mas também o começo para cada um de nós. Ao final, concluímos que a jornada do pequeno protagonista é sobre a nossa própria jornada sobre amadurecimento e do qual precisa vir para encararmos novos desafios desse mundo real, por vezes, cruel, mas que possuem também coisas maravilhosas para serem sentidas enquanto vivermos nela ao longo de nossas vidas.

Favorito para Oscar de Melhor Longa de Animação de 2024, "O Menino e a Garça" é aquele filme mágico que nos contagia do começo ao final da narrativa e fazendo a gente torcer que essa não seja a última realização do mestre  Hayao Miyazaki em vida. 

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