segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Cine Especial: Clube de Cinema - 'Puan'

 Nota: Filme exibido para os associados no último sábado. 

Sinopse: Marcelo Pena é um aplicado professor de filosofia que, após a morte repentina de seu mentor, está pronto para preencher a cadeira de professor titular na Universidade de Buenos Aires.  

Mesmo em sua atual crise a Argentina é capaz de dar a volta por cima e nos brindar com belas surpresas graças a sua cultura e da qual se mantém intacta perante as adversidades que ocorrem por lá. Se por aqui sofremos quando um desgoverno desmantela o nosso conhecimento, lá as coisas não são bem assim, sendo que o povo faz com que se mantenham vivos através de suas artes e histórias a serem contadas. "Puan" (2023), por exemplo, tratará da rivalidade entre dois professores de filosofia, mas cuja entrelinhas se encontra o atual estado de espírito da Argentina.

Dirigido por dirigido por Maria Alché, Benjamín Naishtat, o filme é sobre Marcelo Pena, um aplicado professor de filosofia que, após a morte repentina de seu mentor, está pronto para preencher a cadeira de professor titular na Universidade de Buenos Aires. Mesmo parecendo que ele é a melhor escolha para o cargo, seus esforços de anos parecem que foram em vão com o retorno de Rafael Sujarchuk, seu colega mais atraente, carismático e namorado de uma famosa estrela do cinema. Ambos passam a disputar a vaga deixada pelo falecido professor.

A premissa é curiosa, tanto que faz com que a obra transite entre pílulas de Rousseau e Hobbes, de Epicuro e Heráclito durante as aulas ministradas na Faculdade de Filosofia e Letras da UBA (Universidade de Buenos Aires), que fica, justamente, bem perto do metrô Puan. Assim é explicado o misterioso título, mas que a partir desse ponto do enredo faz então todo o sentido.

Com tudo isso, mais o lado animado, por vezes, translouco dos estudantes presentes, além das curiosas professoras em cena, tudo molda para que se torne a melhor parte do filme. Em alguns casos, o enredo é um tanto que irregular, sendo mais interessante quando tudo se volta para a rivalidade entre os dois principais professores da trama e cujo embate perdura já algum tempo. Dos dois, Pena é o mais desinteressante, mas não menos genial diga-se de passagem.

Neste último caso, é isso que torna o filme algo para ser conferido, ao mostrar um cidadão comum, porém, cheio de conhecimento, mas que encara as adversidades da realidade em sua volta, seja perante o seu rival, como também os problemas políticos que rondam as universidades dentro da trama. Sinceramente, a sua aparência séria se encaixa perante as situações inusitadas que o personagem passa, principalmente na cena em que ele se senta em algo que jamais deveria. Poderia soar apenas como uma mera piada, mas também simboliza a situação geral da Argentina como se encontra hoje em dia.

Destaco também a brilhante atriz revelada por Lucredia Martel em "A Menina Santa" (2004), onde sobressaía algo de perverso no rosto de sua personagem. Aqui entra como co-diretora, assinando seu segundo longa (há ainda um episódio de série e dois curtas em seu currículo, sem contar o trabalho de atriz, claro). Tem a seu lado está Benjamin Naishtat, cuja carreira até hoje tem sido voltada à direção e ao roteiro.

Apesar de alguns tropeços não há como negar que o filme cresça na medida em que a trama avança para o seu ato final, o que se deve menos ao seu protagonista (que acaba até mesmo por apagar Sujarchuk, o antagonista) do que à eterna crise Argentina, que no caso se abaterá sobre a universidade. É aqui então que o filme se torna mais atual do que nunca.

O filme, portanto, se casa com que acontece na atual crise do nosso país vizinho vista a partir da agitação e das dificuldades de uma unidade universitária. Ao final, resta somente soltar poesias para que se faça refletir perante as adversidades atuais e dos quais se tornam pálidas perante uma cultura que se manterá sempre viva. Apesar dos problemas visíveis, "Puan" se mantém pelas suas qualidades de um olhar particular de um pequeno local da Argentina, mas que tem tudo a ver com que acontece por lá hoje em dia.

Com o recente ataque do Presidente Javier Milei contra o cinema Argentino, "Puan" chega justamente em um momento em que sintetiza a força cultural perante os retrocessos que afligem em nosso país vizinho.

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