Sinopse: Dois amigos de infância profundamente conectados, se separam depois de uma mudança. Duas décadas depois, eles se reencontram na cidade de Nova York para uma semana fatídica enquanto confrontam noções de destino, amor e escolhas.
Nos últimos tempos o cinema tem explorado a questão sobre realidades alternativas, onde o protagonista dá de encontro com uma realidade em que ele poderia ter tido uma vida completamente diferente. Se por um lado isso está sendo explorado a exaustão pelas adaptações de HQ para o cinema, do outro, ao menos existem filmes que toque no assunto, mas indo em outra direção um pouco mais verossímil. "Vidas Passadas" (2023) nos mostra as diversas possibilidades da vida de um casal central, mas não através de viagens no tempo, mas sim através de diálogos genuinamente humanos.
Dirigido por Celine Song, o filme conta a história de Nora e Hae Sung, dois amigos de infância com uma conexão profunda, mas que acabam se separando quando a família de Nora decide sair da Coréia do Sul. Vinte anos depois, os dois amigos se reencontram por uma semana enquanto confrontam noções do amor e destino. Cada um com uma vida destina, mas que não impede deles possuírem em uma ligação intensa.
Acredito eu que Celine Song se inspirou muito no cineasta Hong Sang-Soo na realização deste filme, pois percebe que os personagens se sentam em determinados momentos da trama e começam a dialogar através de uma bebida e um cigarro em um determinado bar qualquer da história. Porém, enquanto Hong Sang-Soo opta por um enquadramento em determinadas cenas especificas, Celine Song opta em extrair dos seus personagens todos os sentimentos em que eles estão sentindo naquele momento e fazendo com que a sua câmera se torne o nosso olhar observador na medida em que os personagens vão mudando as suas expressões no decorrer do enredo. Por conta disso sentimos uma tensão mais crescente, como se os sentimentos do casal central fossem explodir a qualquer momento e desencadeando mudanças irreversíveis para se dizer o mínimo.
Curiosamente, é interessante observar as raízes de amor e amizade dos protagonistas, do qual começou desde jovens, mas cujas escolhas fizeram com que se separassem. Através do reencontro e rodadas de bate papo se tem então um mosaico de possibilidades sobre como seria eles em outra vida se caso cada um não tivesse ido em caminhos diferentes e desfrutado de um sentimento forte que não poderia ser guardado para sempre internamente. O ápice dessas conversas ocorre em uma Nova York acolhedora, como se a grande metrópole fosse o ponto de encontro para que as coisas fossem resolvidas, mas realidade como todos sabem é sempre outra.
Tanto Greta Lee como Yoo Teo estão ótimos em seus respectivos papeis, sendo que ambos em cena sentimos uma química em abundância e fazendo que a não consumação desse sentimento em cena torne os momentos muito mais tensos. Porém, John Magaro não fica muito atrás, ao interpretar o marido de Nora e nos passando para nós que ele sabe compreender os sentimentos de sua esposa, mesmo também não escondendo ciúmes perante um relacionamento que poderia ter tido rumos diferentes. Quando o trio central estão sentados em um bar conversando, por exemplo, notasse que o personagem Magaro jamais esconde o seu desconforto, porém, mantendo o controle e compreensão na medida do possível.
O ato final reserva momentos emocionantes, principalmente pelo fato de não haver uma chance para aqueles personagens retornarem no tempo para obter o que realmente queriam, mas sim tendo que conviver com as suas escolhas que tomaram ao longo do percurso. O filme nos diz que, entre erros e acertos, nós devemos conviver com eles em harmonia, mas jamais escondermos os nossos sentimentos do que poderíamos ter realmente feito, seja nesta vida, na próxima ou em vidas passadas. Nunca é demais, portanto, pararmos para imaginar as inúmeras possibilidades que poderíamos obter de acordo com as nossas escolhas ao longo de nossa história.
"Vidas Passadas" é uma história de amor jamais consumada, mas que nos desperta a nossa imaginação e fazendo até mesmo nos identificarmos com ela.
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