sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Cine Especial: Revisitando 'Harry e Sally - Feitos um para o Outro'

Até o final dos anos oitenta as comédias românticas se sustentavam através da criatividade e de alguns filmes que davam um passo à frente para que o gênero sempre se renovasse. Woody Allen, por exemplo, foi um que soube incrementar o seu lado criativo com tramas românticas que fugiam do óbvio e fazendo com que servisse de inspiração para outros realizadores. É o caso de "Harry e Sally - Feitos um para o Outro" (1989), de Rob Reiner, do qual o mesmo soube captar a mensagem do seu colega e criando assim uma das melhores e mais divertidas comédias românticas de todos os tempos.

O filme começa no final dos anos setenta. No fim de sua formatura na Universidade de Chicago, Harry Burns (Billy Crystal) recebe a carona de Sally Albright (Meg Ryan), formanda amiga de sua namorada para uma viagem até Nova York. Os anos passam e eles continuam a se encontrar esporadicamente, mas a grande amizade que desenvolveram é abalada ao perceberem que na verdade estão apaixonados um pelo outro.

Ao longo da carreira Rob Reiner soube transitar o seu cargo como diretor em diversos gêneros bem distintos, pois tanto ele fez um incrível suspense como "Louca Obsessão" (1990), como também um ótimo filme de tribunal em "Questão de Honra" (1992). Porém, acredito eu que ele se sairia muito melhor se tivesse investido mais nas comédias românticas, pois esse aqui é uma verdadeira aula de roteiro bem construído, ao fazer dos seus dois personagens principais figuras carismáticas e das quais nós compreendemos os seus pontos de vista com relação aos relacionamentos amorosos. Enquanto Harry é mais prático com relação ao sexo, Sally procura ser mais idealista ao acreditar no amor verdadeiro.

Com o tempo, ambos vão aprendendo um com o outro os seus pontos de vista e formando assim uma amizade curiosa, mas da qual se encontra também um amor mútuo não correspondido devido ao medo de estragar esse relacionamento. O grande charme do filme se encontra justamente nas cenas em que eles conversam na mesa de uma cafeteria ou restaurante e nos brindando com cenas surpreendentes. A cena em Sally fingi um orgasmo na frente de Harry estão entre os momentos mais impagáveis da história do cinema.

Meg Ryan nos brinda com um dos seus melhores papeis de sua carreira e que fez com que a mesma se tornasse a queridinha da América. Na entrada dos anos noventa, por exemplo, fez parceria com Tom Hanks em "Sintonia no Amor" (1993) e "Mensagem para Você (1998), sendo ambos os títulos um enorme sucesso e fortalecendo ainda mais esse status. Portanto, é uma pena pensar que a própria imprensa norte americana quase destruiu a sua carreira da atriz unicamente porque ela teve um caso com Russell Crowe durante as gravações de "A Prova de Vida"(2000), sendo que na época ela estava casada com Dennis Quaid.

Já Billy Crystal teve uma carreira solida antes e pós a esse clássico. O ator já estava colecionando ótimos filmes de comédia durante os anos oitenta como "Jogue a Mamãe do Trem" (1987). Porém, é em "Harry e Sally" que ele nos apresenta um humor inteligente, por vezes ácido, mas que nos conquista de imediato. Por vários anos o ator se tornou também conhecido como apresentador da premiação anual do Oscar e sendo considerado até hoje como um dos melhores ao comandar a cerimônia.

Revisitando o filme recentemente percebo que o clássico também foi ousado em pausar a trama principal para ouvirmos determinados casais e de como eles se conheceram no passado. Quando eu assisti anos atrás essas cenas eu achava que era realmente "não atores" em cena, quando na verdade eram intérpretes que contavam histórias verídicas. Ponto para o diretor que conseguiu obter cenas verossímeis e que se casam com a cena final do filme como um todo.

O longa, portanto, pertence a uma época em que o gênero não estava sendo desgastado, mas sim nos brindando com tramas criativas mesmo quando a gente já tinha uma suspeita de como ela iria terminá-la. É então que chega os anos noventa, onde as fórmulas de sucesso dentro do gênero são usadas exaustivamente, ao ponto que hoje esse tipo de filme se encontra moribundo e aguardando para que surja alguém que venha reanimá-lo. Ao menos, sempre teremos o casal formado por Meg Ryan e Billy Crystal para podermos revisitá-los e desfrutarmos de diálogos que ainda hoje são insubstituíveis.

"Harry e Sally - Feitos um para o Outro" é um dos melhores e mais importantes filmes do gênero comédia romântica e que, infelizmente, logo enfrentaria o seu inevitável declínio. 

Onde Assistir: Telecine

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