sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Cine Especial: Revisitando Noivo Neurótico, Noiva Nervosa

Sinopse: Um humorista judeu e divorciado que faz análise há quinze anos, se apaixona por Annie Hall, uma cantora em início de carreira com uma cabeça um pouco complicada. Em pouco tempo eles decidem morar juntos, mas as crises conjugais começam a aparecer e afetar os sentimentos de ambos. 

Os filmes de Woody Allen são sobre sua pessoa, sobre suas neuroses e suas críticas acidas com relação a realidade em sua volta. É fácil, portanto, acusá-lo de ser repetitivo, já que a maioria dos seus personagens são uma representação sobre si e sobre determinada fase de sua vida particular. Portanto, "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977) é apontado por muitos como um dos melhores filmes de sua carreira unicamente por saber ser um ótimo ponto de partida para aqueles que forem conhecer a sua filmografia.

Para começar, o realizador já de início quebra a quarta parede e onde o mesmo nos convida para conhecer a sua vida desde a sua infância e já fazendo a gente constatar que ele tem sérios problemas. A beleza do filme está no fato de, tanto ele como os demais personagens, interagirem com o passado e o presente, como se as regras narrativas ficassem de lado e se sentirem livres em caminharem neste mundo. Esse mundo, aliás, podemos interpretá-lo como a mente de Woody Allen por dentro e do qual ele tenta ditar as regras, mas o próprio não consegue controlá-las e fazendo com que a edição de cenas da obra se torne ainda mais fantástica.

É perto do final dos anos 70, época em que ocorria uma transição que o cinema norte americano estava passando. Iniciando a década com a "Nova Hollywood", do qual é apontado até hoje como a melhor fase do cinema norte americano, a mesma passou naquele período por uma espécie de metamorfose devido ao sucesso "Tubarão" (1975) e posteriormente "StarWars" (1977). Em meio a essas mudanças, Allen estava ali como não quer nada, mas já chamando atenção da crítica através de filmes como "Um Assaltante Bem Atrapalhão" (1969) e "O Dorminhoco" (1973). Ironicamente, o realizador acabaria levando os seus Oscars de melhor filme e direção no ano em que "" mudaria o mercado cinematográfico para sempre, mas pelo visto os votantes da academia se encantaram pelas suas neuroses do que por uma história que se passava em uma galáxia distante.

O filme também marcaria a primeira grande parceria entre o cineasta e a atriz Diane Keaton, que vinha do sucesso "O Poderoso Chefão" (1972), mas obtendo chance maior através desse filme. Vale destacar que nunca Diane Keaton esteve tão à vontade em um personagem que se casou com perfeição com a sua pessoa, pois keaton não era um símbolo da beleza ou da maneira de se vestir, mas sendo ela mesma em seus respectivos papéis. A cena em que ela surge com o seu chapéu e gravata simboliza uma pessoa descontraída, mas não escondendo os mesmos questionamentos de sua cara metade da época.

Ambos em cena possuem uma ótima química em abundância, ao ponto que alguns momentos parecem que nada é improvisado e dando a entender que eles simplesmente estavam atuando como eles mesmos e seguindo apenas a premissa do roteiro. Pode-se dizer que o filme quebra a regra básica de uma comédia romântica como um todo, já que não há exatamente um final feliz para o casório, mas sim um exemplo que devemos obter relacionamentos para continuarmos vivos e seguirmos em frente, pois cada um é um aprendizado a ser guardado para si e com carinho. Ou seja, é um filme a frente do seu tempo e talvez até mesmo a frente da filmografia do realizador, pois se assistirmos aos demais filmes antes deste nos dá a sensação de que é um filme que fala sobre a sua carreira, de como foi a sua pessoa e da qual a mesma não conseguiu encobrir as suas principais falhas genuinamente humanas.

"Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" não é somente um dos melhores filmes da carreira de Woody Allen, como também um cartão de visita para conhecer suas grandes neuroses e suas relações não resolvidas. 

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