sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Cine Especial: 'Oldboy - 20 Anos Depois'


Embora Hollywood não seja proprietária da sétima arte a mesma acredita friamente nisso, ao ponto de fazer com que percamos a chance de assistirmos inúmeros grandes filmes de outros países e fazendo a gente ser obrigado em assistir aos seus filmes ou franquias intermináveis. Felizmente os festivais pelo mundo se tornam uma espécie de janela para apreciarmos grandes obras feitas por realizadores que tem muito a dizer do que se imagina. O ano é 2003, onde o festival de Cannes era presidido por Quentin Tarantino e do qual o mesmo ficou maravilhado com o sul coreano "OldBoy" de Park Chan-Wook.

Se hoje muitos assistem a filmes e séries coreanas muito se deve ao fato de Tarantino ter feito questão deste filme ser assistido pelo Juri do festival naquela época. O filme acabou levando o Prêmio do Juri e abrindo assim uma janela para que fosse exibido nos demais países. Além de obter ainda mais premiações a obra de Park Chan-Wook foi atraindo cada vez mais olhares e fazendo muitos concordarem de que o filme era um dos mais cultuados do início do século 21.

Poucos na verdade sabem, mas o filme é uma segunda parte de uma trilogia moldada pelo cineasta, começando por "Mr. Vingança" (2002) e encerrada por "Lady Vingança" (2005). Porém, o filme do meio pode ser visto de forma isolada, pois a trama tem começo meio e fim e baseado em uma manga japonês. Curiosamente, essa HQ acaba se tornando inferior se comparada a sua adaptação, pois Park Chan-Wook não faz um mero filme de vingança, mas sim sobre a fragilidade do ser humano em não saber controlar os seus sentimos de dor e culpa.

O protagonista Oh Dae-Soo, interpretado por Min-sik Choi, é um homem comum, porém, problemático, que vive arranjando briga e se relacionando com mulheres casadas. Certa noite o mesmo estava se dirigindo para ver a sua filha no seu aniversário, mas no meio do percurso é raptado e ficando preso dentro de um apartamento por quinze anos. Esse é o mote inicial do filme, mas do qual nos consegue obter a nossa atenção de imediato, pois ficamos nos perguntando por que ele foi preso e quem fez isso?

Esse primeiro ato podemos interpreta-lo como uma espécie de curta metragem, já que o protagonista se transforma gradualmente, desde em treinar fisicamente como também aprendendo e testemunhando as mudanças que ocorreram no mundo nos quinze anos em que ficou clausulado e quase sempre na frente de uma tv. É neste momento que Park Chan-Wook mostra o seu dom na direção, ao criar uma edição dinâmica, closes fechados, uma fotografia que transita entre o sombrio e cores vibrantes e cuja as mesmas se tornam simbólicas e das  quais guardam segredos que posteriormente serão revelados ao longo da narrativa.

Para a nossa surpresa, o protagonista acorda dentro de uma caixa e na cobertura de um prédio onde um homem está prestes em cometer suicídio. Interessante observar a carência que o protagonista tem nesta cena devido a falta do toque humano após vários anos sem contato e obrigando o suicida ao ouvir a sua história. A situação, por vezes, absurda segue adiante, onde ouvimos a narração off do protagonista e cujo seu desejo por vingança só aumenta.

De imediato não sabemos quem armou esse cenário para o protagonista, mas logo elementos surgem para moldar um mosaico de informações e dos quais fazem ainda maior sentido após uma segunda sessão. Eu me lembro que o filme gerou certa polêmica pela famosa cena em que Oh Dae-Soo come uma Lula viva logo após receber uma ligação do misterioso homem que o prendeu. Na Coreia é comum comer Lula viva, mas para o olhar ocidental essa cena se tornou chocante e principalmente para aqueles que quase sempre estão acostumados pelo cinema convencional.

Neste meio tempo surge uma jovem misteriosa chamada Mido, interpretada pela atriz Kang Hye-Jeong e que, por alguma razão, começa a querer ajudar a protagonista em sua jornada de vingança. É através dela, por exemplo, que presenciamos uma passagem simbólica dela estar solitária dentro do trem e observando uma formiga gigante sentada do outro lado do vagão. Por alguma razão, essa cena me lembrou do clássico "O Cão Andaluz" (1929) do diretor Luís Buñuel e cujo papel das formigas tem algo simbólico com relação aos sentimentos de solidão de ambas as obras como um todo.

Vale salientar que o filme é lembrado pelas suas cenas de violência, que vai desde aos momentos de luta como também de tortura. Alguns compararam ao clássico "Laranja Mecânica" (1971), outros afirmaram que é uma espécie de fusão entre esse clássico e "1984", já que o Oh Dae-Soo é observado e ouvido o tempo todo e sintetizando os tempos atuais em que cada vez mais a sociedade está sendo observada pelas redes sociais e cuja privacidade vai se tornando uma lembrança distante. O visual do filme também lembra o subgênero Cyberpunk, sendo conhecido por seu enfoque de alta tecnologia e baixa qualidade de vida e da qual é exatamente como o personagem se encontra.

Park Chan-Wook também foi responsável pelo início dessa nova atração que os cineastas autorais têm pelo plano-sequência, sendo que o realizador fez a famosa cena do corredor com poucos recursos, mas que graças a sua direção e o esforço descomunal do ator Min-sik Choi fizeram com que ela fosse lembrada até nos dias de hoje. É somente após essa cena que conhecemos finalmente o causador de toda essa enigmática trama e do qual se chama Lee Woo-Jin, interpretado brilhantemente pelo ator Yoo Ji-tae. Arrisco dizer que esse personagem é um dos melhores e mais trágicos vilões do início deste século, já que o seu plano em fazer do protagonista um fantoche em sua teia é perfeito e culminando em revelações surpreendentes.

Tudo gira em torno da vingança, seja vinda pelo desejo Oh Dae-Soo como também de Lee Woo-Jin. Ambos são dois lados da mesma moeda e que, mesmo de forma indireta, moldaram um ao outro com relação aos seus atos e consequências. Isso se torna ainda mais simbólico com o uso de espelho, cujo objeto se torna peça primordial vinda do passado e do qual é revelado as motivações de Lee Woo-Jin contra Oh Dae-Soo. Por fim, tudo culmina em um grande segredo que é guardado dentro de uma caixa e cuja revelação se tornou bombástica para época.

Revendo o filme pela segunda vez se acha elementos que fariam a gente não se chocar tanto com a revelação final, mas a forma que o diretor filmou foi tão perfeita que fez com que não direcionássemos para o obvio e fazendo da revelação algo que se equipara ao chocante final de "Seven" (1996) de David Fincher. Com desejo de vingança sanados, ambos os dois lados da mesma moeda se encontram em frangalhos, pois a dor prossegue, mesmo tendo sido cumprido os objetivos. Embora Park Chan-Wook dê um meio termo para que o protagonista siga em frente com que lhe restou nós, por outro lado, sentimos o peso da situação e levamos consigo por muito tempo após a sessão.

O filme inaugurou o ponta pé inicial para que o cinema Sul Coreano fosse observado mais de perto pelos olhares do restante do mundo e fazendo com que obtivéssemos a chance de assistir outros ótimos filmes. Pode-se dizer que foi graças a "OldBoy" que chegamos a testemunhar um filme coreano participar dos principais prêmios do Oscar como foi no caso de "Parasita" (2019) e se tornando o primeiro filme estrangeiro a conquistar o principal prêmio daquela noite. Por fim, tudo se deve a iniciativa de Tarantino em enxergamos um cinema que vai muito além do que os gringos nos oferecem e temos mais do que agradecer por isso.

"Oldboy" é um dos melhores e mais importantes filmes do início do século 21, por ser brutal, filosófico, surpreendente e culminando na onda cinematográfica Coreana que perdura até nos dias de hoje.


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