sexta-feira, 30 de junho de 2023

Cine Especial: Revisitando 'Poltergeist - O Fenômeno'

Eles Estão Aqui  

Quando eu era pequeno os meus pais e eu ouvíamos bastante a "Rádio Farroupilha AM" e da qual era apresentada pelo até então radialista Sérgio Zambiasi. Foi uma época que nunca me esqueço, pois era um tempo que a rádio tinha força maior, ao ponto que as narrações de futebol eram muito mais emocionantes do que assistir na tv. Por conta disso, quando o assunto era crimes e assassinato o clima era pesado e me assombrava sempre quando ouvia.

Quando Zambiasi contava a história sobre um determinado crime uma assustadora trilha sonora começava a ser tocada e fazendo da situação um verdadeiro filme de terror. A trilha, por sua vez, era realmente pertencente a um filme e da qual foi criada pelo veterano compositor Jerry Goldsmith. Porém, eu sempre acreditava que a tenebrosa trilha pertencesse ao clássico "O Exorcista" (1973), já que ela era sempre tocada quando o filme era anunciado que seria exibido na tv na época.

Fui somente assistir ao clássico de William Friedkin em 1998, quando a obra estava completando vinte e cinco anos de vida e teve até mesmo um especial no programa do Fantástico. Quando eu era pequeno os meus pais me proibiam de assistir ao filme, pois achavam que o longa era amaldiçoado ou algo do gênero. Ao assistir escondido em VHS, para o meu espanto, aquela trilha sonora não pertencia àquele clássico, mas então de qual filme?

Por coincidência, no mesmo período, eu decidi alugar também ao clássico "Poltergeist - O Fenômeno" (1982) para finalmente assisti-lo e foi aí que descobri que a trilha sonora que tanto me assombrou quando eu era criança pertencia a esse filme. Grande sucesso de público e da crítica na época, o longa adquiriu prêmios, continuações e ganhando até mesmo fama de amaldiçoado, mas isso falarei mais adiante. Curiosamente, o filme foi dirigido por Tobe Hooper, mais conhecido pelo seu clássico "O Massacre da Serra Elétrica" (1974), mas quem assisti ao filme hoje achará que é de Steven Spielberg.  

O Mestre em Cena?  

Impedido de dirigir o longa, pois estava ocupado dirigindo o seu clássico "ET" (1982), Spielberg era produtor e roteirista do filme, mas deu a missão de dirigir para Tobe Hooper, o que não quer dizer muita coisa. Verdade seja dita, embora o cineasta tenha dirigido as cenas, nos passa uma sensação mais do que obvia de que todo o filme foi rodado pelo pai do ET, pois todas as suas fórmulas de sucesso estão lá, desde ao retratar uma típica família norte americana, como também vermos a mesma se meter em uma situação inexplicável. Curiosamente, o filme foi inspirado bastante com um episódio da série de TV americana "Twilight Zone" chamado "Little Girl Lost", que teria servido de inspiração para a obra.

Ao ser um projeto de Spielberg de cabo a rabo o realizador fez questão também de inserir elementos que eram o assunto no momento daqueles tempos. Só de pegarmos como exemplo o quarto das crianças você verá inúmeras referencias da franquia "Star Wars" e da qual era pertencente ao George Lucas e grande amigo de Spielberg. É um filme que sintetiza a visão do realizador com relação a família politicamente correta norte-americana daqueles tempos, ao menos era isso que os EUA queriam sempre passar para nós e para o restante do mundo.

Uma vez que se coloca essa família fora de sua zona de conforto é então que o filme ganha forma e cujos os elementos sobrenaturais surgem em cena. Não há como negar que na parte técnica o longa não envelheceu quase nada, já que eram efeitos visuais práticos, mas que nos passavam muito mais verossimilhança do que esses efeitos em CGI que se tem hoje em dia. Em uma determinada cena, por exemplo, vemos um personagem começar arrancar a  pele do seu rosto, sendo que a cena é horripilante e toda realizada com a bom e velha maquiagem.

Mas o ápice dos efeitos visuais da época é justamente a cena em que a mãe, interpretada pela atriz JoBeth Williams, é atacada por um espírito maligno e que começa a jogá-la na parede e no teto do quarto. A cena foi rodada em um grande cenário giratório e cuja ideia Spielberg se inspirou no clássico "Núpcias Reais" (1951), do qual Fred Astaire cantava e dançava no teto e nas paredes em uma cena surpreendentemente sem cortes. A ideia, por sua vez, foi reaproveitada por David Cronenberg no seu clássico "A Mosca" (1986).  

Grande Elenco 

Do elenco principal, destaque para a veterana Beatrice Straicht, que anos antes havia ganhado um Oscar pelo seu desempenho em “Rede de Intrigas” (1976) e aqui ela interpreta uma especialista sobre manifestações paranormais e da qual ela é convocada para ajudar a família. Porém, da ala dos coadjuvantes, quem realmente se destaca é Zelda Rubinstein, atriz que tinha apenas 1, 30m de altura, mas possuía uma presença forte em cena ao dar vida a vidente que também entra no cenário dos acontecimentos da trama. Um elenco em que cada um deu tudo de si nas cenas e fazendo da obra uma experiência inesquecível. 

Amaldiçoado?  

Assim como o clássico "O Exorcista" o filme também sofreu a fama de ser amaldiçoado pois durante e após o lançamento da produção situações aconteceram para que ocorresse isso.  Um dos maiores combustíveis para a especulação sobre uma suposta maldição envolvendo os filmes de Poltergeist vem das trágicas mortes de membros do elenco. A primeira delas foi o assassinato da atriz Dominique Dunne em 4 de novembro de 1982. Dunne interpretou Dana, a filha mais velha dos Freeling, no primeiro Poltergeist. Infelizmente, apenas quatro meses após o filme ter sido lançado, a jovem atriz de apenas 22 anos foi vítima de um feminicídio, sendo assassinada pelo ex-namorado que não aceitava o término da relação.

Chocando a todos e entristecendo os fãs, em fevereiro de 1988 a pequena Heather O’Rourke, que interpretava Carol Anne, faleceu subitamente aos 12 anos de idade. A atriz tinha apenas seis anos quando participou do primeiro Poltergeist e cativou os espectadores com seu olhar angelical. Infelizmente, em 1987 O’Rourke foi diagnosticada erroneamente como tendo Doença de Crohn. No ano seguinte, a jovem atriz voltou a adoecer, e dias depois sofreu uma parada cardíaca. Ela foi levada de helicóptero até um hospital infantil, mas infelizmente faleceu durante a cirurgia que tentava corrigir uma obstrução intestinal.

Uma das histórias mais bizarras é a de que foram usados esqueletos de verdade durante as filmagens da infame cena da piscina no primeiro filme e em algumas outras cenas da sequência de 1986, sendo que essa lenda urbana foi confirmada pela própria atriz  JoBeth Williams. Mas engana-se quem acha que acaba por aí! Oliver Robbins, que interpretava Robbie, o filho do meio dos Freeling, quase foi estrangulado pelo assustador palhaço de brinquedo do primeiro filme. Durante as filmagens desta icônica cena, o animatrônico teve um mau funcionamento e apertou tão forte o pescoço do jovem ator que ele quase foi sufocado. Há boatos de que foi o produtor Steven Spielberg quem percebeu o que estava acontecendo e salvou Robbins.

Tudo isso é claro serviu para aumentar mais a aura de mistério do filme como um todo, mas mesmo que não houvesse tais acontecimentos o longa de uma forma ou outra se tornaria um grande sucesso. Segundo as próprias palavras de Steven Spielberg "ET" era uma representação de tudo que ele mais amava e "Poltergeist" era tudo o que ele mais temia na vida. A meu ver, o realizador usou os seus sentimentos como artificio para criar dois dos maiores sucessos do início de sua carreira.

Mais de quarenta anos depois "Poltergeist - O Fenômeno" ainda é um dos filmes mais assustadores da história e que assombrou muitos como eu antes de assistir a obra. 

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