sábado, 24 de junho de 2023

Cine Especial: 'Jurassic Park - 30 Anos Depois'

Embora a minha paixão pelos filmes tenha começado pra valer nos meados dos anos noventa eu desde o princípio queria ver determinados títulos nos cinemas, mas não tinha assim tanta liberdade no início da vida. Na época era os meus pais que me levavam ao cinema e a maioria dos títulos que a gente assistia na tela grande era os filmes dos Trapalhões. O ano de 1993, por exemplo, meus pais me levaram para assistir "Dragão - A História de Bruce lee" (1993) no saudoso Cine Imperial da rua das Andradas de Porto Alegre.

Porém, na outra sala estava estreando aquele que mudaria a história do cinema dali em diante. Dias antes, porém, eu estava assistindo ao Jornal Nacional onde foi noticiado que um cientista havia revelado a chance de reproduzir um dinossauro através de um sangue que estava preservado dentro de um mosquito fossilizado. Tudo é claro não passou de uma brincadeira para promover "Jurassic Park" (1993), o filme de Steven Spielberg que revolucionária os efeitos visuais e que a partir dali tudo seria possível no mundo da sétima arte.

Baseado na obra de Michael Crichton, o filme se passa em um parque construído por um milionário (Richard Attenborough), que tem como habitantes dinossauros diversos, extintos a sessenta e cinco milhões de anos. Isto é possível por ter sido encontrado um inseto fossilizado, que tinha sugado sangue destes dinossauros, de onde pôde-se isolar o DNA, o código químico da vida, e, a partir deste ponto, recriá-los em laboratório. Mas, o que parecia ser um sonho se torna um pesadelo, quando a experiência sai do controle de seus criadores.

Steven Spielberg sempre foi um contador de histórias fantásticas, mas nunca deixou de colocar boas doses de realismo em seus projetos ao longo do percurso. Com a obra de Michael Crichton em mãos, o cineasta teve a brilhante ideia de fazer uma aventura que trazia ao mesmo tempo um debate sobre até que ponto é correto o ser humano brincar de Deus e ter a ousadia de trazer animais extintos há milhares de anos. O resultado é um filme cheio de aventura, suspense, mas que nos faz pensar do começo ao fim dessa jornada.

A tarefa para levar essas criaturas de forma verossímil para as telas do cinema não foi das tarefas mais fáceis. Claro que no passado isso já havia acontecido, mas com o uso de animatrônicos, ou com o velho e bom Stop motion. Neste último caso, por exemplo, a técnica seria usada na recriação dos dinossauros, mas o mais próximo do realismo possível e sendo algo do que já havia sido visto em "Jasão e o Velo de Ouro" (1963). Porém, ninguém contava com a genialidade da Industrial Light & Magic.

Dois anos antes, James Cameron havia impressionado o mundo com o seu "O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final" (1991) onde nos foi apresentado o vilão 1-000 e do qual o mesmo era apresentado inúmeras vezes em efeito digital. Até aquele momento Spielberg estava mais do que satisfeito em fazer dos seus dinossauros em stop motion, porém, ele decidiu chamar os seus técnicos em realizar um curta usando a tecnologia da Industrial Light & Magic e que havia sido posto em prática no último filme de James Cameron. A cena, aliás, é o T-Rex andando como se estivesse caçando na floresta e partir daquele momento tudo mudou.

Pela primeira vez na história testemunhamos dinossauros realistas ao extremo, ao ponto de algumas pessoas terem ficado até desconfiados na época achando que eles foram realmente revividos. Essa revolução é sentida no primeiro vislumbre de um Braquiossauro e do qual deixaram os personagens Dr. Alan Grant (Sam Neill), Dra. Ellie Sattler (Laura Dern) e Ian Malcolm (Jeff Goldblum) estupefatos. Curiosamente, o impacto de realismo da cena é tão grande que os próprios intérpretes não foram capazes de nos transmitir os seus respectivos personagens realmente impressionados perante algo impossível, pois os próprios efeitos visuais naquele momento deixaram eles em segundo plano.

Isso também gerou inúmeros debates com relação ao futuro dos próprios intérpretes daquela época, sendo que alguns temiam até mesmo na possibilidade da criação de atores digitais para substituírem os reais futuramente. De imediato isso não aconteceu, mas logo a seguir se temeu o fato que o realismo dos filmes, graças aos efeitos visuais de ponta, seria uma espécie de semente que germinaria e daria certos problemas para o futuro com relação ao que é real ou falso. Uma pequena mostra disso se daria logo a seguir em "Forrest Gump" (1994) e onde vemos o protagonista contracenar com celebridades que até mesmo já haviam falecido.

Polêmicas à parte, por melhor que fosse os efeitos visuais, isso não funcionaria se o filme não fosse comandado por um ótimo diretor e Steven Spielberg provou que era o homem certo na hora certa. Além das habituais formas de filmar de sua autoria, Spielberg teve a proeza de criar verdadeiras aulas de suspense e das quais não se deve nada ao mestre Alfred Hitchcock. Se ele estivesse vivo com certeza lançaria um largo sorriso.

Há pelo menos duas cenas que merecem realmente destaque, sendo uma protagonizada pelo T-Rex e a outra pelos velociraptores. Na primeira, por exemplo, testemunhamos o rei dos dinossauros destruindo a rede elétrica, atacando os carros elétricos e colocando em risco a vida dos protagonistas. Curiosamente, não há trilha sonora alguma, pois o próprio barulho e o rugido da criatura já nos deixam com o coração pra fora da boca.

Ao mesmo tempo, Steven Spielberg foi engenhoso na apresentação do enorme personagem, sendo que ele é apresentado de forma gradual e muito bem-feita. A cena em que vemos o estrondo de suas pisadas e fazendo os copos dentro carro tremerem são dignas de nota e já nos preparando para o verdadeiro terror que viria em seguida. Já a cena dos  velociraptores é outra grande joia do suspense, já que as crianças da trama são presas fáceis para as criaturas e fazendo com que cada cena se torne angustiante na medida em que a trama avança.

Sucesso gigantesco em todo o mundo, o filme se tornou a maior bilheteria de todos os tempos e sendo somente batido pelo megassucesso de James Cameron "Titanic" (1997). O filme renderia duas boas continuações e uma nova trilogia que havia se encerrado no ano passado, mas nenhum capítulo superou o grande clássico, pois dificilmente um relâmpago cai duas vezes no mesmo lugar. A partir dali o cinema abriria as portas para diversas possibilidades, desde ao testemunharmos o universo expandido de "Star Wars" como também das diversas adaptações de HQ e que somente foi possível graças aos avanços tecnológicos.

"Jurassic Park" é aquele clássico que mudou as engrenagens de se fazer filmes para o cinema e cuja mudanças são sentidas até hoje em dia.


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