terça-feira, 16 de maio de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'A Primeira Morte de Joana'

Sinopse: Joana, 13 anos, quer descobrir por que sua tia-avó faleceu aos 70 sem nunca ter namorado. Ao encarar os valores da comunidade em que vive no sul do Brasil, ela percebe que todas as mulheres da sua família guardam segredos. 

A descoberta da sexualidade na pré-adolescência gera uma cruzada para que o jovem possa compreendê-la. No recente "Close" (2022), por exemplo, vemos dois jovens amigos sentindo sensações que antes não sentiam um pelo outro, mas cuja “não aceitação” pelo que realmente sente pode desencadear danos irreversíveis. "A primeira Morte de Joana" (2020), fala sobre a descoberta de sentimentos ainda inéditos para a protagonista central, mas de forma singela e em meio ao conservadorismo hipócrita.

Dirigido por Cristiane Oliveira, do filme "A Mulher do Pai" (2017), o filme conta a história sobre Joana (Letícia Kacperski), que experimenta o típico período transicional entre a infância e a adolescência, que faz com que ela viva os questionamentos e reflexões mais variadas possíveis. Uma grande questão que passa por sua cabeça é entender por que sua tia-avó faleceu aos 70 anos sem nunca ter namorado alguém. Mas ao encarar os valores da comunidade em que vive no Sul do Brasil, ela percebe que todas as mulheres da sua família guardam segredos, o que traz à tona algo escondido nela mesma. E enquanto sua jornada fica cada vez mais repleta de dúvidas, uma grande usina eólica começa a ser construída na pequena cidade em que vive.

É interessante que Cristiane Oliveira cria um teor para trama que transita entre o lado singelo da juventude para momentos de tensão e fazendo parecer em alguns momentos até mesmo um suspense psicológico e do qual a sua trilha sintetiza muito bem isso. O filme, por exemplo, começa com um enterro, onde Joana se despede de sua tia-avó, mas despertando nela um desejo em realmente conhecê-la, mesmo depois dela ter partido de forma repentina. A lado de sua melhor amiga Caroline (Isabela Bressane) ela começa uma jornada de alto descobertas, mas ao mesmo tempo observando a realidade em sua volta de uma outra forma.

Embora muito jovem para a sua idade Letícia Kacperski surpreende em uma atuação digna de nota, ao nos passar para nós uma jovem inocente perante uma realidade mais complexa, mas que não esconde o seu desejo de entender o que realmente acontece em volta e dentro de si. O roteiro constrói para nós momentos em que ficamos na expectativa com relação se Joana realmente irá, ou não, se entregar ao seu verdadeiro "eu", mas até lá ela enfrenta o conservadorismo e o preconceito daquele universo isolado no interior do Sul do país. Porém, nota-se que essas duas observações nada mais são do que uma cortina de fumaça para não revelar os reais sentimentos daquelas pessoas, pois elas temem pelas consequências e não tendo coragem de serem felizes como realmente deveriam ser.

Percebe-se, por exemplo, quando Cristiane Oliveira foca em alguns objetos em cena para fazer deles algo simbólico sobre os sentimentos dos personagens principais. A cena em que vemos Joana e Coraline em um balanço e cuja suas mãos se encontram firmes na corrente do brinquedo simboliza o que prendem elas para não revelar os seus verdadeiros sentimentos. Além disso, há todo um misticismo em torno daquele lugar, como se o mesmo fosse uma forma de fuga para aquelas pessoas buscarem a felicidade, quando na verdade bastavam serem elas mesmas para obterem o que desejam desde o início da história. Ao final, vemos todo o conflito sendo resolvido de uma forma simples, pois a solução estava lá desde o princípio, mas faltava coragem e aceitar o obvio."A Primeira Morte de Joana" fala sobre se descobrir diante mesmo em meio ao preconceito e cuja jornada pode ser ainda mais simples do que se imagina.     


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