quarta-feira, 5 de abril de 2023

Cine Especial: Próxima Sessão do Clube de Cinema de Porto Alegre - 'Noites Alienígenas'

 Segue a programação do Clube de Cinema no próximo final de semana.

SESSÃO CLUBE DE CINEMA

Local: Cine Bancários, Casa dos Bancários

Data: 08/04/2022, sábado, às 10:15 da manhã

"Noites Alienígenas"

Brasil, 2022, 91 min, 16 anos


Direção: Sérgio Carvalho

Elenco: Gabriel Knoxx, Adanilo, Gleici Damasceno, Chico Diaz, Joana Gatis, Chica Arara, Bimi Huni Kuin, Duace.

Sinopse: "Noites Alienígenas" expõe uma Amazônia urbana, onde a ancestralidade dos povos tradicionais resiste à contemporaneidade que insiste em negar a floresta. Com elementos narrativos fantasiosos, o longa apresenta a história de três personagens da periferia de Rio Branco, impactados pelo conflito entre facções criminosas e pela violência urbana, que, nos últimos dez anos, quase triplicou o assassinato de crianças e jovens no Estado do Acre.

Em sua estreia mundial no Festival de Gramado, NOITES ALIENÍGENAS, de Sérgio de Carvalho, fez história. O filme se tornou o primeiro longa do Acre a ser premiado no evento, levando os Kikitos de Melhor Filme, Ator (Gabriel Knoxx), Atriz Coadjuvante (Joana Gatis), Ator Coadjuvante (Chico Diaz), Menção Honrosa ao ator Adanilo Reis, e o prêmio do Júri da Crítica.


Sobre o Filme: 

Se formos observar de perto o Brasil possui um cinema que se difere de outros países, já que cada região do nosso território possui uma realidade que se separa das outras. O cinema do Sul, por exemplo, nos soa diferente se formos compará-lo ao Nordeste, como se fosse países diferentes e que cuja raízes são individuais e com muita história para se contar. Por conta disso, é notório que chega ser bem difícil dizer se o país teve várias fazes diferentes do seu cinema ou se cada região possuiu uma linguagem própria ao longo das décadas.       

Porém, é raro ao testemunharmos o nascimento de um primeiro filme de um determinado território, mas é isso que acontece com "Noites Alienígenas". Primeiro longa metragem produzido no Acre, o que faz elevar ainda mais a nossa curiosidade sobre se esse será o primeiro de muitos daquela região. Contudo, o longa não se limita somente sobre isso, ou pelo fato de ter sido o grande vencedor de Gramado no ano passado, mas ao falar sobre elementos circunstanciais que permeiam aquela região já algum tempo.   

Não há, por exemplo, um protagonista, mas sim diversos rostos que são jogados na tela e sendo que cada um possui o seu peso dramático.  Um deles se chama Riva (Gabriel Knoxx), um grande artista plástico, mas que se vê amarrado e puxado para o mundo do tráfico que está assolando cada vez mais aquela região. Já Alê (Chico Diaz) é uma figura curiosa, criada em tempos que usava drogas para expandir a sua mente e acreditar que essa realidade se encontra alinhada por outra desconhecida e da qual nos observa. Protagonizando a abertura do filme, Chico Diaz coloca o filme no seu bolso e fazendo com que desejamos que ele surja cada vez mais na trama.   

Porém, a trama se concentra mais em Riva que, ao lado de outros jovens personagens, testemunhamos uma geração perdida no mundo das drogas, além de não obterem muitas oportunidades durante a vida. O roteiro assinado por Camilo Cavalcanti, Rodolfo Minari e Sérgio de Carvalho não permite que nenhum personagem se torne secundário, já que cada um se torna alguém crucial para os atos e consequências dos demais. Por conta disso nos damos conta do real cenário daquele lugar, onde a miséria e a falta de esperança fazem com que os mesmos se enveredem para um caminho onde não há retorno.     

Assim como o recente "A Mãe" (2022), testemunhamos a criminalidade se apresentando a jovens periféricos como o último recurso, mas fazendo disso um verdadeiro pesadelos para as mães que enxergam a possiblidade de não verem mais os seus filhos. Ao criar isso, Sérgio de Carvalho consegue obter a nossa atenção do começo ao final do longa, já que os personagens são realistas e próximos a nossa realidade muito mais do que a gente imagina. Porém, há também uma preocupação destacar o aspecto da região, principalmente quando envolve o universo indígena e cujos mistérios dessa cultura se tornam a única força para combater o caminho da perdição do mundo das drogas para determinados personagens da trama.    

Com total naturalismo, o realizador roda o filme como se fosse uma espécie de documentário, já que a maioria dos personagens atuam com naturalidade e não passando para nós a sensação que estão diante de uma câmera. Isso me fez lembrar do genial "A Vizinhança do Tigre" (2014), onde a realidade dura das periferias fazia com que as chances de um jovem não obter o seu amanhã se tornasse cada vez maiores. A gente só volta a se lembrar que estamos diante de uma ficção graças a Chico Diaz, mas sendo algo proposital, já que o seu personagem possui um desejo de não se limitar aquela realidade.     

Há também um contraste de gerações colocada em pauta durante a trama, onde vemos jovens cada vez mais perdidos em seus erros, mas os adultos já se encontram há muito tempo carregando as cicatrizes dos seus próprios erros, mas se tornando um laço para puxar aqueles que ainda podem ser salvos. Há, portanto, um atrito das velhas tradições perante o mal presente que se encontra naquela realidade e isso é muito bem representado por Gabriel Knoxx e Adanilo Reis, já que o primeiro vive entre a arte e o banditismo enquanto o outro carrega no corpo todas as tradições dos seus antepassados e se tornando uma segunda chance para alguns naquele cenário. 

Curiosamente, a ausência da figura paterna se torna uma peça fundamental para que aqueles personagens se percam neste labirinto infernal de dúvidas e tristezas. Por conta disso, a possiblidade desses jovens em serem pais se torna uma situação no mínimo devastadora, já que não crescerão tendo uma noção do que é criar uma vida e deixando os pequenos na possiblidade de crescerem sozinhos sem um guia. Ao final, constatamos que os personagens não procuram uma saída concreta, mas sim algo que vai levá-los ´muito além do que se espera, mas tendo sérias consequências e culminando com um dos finais mais interessantes do nosso cinema recente.  

"Noites Alienígenas" fala sobre um universo particular que se encontra Acre e cabe o restante do país em furar as suas bolhas individuais para que possam finalmente enxergar o que acontece por lá.   

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