sábado, 11 de fevereiro de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'Pearl'

Sinopse: Presa na fazenda isolada de sua família, Pearl deve cuidar de seu pai doente sob a vigilância amarga e autoritária de sua mãe devota. Desejando uma vida glamourosa como viu nos filmes, as ambições, tentações e repressões de Pearl colidem. 

Ti West vem chamando atenção com os seus filmes de orçamento limitado, porém, com grande conteúdo em que presta homenagem ao cinema de horror  "Slasher". O seu último filme, "X" (2022) foi sem sombra de dúvida uma homenagem a esse subgênero e que lança perante aos nossos olhos a assustadora idosa assassina chamada Pearl, que queria a todo custo assassinar os jovens que queriam rodar um filme pornô e ao mesmo tempo obter os seus prazeres carnais que tanto foram retidos em tempos mais conservadores. Mas eis que o diretor lança uma luz sobre o seu passado e aí que chegamos a “Pearl" (2022), filme que não somente retrata a origem da personagem como também é um verdadeiro estudo sobre a construção do lado sombrio de uma mente humana.

O ano é 1918, e a jovem Pearl, novamente interpretada por Mia Goth, está obcecada em se tornar famosa. Presa na fazenda isolada de sua família, Pearl se vê obrigada a cuidar de seu pai doente, e viver sob a vigilância constante de sua amarga e autoritária mãe devota (Tandi Wright). Desejando uma vida glamourosa como ela vê nos filmes, Pearl encontra suas ambições, tentações e repressões entrando em conflito. Nesta história da origem da icônica vilã de “X”, quando o sonho de ser finalmente uma estrela é negado a ela, ela começa a assassinar, até alcançar o que deseja.

Filmado em segredo pelos realizadores, o filme é uma parábola sombria da era de ouro do cinema, onde a obra é apresentada da maneira como os longas eram vistos naqueles tempos, desde as suas letras garrafais, como também uma fotografia que nos lembra os primeiros anos do technicolor, além de uma trilha sonora que nos passa a sensação de positividade em uma época cheia de promessas.  Tudo isso remete ao clássico "O Magico de Oz" (1939), onde vemos a menina Dorothy (Judy Garland) cantando uma música da qual ela deseja um lugar melhor do que aquele na fazenda do qual ela morava. Pearl deseja sair da sua fazenda para realizar os seus sonhos dourados em querer ser atriz e dançarina no mundo do cinema, porém, diferente do furacão mágico que levou Dorothy do seu mundo, aqui não há fantasia para que os seus desejos sejam realizados.

A protagonista vive uma vida de isolamento na fazenda, onde é acompanhada pela sua mãe rígida e conservadora, além de ter que cuidar de um pai que se encontra enfermo. Enquanto isso, o seu futuro marido se encontra em combate durante a 1ª Guerra Mundial, além do fato da sociedade estar sendo assombrada pela pandemia da gripe Espanhola. Qualquer semelhança com a pandemia atual do Covid não é mera coincidência, já que ambas as épocas são uma síntese do medo em que a sociedade estava sentido naquele momento, mas ao mesmo tempo sendo alimentados pelos sonhos e promessas do sistema norte americano, mas dos quais não eram para todos.

Pearl é uma sonhadora, da qual deseja alcançar os seus objetivos, mas quanto mais eles não são alcançados mais logo ela se sente frustrada e logo descontando a sua dor contra animais e, posteriormente, nas pessoas próximas. A construção desse lado sombrio de sua pessoa é gradual, como se no fundo ainda sentimentos que há ainda ali uma pessoa boa e da qual irá dar a volta por cima. Porém, o seu mundo real é implacável e do qual irá faze-la perder a razão ao longo do percurso.

Se por um lado "x" era um filme mais sangrento para dizer o mínimo, aqui a situação é inversa, pois a violência acontece, porém, de forma isolada e de pura explosão vinda da própria protagonista. Até lá, o verdadeiro horror se concentra no olhar de desespero de Pearl, como se ela desejasse que alguém a puxasse para fora de sua realidade, mas sendo recusada partir do momento em que ela apresenta a sua instabilidade. Tudo isso poderia acontecer de uma forma superficial, mas logo percebemos que tudo vai mais além e isso se deve atuação assombrosa de Mia Goth. 

Se alguém tinha dúvidas sobre o talento dessa jovem atriz, mesmo quando a mesma havia dado vida a idosa Pearl e Maxine no filme anterior, logo essa incerteza é eliminada a partir do momento em que olhar de sua personagem cheio de cicatrizes emocionais se sobressaem e se revelando alguém instável contra si mesma e contra aqueles em volta dela. Não há como não se emocionar, por exemplo, no extenso monólogo sem corte do qual ela revela a sua verdadeira história, sua dor, para logo em seguida ser ignorada pela sua cunhada, pois a mesma teme pela sua própria vida. Uma cena digna para o Oscar, mas sendo ignorada pelos membros da academia e se tornando uma grande injustiça.

"Pearl" é uma espécie de "Crepúsculo dos Deuses" do século 21, pois é uma obra que nos dá medo, desperta em nós diversas reflexões profundas e possuindo um dos minutos finais mais perturbadores da última década. 

   


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