quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Cine Dica: Em Cartaz - 'Encontros'

Segue a programação do próximo final de semana.

SESSÃO CLUBE DE CINEMA

Local: Sala Eduardo Hirtz, Cinemateca Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana

Data: 17/12/2022, sábado, às 10:15 da manhã


"Encontros" (Inteurodeoksyeon)

Coreia do Sul, 2021, 66 min, 14 anos

Direção: Hong Sang-Soo

Elenco: Shin Seok-ho, Park Mi-so, Kim Young-ho, Kim Min-hee

Sinopse: Três histórias são interconectadas por meio de apresentações e encontros. Em todas, o protagonista é o Young-ho, que vive situações decisivas em sua vida – a partir das relações com o pai, com mãe e com a namorada. Filmado e preto e branco, o longa reforça a proposta do diretor em refletir sobre a vida.


Sobre o Filme: 

Quando eu falo sobre Hong Sang-Soo eu sempre digo que ele se tornou o queridinho daqueles cinéfilos que frequentam uma cinemateca em busca de algo que foge dos padrões tradicionais do cinema. Curiosamente, é um diretor que tem lançado até mesmo dois ou três filmes ao ano, sendo que em 2022 ele já havia desembarcado por aqui com o seu "A Mulher Que Fugiu". Oito meses já se passaram e novamente encontramos um novo título do cineasta nos cinemas chamado "Encontros" (2021), onde novamente ele usa e abusa de sua autoria e nós fãs temos mais do que agradecer pela sua teimosia.

“Encontros” é um longa separado por três episódios, cada um diferente do outro, mas todos falando da mesma pessoa. No primeiro, Youngho (Shin Seokho) visita a clínica oriental de seu pai, que está cuidando de um paciente famoso. No segundo, Juwon (Park Miso), sua namorada acabou de chegar na Alemanha com sua mãe para estudar fora do país, ela então recebe uma ligação de seu namorado, Youngho, falando que ele foi para o país junto com ela. No terceiro, Youngho vai com seu amigo a um lugar onde sua mãe e um ator idoso de teatro comem na praia.

Como foi dito acima, o filme é dividido em três atos envolvendo os mesmos personagens, só que, curiosamente, a linha narrativa é não linear e fazendo a gente não saber ao certo quando se passa cada ponto especifico da trama. Hong Sang-Soo possui essa predileção narrativa pra que, talvez, possamos prestarmos mais atenção em cada detalhe especifico e para que possamos liga-lo em alguma passagem posterior ou anterior da trama. Em um determinado momento, por exemplo, um personagem para em frente de uma poça d'água e fazendo a gente se perguntar se essa passagem é importante ou não para dentro da história.

Mas se você for um marinheiro de primeira viagem e achar que isso é um tanto que complicado de compreender a história saiba que o realizador foi ainda mais longe do que se imagina, pois basta pegarmos como exemplo "A Visitante Francesa" (2012) e "Certo Agora, Errado Antes" (2015) para ter uma ideia de sua ousadia na forma de se contar histórias. Aqui a situação é um tanto que mais simplista, mesmo quando ele foge dos padrões tradicionais, pois há também os ingredientes que ele sempre usou em suas obras anteriores que nos soa familiar, desde ao vermos personagens conversando sobre situações comuns como também os mesmos estarem desfrutando de uma bebida e cigarros em um dia qualquer. É uma forma de convidar a pessoa a embarcar em uma trama curiosa de forma descompromissada, mas que logo a mesma vai se dando conta que está fora do cenário comum de se assistir um longa.

Curiosamente, Hong Sang-Soo gosta também de falar sobre si, desde ao nos dizer de como ele enxerga o mundo em sua volta como também sobre a sua vida profissional e amorosa. Quando vemos, por exemplo, um veterano da interpretação explodindo em um diálogo dentro de uma cafeteria, logo deduzimos que não é o personagem que fala em si, mas sim o realizador que passa a sua ideia através de sua criação. Uma espécie de desabafo que ele faz com relação a forma torta como determinadas pessoas enxergam com relação ao universo da atuação e nisso o realizador tira de letra com a sua mensagem principal.

Ao final, constatamos que o diretor fala sobre pessoas comuns que seguem em frente com as suas vidas mesmo tendo perdido algo pelo caminho, mas que, aos poucos, vão se reencontrando em algum ponto qualquer pelo mundo. O final nos faz a gente se perguntar aonde começa e aonde termina exatamente a trama, mas isso é o que menos importa, pois, a sensação de levarmos conosco obra para o lado de fora do cinema é mais do que compensatória. "Encontros" é Hong Sang-Soo novamente nos pegando desprevenidos, mas criando em nós o desejo de retornarmos ao seu mundo. 


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