quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Cine Dica: Em Cartaz: 'A Crônica Francesa'

Sinopse: Três histórias se passam na redação de um jornal americano na França, The French Dispatch. 

Wes Anderson é pertencente a um grupo de cineastas norte-americanos que brigam contra a extinção, ou seja, diretores autorais, com a sua visão pessoal na realização de filmes e que não se importam se isso renderá dinheiro ou não para os estúdios. Mas se isso é uma briga pessoal contra o sistema hollywoodiano que vive somente das cifras e pouco se importando com o que esses talentos por detrás das câmeras tem a dizer, por outro lado, isso é o suficiente para atrair grandes astros para trabalhar com esse determinado grupo, pois somente assim podem obter um trabalho mais significativo em seu currículo. "A Crônica Francesa" (2021) é um desses casos em que o filme tem muito a dizer, ao conseguir atrair um grande número de talentos e dos quais os mesmos possam nos brindar com grandes desempenhos.

"A Crônica Francesa" é um filme que serve como uma carta de amor aos jornalistas. Ambientada em um posto avançado de um jornal americano em uma cidade pacata fictícia na França do século XX, o filme traz à vida crônicas e coleções de histórias publicadas no jornal "The French Dispatch Magazine". O filme conta com grandes nomes de Hollywood que inclui Bill Murray, Tilda Swinton, Benicio Del Toro, Frances McDormand, Christoph Waltz, Anjelica Huston, Owen Wilson, Elisabeth Moss, Léa Seydoux,  Edward Norton,  Timothée Chalamet e Saoirse Ronan.

Só pela lista de grandes talentos citados acima já é mais do que o suficiente para assistir ao filme. Porém, esses grandes talentos, por mais que estejam ótimos em seus respectivos papeis, o grande astro da obra acaba sendo o próprio Wes Anderson, do qual o mesmo coloca em prática toda a sua forma de filmar de uma maneira gostosa de se assistir e que faz a gente não desejar que a história acabe, pois já estamos mais do que enfeitiçados por ele. Como sempre, o visual do conto é sempre colorido, com os seus tons pasteis vibrantes e cuja a fotografia sintetiza uma realidade cartunesca e sedutora na medida certa.

Acima de tudo, acompanhamos as histórias de jornalistas que são atraídos por histórias, por vezes, absurdas, mas que fala sobre uma realidade caótica e não muito diferente da nossa. São personagens inocentes, porém, que se tornam sarcásticos para conseguirem sobreviver perante um mundo cheio de informações, conflitos, corrupções e cujo os talentos acabam por se tornarem mercadorias para que poderosos posam usufruir de algum lucro. É o filme mais político do realizador, que por vezes lembra os melhores momentos de Jean-Luc Godard, porém, com toda forma de Wes Anderson.

Curiosamente, o filme é quase vertiginoso, ao ponto de quase não dever nada para um filme de ação, mas que aqui as cenas são realizadas com tamanha criatividade e talento que ficamos assombrados. Se n0 "O Grande Hotel Budapeste" (2014) ele já havia provado isso, aqui a potência aumenta, tanto nas cenas de lutas, como também nas cenas de perseguições, mas das quais nunca são feitas da forma tradicional, mas sim com todos os recursos que o cinema pode oferecer e sendo moldado por Anderson de sua maneira e quebrando as nossas perspectivas tão acomodadas pelo cinemão hollywoodiano. Se por um lado uma luta entre prisioneiros e artistas tem suas cenas congeladas enquanto a câmera passeia pelo cenário animalesco, do outro, a perseguição de carros sendo moldada em um desenho tradicional se torna, talvez, o maior trunfo da obra como um todo.

Resumidamente, Wes Anderson presta uma bela homenagem a uma profissão que hoje periga entrar em extinção, já que ele aborda uma época mais poética do jornalismo, cujo os mesmos se mostravam imparciais e buscavam a fundo histórias verossímeis, porém, surpreendentes. Infelizmente em tempos de internet onde todos querem dar uma de jornalista, mas cujo o conteúdo, em muitos casos, não passam de fake news para distorcer os verdadeiros fatos e fazendo de uma sociedade cada vez tendo menos capacitada de separar o que é mentira e história verdadeira. Portanto, a morte de um determinado personagem crucial dentro da trama, anunciado já no início do filme, simboliza muito bem esse meu pensamento.

"A Crônica Francesa" é o filme mais estético, político, ambicioso e delicioso de Wes Anderson.

 

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