quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Curral'

Sinopse: Em Curral, Joel é um advogado que está na disputa para eleição de vereadores na cidade de Gravatá, em Pernambuco. Ele decide convidar seu antigo amigo Chico Caixa (Thomás Aquino) para participar da campanha. 

O documentário "Camocim" (2018) de Quentin Delaroche se passava em Camocim de São Félix, um município pernambucano marcado pelas disputas em época de eleições. A cidade se divide em duas cores, vermelho e azul, onde as mortes faziam parte do enredo em tempos não muito distantes. Nesse local, o diretor Quentin Delaroche encontra uma jovem que se chama de Mayara Gomes, coordenadora da campanha limpa para eleger o seu amigo César como vereador da cidade.

Embora simples eu jamais me esqueci do documentário, pois nele mostra as entranhas de como se faz e se vence uma eleição, seja ela em maior ou menor grau. Em tempos em que a política anda fervilhando as nossas vidas nunca é demais saber como realmente funciona a propaganda e como se faz para persuadir as pessoas a votarem em determinado candidato. Seguindo uma linha mais ficção, porém, não menos realista, "Curral" (2021) procura colocar para fora o esqueleto escondido dentro do armário que determinados candidatos escondem quando se digladiam para obter o maior número de votos.

Dirigido por Marcelo Brennand, o filme conta a história de Joel (Rodrigo Garcia (II)) um advogado que está na disputa para eleição de vereadores na cidade de Gravatá, em Pernambuco. Ele decide convidar seu antigo amigo Chico Caixa (Thomás Aquino) para participar da campanha, angariando votos de um bairro simples do município através da promessa do fornecimento de água. Apesar de receoso, Chico aceita, mas se vê atravessado por forças conflitantes enquanto questiona a ética desse tipo de campanha.

O filme possui ares de um quase documentário, já que a maioria dos atores que surgem na tela eles estão representando eles próprios em seu dia a dia naquela cidade e não escondendo o lado precário de suas realidades. Porém, a transição do lado quase documentário vai acontecendo na medida em que a trama é conduzida através dos personagens principais e dos quais são interpretados por atores de grande calibre. Conhecido pelo seu desempenho em "Bacurau" (2019) Thomas Aquino carrega o filme nas costas, ao interpretar um bom samaritano da comunidade, mas que não esconde as suas ambições de mudar de vida muito em breve.

Quando surge a oportunidade, vemos o personagem transitar entre o bom senso e pela falta de caráter, principalmente em situações em que vemos o mesmo pagar para os eleitores para assim obter voto para o seu amigo advogado Joel. Esse último, aliás, não esconde a sua ambição de subir na vida, mas tão pouco disfarça as suas fraquezas e os momentos em que enfrenta os seus demônios interiores na medida em que a eleição se torna cada vez mais complexa. Porém, Chico busca não se vender por completo a esse sistema, mas sabendo que não há mais um caminho para que ele volte a ser o que era, principalmente ao descobrir o lado podre da eleição assim como também a real face dos dois lados da disputa.

Com pouco mais de uma hora e vinte o filme jamais perde o seu ritmo, principalmente por dosar alguns pontos que envolve até certo suspense sobre o que irá acontecer em determinados momentos. Não deixa de ser surpreendente, por exemplo, um plano-sequência que ocorre dentro do carro, do qual dois personagens centrais testemunham compras de votos através de promessas que quase jamais serão cumpridas. São momentos como esse em que o longa nos prende do começo até o final da projeção e cujo o ato final todos os dilemas dos personagens principais são transbordados para fora do copo e cabe os mesmos aceitarem as consequências dos seus atos.

"Curral" é um pequeno pingo de uma grande tempestade sobre o que move as grandes eleições por todo esse país e sobre até onde a pessoa se vende por esse sistema já viciado e desacreditado. 


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