sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'O Homem Que Vendeu Sua Pele'

Sinopse: Sam Ali (Yahya Mahayni), um jovem e impulsivo sírio que deixou seu país, pelo Líbano, para escapar da guerra. Almejando viajar para a Europa e viver com o amor de sua vida, ele aceita ter suas costas tatuadas por um dos artistas contemporâneos. 

Recentemente foi debatido em uma live em que eu participo sobre o filme "O Tigre Branco" (2021), do qual vemos um protagonista humilde da Índia se transformar radicalmente para sobreviver ao sistema capitalista do mundo. Nos últimos tempos o cinema vem nos brindado cada vez mais com protagonistas que, ou desafiam o sistema, ou se entregam a ele para sobreviver em tempos em que a complexidade da realidade é tanta que se torna uma causa perdida para tentar entende-la. "O Homem Que Vendeu Sua Pele" (2019) talvez venha a ser o ápice sobre tempos de hoje em que o cidadão comum acaba se vendendo em uma situação absurda, porém, não muito distante da nossa própria realidade.

Dirigido por  Kaouther Ben Hania, "O Homem que Vendeu sua Pele" é a história de Sam Ali (Yahya Mahayni), um jovem e impulsivo sírio que deixou seu país, pelo Líbano, para escapar da guerra. Almejando viajar para a Europa e viver com o amor de sua vida, ele aceita ter suas costas tatuadas por um dos artistas contemporâneos mais cultuados do mundo, transformando seu próprio corpo em uma linda e prestigiosa obra de arte.

O filme em si é uma crítica ácida sobre o olhar que o restante do mundo tem com relação aos países da Ásia Ocidental, sendo que os mesmos sabem que há uma guerra civil ocorrendo na Síria, mas que trata os refugiados como gado para serem remodelados de acordo com os seus propósitos. Ao vermos o protagonista tentando se encaixar em uma sociedade cheia de regras movidas pelas cifras, logo percebemos que ele não excitará em se vender ao artista para se tornar uma obra de arte viva, nem que para isso possa lhe custar a sua própria alma. Aliás, as exposições em que o protagonista se submete me fizeram relembrar de uma cena crucial de "The Square - A Arte da Discórdia" (2018), sendo que ambos os filmes usam da arte uma forma para revelar o melhor e o pior lado do ser humano presente.

Kaouther Ben Hania, por sua vez, procura nos passar um tom quase animalesco da sociedade ocidental, da qual a mesma parece não temer mais em esconder que se vendeu aos números e fazendo do próximo um instrumento para arrecadar fundos. Por outro lado, o personagem Sam Ali desafia os seus limites na situação em que ele se encontra, ao ponto que o lado sarcástico efloresce nele aos poucos e rende situações imprevisíveis: a cena em que ele testa a perspectiva do ocidente com relação aos países da Ásia Ocidental é desde já um dos melhores momentos do cinema deste ano.

Na reta final, o filme se encaminha para uma espécie de dois finais distintos um do outro, como se fosse uma forma de agradar diferentes gostos. Se por um lado achamos em um primeiro momento que a trama terminará de uma maneira trágica, porém, realista, eis que os minutos finais o realizador nos prega uma espécie de grande pegadinha cinematográfica. Porém, se em um primeiro momento sentimos que os minutos finais traem a proposta principal da história, eis que os créditos de encerramento nos revelam algo interessante e fazendo a gente refletir o quanto esse mundo real é absurdo e na maioria das vezes mais imprevisível do que qualquer outra ficção que nós prestigiamos.

"O Homem Que Vendeu Sua Pele" nos coloca frente a frente a ideia de que nós somos peças de museu do sistema capitalista e cujo os engravatados nos compram para saciar os seus desejos absurdos.    


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