quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Cine Dica: Em Cartaz: 'Caminhos da Memória'

Sinopse: Nick Bannister (Jackman), um investigador particular da mente, navega o mundo sombrio do passado ajudando seus clientes a acessar memórias perdidas. Vivendo nas margens do litoral da Miami submersa, sua vida muda para sempre quando ele aceita uma nova cliente, Mae (Ferguson). 

Atualmente, as grandes produções da Hollywood se limitam a somente a franquias milionárias, sejam elas pelo universo bem sucedido do MCU, ou pelos filmes de ação como "Velozes e Furiosos", sendo que neste último caso eu não entendo como ainda hoje faz sucesso. Porém, há casos dos grandes estúdios como a Warner em querer arriscar em alguns momentos, mesmo quando o resultado corra o sério risco de não ser satisfatório. "Caminhos da Memória" (2021) é um raro caso da Hollywood atual em querer se arriscar, ao usar elementos que fizeram sucesso no passado e criando assim algo, no mínimo, curioso.

Dirigido e roteirizado por Lisa Joy, cocriadora da série "Westworld" (2016), a trama se passa em um futuro distópico no qual Miami sofreu severas consequências com o aquecimento global e tornou-se praticamente submersa, um investigador particular de Miami é uma das maiores referências quando se trata de recapturar memórias perdidas ou distantes e devolvê-las a seus contratantes. Mas quando ele percebe um conflito pessoal com uma de suas clientes, a situação torna-se complicada.

Lisa Joy foi o cérebro responsável pelo lado criativo da série "Westworld", onde o passado, presente e futuro se entrelaçam em vários momentos do programa e fazendo a gente se perguntar quando determinadas situações eram reais ou uma verdadeira mentira. A realizadora, portanto, usa essa ideia sobre memórias e cria um mosaico cheio de possibilidades em uma trama que mistura ficção, subgênero noir e moldando para nascer assim um scifi noir e bem ao estilo do clássico "Blade Runner" (1982).

Visualmente o filme é extraordinário, onde o realismo nos espanta ao nos apresentar uma Miami submersa bem ao estilo Veneza e se alinhando com uma tecnologia retro bem ao estilo do já citado filme de Ridley Scott. Cortesia do brilhante trabalho do designer de produção Howard Cummings, realizador que já havia criado visualmente possíveis futuros pessimistas, como no caso do profético "Contágio" (2011). Resta saber se um dia a sua visão com relação a esse futuro irá se concretizar ou não.

Quanta a trama em si ela possui elementos familiares que são rapidamente fisgados por qualquer cinéfilo que se preze. Temos a dama fatal misteriosa (Rebecca Ferguson), onde o detetive (Jackman) aceita o seu caso e logo se apaixona por ela. É neste ponto que o filme ganha ares do subgênero Noir, sendo que só faltava a fotografia em preto e branco como cereja do bolo. Porém, as referências não param por aí.

O filme toca em assuntos espinhosos de hoje em dia, principalmente com relação ao assunto que é com relação a nostalgia. Em tempos atuais cada vez mais complexos parece que temos um desejo cada vez maior de revisitar o passado e o filme explora muito bem isso. Ao apresentar uma tecnologia que coloca a pessoa relembrando e se colocando em algum ponto do passado, Lisa Joy fala sobre uma sociedade cada vez mais dependente, não somente com relação a lembranças mais felizes, como também ao fato de depender de uma tecnologia que cria uma realidade artificial e que nos joga para fora do mundo real.

Hugh Jackman se sai bem como protagonista, ao trazer elementos bem ao estilo Humphrey Bogart do clássico "Relíquia Macabra" (1941). Sua interação com Rebecca Ferguson pode até não ser das mais convincentes, porém, essa última carrega bem o fardo de representar as damas fatais dos filmes policiais de antigamente. Porém, Thandiwe Newton, uma das grandes protagonistas de "Westworld", rouba a cena em momentos surpreendentes e não devendo em nada para outras atrizes que se submetem as cenas de ação.

Neste último caso, as cenas de ação existem, mas jamais soam gratuitas e correspondem com a proposta principal da obra. Thandiwe Newton, por exemplo, se torna a protagonista de uma cena de ação em câmera lenta e sendo algo que eu via desde os bons tempos de filmes de ação de verdade realizados pelo cineasta Chines John Woo. Já o duelo entre Nick Bannister (Hugh Jackman) e Cyrus Boothe (Cliff Curtis) que ocorre em uma sala de música abandonada às pressas, com instrumentos jogados por todo lado e um pesado piano prestes a fazer o chão arruinado pela água ceder, se torna o ápice do filme como um todo.

O filme também não esconde a sua crítica acida sobre a divisão de classes desse curioso futuro, onde os bem afortunados ficam em suas mansões longe das águas enquanto as demais classes sobrevivem com o que tem em meio as enchentes. Tudo se alinhando com elementos que cada vez mais são discutidos atualmente e que fazem dessa visão futurística não muito distante da nossa. O final, por mais incrível que pareça, é bem anti-hollywoodiano e que merece ser aplaudido.

"Caminhos da Memória" é aquele típico filme que no início será mal compreendido pelo público e a crítica, mas que com o tempo poderá se tornar em uma pequena joia a ser cultuada. 


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