segunda-feira, 13 de julho de 2020

Cine Especial: 'A Origem' - 10 Anos Depois


Se inspirando sempre nos cineastas da velha guarda o diretor Christopher Nolan sempre evitou em usar os efeitos visuais em demasia, mesmo quando o recurso poderia lhe facilitar as coisas. Porém, "A Origem" é o seu primeiro grande filme com uso nítido de efeitos por computador, mas que, ao invés de somente entreter as plateias, os recursos se encontram ali para corresponder com a proposta principal da trama. Se em seu curta-metragem "Doodlebug" (1997), ou até mesmo em "Amnésia" (2001), Nolan explorava as inúmeras possibilidades de como funciona o nosso subconsciente, em "A Origem" ele obtém o ápice desse interesse, graças a uma trama criativa e com uso bem explorado de efeitos de ponta.
Acompanhamos a história de um grupo de ladrões profissionais liderados pelo personagem Cobb (Leonardo DiCaprio), cujo objetivo deles é roubar os principais segredos de pessoas poderosas através dos sonhos. Porém, Cobb recebe uma proposta tentadora do empresário Saito (Ken Watanabe), que é inserir uma ideia no herdeiro de um império econômico chamado Fischer (Cillian Murphy), e para assim ele repensar se deve ou não seguir os passos do seu falecido pai (Pete Postlethwaite). Para realizar este feito ele conta com a ajuda do parceiro Arthur (Joseph Gordon-Levitt), a inexperiente arquiteta de sonhos Ariadne (Ellen Page) e Eames (Tom Hardy), que consegue se disfarçar de forma precisa no mundo dos sonhos.
Se num primeiro momento a trama possa parecer simples, Nolan faz questão de criar elementos de um verdadeiro quebra cabeça que possa, num primeiro momento, confundir o cinéfilo que está assistindo e fazê-lo com que ele tenha uma atenção redobrada ao longo da projeção. Isso é obtido graças a uma edição fragmentada, mas que, diferente de "Amnésia", ela não está de trás pra frente, mas sim espalhada e representando as lembranças (ou sonhos) de Cobb (DiCaprio) que sofre pela perda da esposa Mal (Marion Cotillard). O problema que mal surge como uma projeção nos sonhos de Cobb, o que lhe dificulta, não somente nas missões, como também fazê-lo ter dúvidas com relação a sua própria realidade.
Cobb tem o desejo de reencontrar os seus filhos e que, caso cumpra o trabalho dado por Saito, ele retornará a revê-los. Curiosamente, as crianças sempre surgem, seja nas lembranças ou nos sonhos de Cobb, com os rostos nunca sendo revelados. As crianças então se tornam uma semente da dúvida que Nolan coloca no enredo e fazendo com que tenhamos dúvida até nos últimos momentos de projeção da obra.
Até lá, Nolan faz questão de que o cinéfilo caia de cabeça dentro da trama, ao ponto em que, em muitas passagens da história, os personagens ficam explicando a todo o momento como funciona o mundo dos sonhos e como eles entram neles. Na época do seu lançamento, alguns críticos acharam que o cineasta exagerou nas explicações, fazendo com que o público em geral não parasse por um momento para pensar, pois o cineasta tinha uma preocupação em querer que a gente entendesse a qualquer custo. Revisto hoje, se percebe que há uma transição do que nós sabemos sobre os sonhos no nosso mundo real para o gênero fantástico inserido dentro do filme, onde as explicações vistas na trama servem para que aja uma sensação de verossimilhança que tanto o cineasta injeta em suas obras.
Independente ou não de nos passar um enredo verossímil, Nolan, ao menos, foi feliz no uso de efeitos visuais. Aqui, eles sempre surgem não de forma gratuita, mas sim com que se correspondesse com o enredo visto dentro da trama. Se os personagens, por exemplo, flutuam ou testemunhamos quando os cenários são remodelados, tudo faz parte de um processo para que nos possa parecer como algo familiar, como se já tivéssemos visto algo parecido, por exemplo, em nossos próprios sonhos. Talvez o ápice desse casamento entre o lado técnico e história é quando os personagens transitam de um sonho para outro sonho, onde não somente os efeitos visuais são aqui necessários, como também nos exige uma atenção redobrada, principalmente com relação as três ou mais linhas narrativas que vão surgindo no decorrer da obra.
Sucesso de público e crítica, além de vencer quatro Oscar técnicos, Nolan teria carta branca novamente para fazer o que bem entender no seu próximo filme que, aliás, seria o encerramento de sua visão pessoal com o qual havia começado em Batman Begins.

Curiosidade: Embora o roteiro do filme A Origem seja da autoria de Nolan, sua originalidade possui certa dúvida até hoje. Em "The Dream of a Lifetime", HQ do célebre autor Don Rosa, os Irmãos Metralha utilizam uma nova tecnologia (desenvolvida pelo Professor Pardal) para penetrar nos sonhos do Tio Patinhas e descobrir a senha da Caixa-Forte. A trama foi publicada originalmente na Noruega em 2002, nos EUA em 2004 e no Brasil em 2003 (em Tio Patinhas #457) As semelhanças chegam inclusive à utilização dos totens, os objetos que os invasores de sonhos usam no filme como link com a realidade.

Nolan já disse, em entrevistas, que desenvolveu o primeiro conceito da história há aproximadamente dez anos, chegou a entregar um esboço à Warner e esperou ganhar experiência para realizar o filme. Coincidência ou não, vale a pena ler a HQ dos patos - disponível gratuitamente, em inglês, no site da Disney - e depois imaginar que Leonardo DiCaprio, no filme, está fazendo o papel do Pato Donald. 

Onde Assistir: DVD, Blu-Ray e Google Play Filmes. 

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