quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Cine Dica: Em Cartaz: 'Açúcar' - O desejo pela Senzala

Sinopse: Betânia é a herdeira de um engenho em estado de fogo morto, prestes a se transformar em ruínas. Ela resiste em vender o engenho, enquanto tenta reerguer a própria vida.

Após o golpe de 2016 se escancarou no Brasil uma divisão de classes que sempre estava lá, mas que ninguém ousava explicitar. Querendo ou não as elites sempre tiveram, e ainda tem, uma obsessão interna pelo retorno da Senzala, para não se verem mais invadidos e se sentirem todos donos da terra por completo. "Açúcar" é uma fábula contemporânea que trata sobre esse assunto de forma simbólica e que nos identificamos facilmente com ela.
Dirigido por Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira, o filme conta a história de Bethânia Wanderley, interpretada pela atriz Maeve Jinkings, do filme “O Som ao Redor” (2012), que não gosta do cenário rural da Zona da Mata. Porém, precisa voltar ao lugar onde nasceu, um decadente engenho de cana-de-açúcar, para impedir que os antigos trabalhadores do canavial tomem conta das terras. Confrontada pelo líder da associação, Zé (José Maria Alvez), e Alessandra (Dandara de Morais), que passa a ser faxineira da casa para vigiar a sinhazinha, Bethânia terá que lidar com o seu passado e os seus preconceitos.
O filme já começa de uma forma simbólica, onde vemos a protagonista atravessar as terras do cenário principal com um pequeno barco. Abertura, aliás, é interessante por ela não ter quase nenhum diálogo, mas sim com o movimento da câmera dos cineastas, além de imagens simbólicas do cenário principal da trama, já nos diz passo a passo sobre o que está acontecendo. A partir do momento que Bethânia tem o primeiro contato com o personagem Zé é aí que constatamos a sua real pessoa.
Bethânia nada mais é do que uma representação de uma elite enrustida, que jamais quis admitir preconceito, mas que no fundo sempre teve o desejo de colocar o povo negro aos seus serviços como no passado. Sentimos nela certa confusão, mas ao mesmo tempo de ambição por tentar manter as terras que ela diz ser de sua família, nem que para isso ela enfrente e seus impulsos complexos. Maeve Jinkings se sai muito bem em cena, principalmente em momentos em que a sua protagonista transita entre a realidade e situações, por vezes, surreais.
O tema sobre a divisão de classes se torna ainda mais explicita quando entra em cena a personagem Branca (Magali Biff), tia da protagonista e que não esconde a sua real pessoa. O diálogo entre as duas é simbólico, pois escancara o desejo de recusa da atual elite brasileira e que no fundo gosta de ser servida. A cena em que ambas se banham e são servidas sintetiza o desejo mais primitivo da elite, mas da qual se recusa em admitir isso.
A cena, aliás, representa uma de muitas que viram a seguir, onde a trama transita entre a verossimilhança para situações que beiram a fantasia. Logicamente o filme trata sobre a questões das raízes africanas, de um povo que foi tirado dos seus verdadeiros lares, mas cujas as suas velhas tradições irão transbordar para o desespero da elite branca. O ato final é cheio de momentos simbólicos, onde o gênero fantástico transborda unicamente para colocar para fora a real face de ambas as partes da trama, mas deixando em aberto o que irá acontecer em seguida, assim como acontece com realidade atual brasileira.
"Açúcar" é um filme que fala sobre o passado que transita pelo presente e que a elite brasileira atual anseia pelo seu retorno infelizmente. 

Assista o trailer oficial clicando aqui.  


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