sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'O Fim da Viagem, O Começo de Tudo' - Mensagem Universal

Sinopse: Yoko, repórter de um programa de variedades da TV japonesa, inicia uma jornada repleta de desafios e interações com uma cultura a ela estranha. 

Kiyoshi Kurosawa tem chamado atenção da crítica especializada pela sua versatilidade em filmes distintos um do outro. Se por um lado "Creepy" (2016) era um cinema policial psicológico, "Antes Que Tudo Desapareça" (2017), por sua vez, era sobre invasão alienígena e moldada sobre significados do que nos faz humanos. Ao chegarmos em seu mais recente filme, "O Fim da Viagem, O Começo de Tudo", concluímos que o cineasta fala sobre as adversidades da comunicação e de como é difícil nos livrarmos das amarras que nos impede de sermos o que estávamos sendo predestinados.
O filme conta a história Yoko (Atsuko Maeda), uma repórter itinerante de um programa de variedades da TV japonesa, visita o país do Uzbequistão, na região central da Ásia. Ela se torna autoconsciente através de sua jornada repleta de desafios e interações com uma cultura na qual não está habituada. Yoko registra todas as experiências que mudaram sua percepção sobre o mundo.

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Assim como o já clássico "Encontros e Desencontros" (2003) de Sofia Coppola, o cineasta Kurosawa propõe em testemunharmos a história através da perspectiva dos personagens principais, mais precisamente da personagem Yoko e da qual não esconde uma certa inocência perante ao novo mundo que ela vai testemunhando. Se por um lado a própria molda uma personagem na frente da câmera quando ela está trabalhando, por outro, enxergamos uma pessoa que busca entender aquela realidade até então inédita para os seus olhos. Curiosamente, em algumas ocasiões, o cineasta coloca a câmera atrás da protagonista, como se ela fosse a nossa guia e fizesse com que a gente compreendesse o seu posicionamento de insegurança perante o que ocorre em sua volta.
Insegurança, aliás, é a palavra que molda a personagem ao longo de sua cruzada, já que ela é submissa em algumas situações do seu trabalho. Se por um lado ela é xingada por um machista no início da projeção, do outro, ela aceita passar por um grande sacrifício em uma cena em que ela experimenta um brinquedo perigoso em um parque de diversões. A cena, por sua vez, sintetiza a dimensão de desconforto em que ela sente naquele momento e que voltará a sentir ao longo do tempo.
Não que essa realidade em que ela convive durante a projeção tenha algo contra ela, muito pelo contrário, já que essa opressão, talvez, seja algo que ela acredite vindo do seu íntimo. Observamos, por exemplo, as cenas em que as pessoas daquela região estão olhando para ela, mas que talvez seja algo que a própria esteja enxergando e sentindo de forma precipitada e criando assim inúmeros receios perante a realidade em sua volta. Além disso, Yoko é alguém que possui muitos sonhos, mas que talvez não consiga abraça-los por temer o fracasso e receio pelo que se encontra a frente de sua cerca mental que a prende como um todo.
Falando nisso, a cena em que ela deseja libertar uma cabra da região é simbólica, já que ela pode ser interpretada como uma forma de representar os seus desejos de liberdade e realização. É nesses momentos, aliás, Kiyoshi Kurosawa propõe uma abordagem mais poética na projeção e colocando a protagonista em uma situação incomum. Não deixa de ser lírica, por exemplo, a cena em que ela se enxerga cantando e sendo um momento que se repetirá logo a seguir.
O ato final reserva momentos até mesmo tensos, onde ela terá que enfrentar os seus temores e buscar algo muito além do que os seus olhos podem ver. Acima de tudo, é um filme sobre perseverança contra momentos complicados, mas que ao mesmo tempo podem ser driblados.  Em tempos em que há falta cada vez maior de diálogo entre os povos, o filme cumpre com louvor o ensinamento de que todos nós somos pertencentes do mesmo mundo.
"O Fim da Viagem, O Começo de Tudo" é um filme que fala sobre nós mesmos e de como temos tanto aprender e abraçar os nosso reais objetivos. 


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