quarta-feira, 26 de junho de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Dor e Glória' - Nas Raizes de Almodóvar

Sinopse:  Salvador Mallo, é diretor de cinema em declínio, do qual relembra sua vida e carreira desde sua infância na cidade de Valência, nos anos 60. Salvador tem lembranças vívidas de seus primeiros amores, seu primeiro desejo, sua primeira paixão adulta na Madrid dos anos 80 e seu desejo pelo cinema.  

Um cinema autoral é todo aquele que filma e expressa o seu olhar com relação a realidade em que vive através da realização dos seus próprios filmes. Pedro Almodóvar foi um que, desde o início de sua carreira, jamais recuou e mostrou nas telas dos cinemas todo o seu ser e sua intimidade através de histórias, tanto fictícias, como também verídicas. "Dor e Glória é, talvez, o filme em que ele mais deixa explicito a sua real pessoa e não tendo vergonha alguma em revelar as suas falhas como um grande artista.
O filme conta a história de Salvador Mallo (Antonio Bandeiras), um cineasta em decadência e distante de sua época mais dourada. Quando uma de suas primeiras obras ganha status de cult em uma cinemateca, Salvador inicia uma pequena jornada emocional, ao rever velhos amigos, conhecidos e relembrando o seu passado. Nesse processo, ele descobre revelações surpreendentes e das quais lhe faz repensar sobre tudo o que aconteceu em sua vida.
Se em "Má Educação"(2004) Almodóvar namorava a ideia de rever o seu próprio passado através de uma tela de cinema, aqui a situação fica mais do que explicita, já que Salvador Mallo nada mais é do que o próprio Almodóvar em cena, mas ganhando a pele a interpretação de Antonio Banderas. Era uma questão de lógica essa escolha, já que o ator estava lá desde os tempos de filmes como, por exemplo, "A Lei do Desejo" (1987) e "Ata-me" (1989). Bandeiras entrega aqui a sua melhor atuação de sua carreira e prestando uma bela homenagem ao homem que o colocou para estrelato de forma imediata.
Assim como nos seus filmes anteriores, Madri é o palco novamente para os acontecimentos do qual o seu alter ego se envolve, mas se dividindo com lembranças de um passado distante.  Almodóvar nos apresenta aqui a sua infância difícil, da qual ele a sua família passava certa necessidade, mas não escondendo o seu desejo pelo cinema que já tinha nos seus primeiros anos de vida. Portanto, aguardem para pequenas, porém, brilhantes homenagens a sétima arte e das quais Almodóvar as filma com gosto e muito carinho.
Além disso, os elementos típicos de Almodóvar estão todos lá, desde uma edição de arte, como também uma fotografia com cores quentes e que remetem, principalmente, as suas primeiras obras. Mas, acima de tudo, Almodóvar coloca na mesa o lado doce e sensível vindo de homens que abraçam os seus desejos nenhum pouco reprimidos. Se essa ideia já era explorada em seus filmes como, por exemplo, "Fale Com ela" (2001), aqui a ideia fica mais em sintonia, principalmente nas cenas entre Bandeiras e Leonardo Sbaraglia, do filme "Relatos Selvagens"(2014).
Mas o coração da obra fica por conta das sequências em flashbacks, onde Almodóvar desvenda, não somente as suas origens, como também os seus primeiros desejos, mas tudo feito com sinceridade e sem nenhum remoço. O destaque fica por conta das comoventes cenas entre o protagonista e sua mãe, interpretada na juventude pela sua musa Penélope Cruz e pela atriz Julieta Serrano, do filme "Mulheres à Beira de Um Estado de Nervos" (1988). É por esses momentos, além de uma incrível revelação sobre uma determinada pintura, que Almodóvar faz as pazes com assuntos não resolvidos do passado e conseguindo, enfim, a sua paz consigo mesmo.
"Dor e Glória" é Almodóvar em sua essência, onde o próprio se despi-la na tela e revelando para nós a sua real pessoa. 


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