terça-feira, 19 de março de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Imagem e Palavra' - Godard Novamente Ataca

Sinopse: Godard parte de montagens de imagens para refletir sobre aspectos do cinema e do mundo. Colando cenas de filmes, de reportagens, de vídeos caseiros e mesmo de desenhos, o cineasta aborda as funções do tempo e do espaço. 

A primeira invenção do homem em contar a sua própria história foi através de desenhos que eles faziam nas paredes das cavernas. Com o tempo o homem criou a palavra e assim podendo registrar acontecimentos de sua própria história. Em tempos atuais, com as suas redes sociais e notícias a todo momento, a imagem em si sobre os fatos volta com força, mas também empobrecendo a própria informação extraída dela.
Político, cineasta atoral e perfeccionista como ninguém, desde jovem Jean-Luc Godard opta em testar os mais diversos recursos vindos do cinema, para assim elaborar tramas que vão muito mais além do que é visto nas imagens apresentadas na tela. Mesmo com os seus mais de oitenta anos de vida, o cineasta opta em experimentar qualquer novidade que esteja no mercado cinematográfico atual, como no caso do 3D e assim ter criado com a ferramenta uma experiência incomum para a história do filme “O Adeus a Linguagem” (2014).  Porém, tudo o que ele apresentou naquele filme foi uma espécie de ensaio para o ambicioso “Imagem e Palavra”, cuja as inúmeras imagens fragmentadas na tela formam, talvez, uma ideia sobre os seus pensamentos, ou então, nós mesmos é que temos o dever de elabora-la uma vez que testemunhamos elas.
Com a narração off vinda do próprio cineasta, o filme fala de tudo um pouco, desde a história da humanidade, arte, religião e, logicamente, o próprio cinema. Tudo moldado com imagens que ele vai jogando ao longo do tempo, criando assim um mosaico de luzes e cores e das quais muitos não irão compreender num primeiro momento. O caso que não há uma explicação plausível sobre o que é visto na tela, mas cabe nós mesmos expressarmos os nossos próprios sentimentos com cada imagem que vemos na tela.
Pelas entrelinhas, é notório que Godard perdeu qualquer esperança com relação ao cinema tradicional, principalmente vindo dos EUA, de criar algo no mínimo original em tempos contemporâneos. Se as tecnologias de hoje, como o já citado 3D, se tornaram novidades já ultrapassadas, cabe os realizadores, talvez, voltarem ao passado e resgatar o que havia dado certo. Se o filme "O Artista" (2011), de Michel Hazanavicius, sintetiza o desejo por parte do público em revisitar o passado, Godard opina em usar diversas imagens de épocas diferentes para criar uma nova linguagem pela comunicação visual.
Se por um lado é fácil acusa-lo de pretensioso, do outro, é louvável ver um veterano como ele em tentar criar uma nova luz no universo cinematográfico hoje, cujo o público está cada vez mais cansado de efeitos visuais mirabolantes, porém, na maioria dispensáveis. Em tempos em que cada vez mais se torna rara a originalidade nas narrativas cinematográficas, cabe então imagens entrelaçadas umas às outras para se criar a sensação de dúvida quando assistimos elas. Infelizmente para uma geração atual movida somente de imagens aceleradas, o filme atrairá mais aqueles fãs de carteirinha do cineasta e indo ao cinema sabendo muito bem o que esperar da obra.
"Imagem e Palavra" é a síntese sobre os pensamentos de um cineasta com relação as imagens das mais diversas áreas e nascendo assim algo difícil de se explicar em uma primeira visita.  



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