sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre O Beijo no Asfalto (2018)

nota: filme será exibido para associados neste próximo domingo (09/12/18) as 10h15min no Cinebancários. 
Sinopse: Baseado na peça homônima escrita por Nelson Rodrigues. Ao presenciar um atropelamento, Arandir, um bancário recém-casado, tenta socorrer a vítima, mas o homem, quase morto, só tem tempo de realizar um último pedido: um beijo. Arandir beija o homem, mas seu ato é flagrado por seu sogro Aprígio e fotografado por Amado Ribeiro, um repórter policial sensacionalista.
Algumas peças de teatro, ou obras cinematográficas, possuem tanto uma linguagem da qual sintetiza a sua época, como também tendo o sério risco de ficar preso a ela. O Beijo no Asfalto de Bruno Barreto de 1981, não só era fiel a peça de Nelson Rodrigues, como também caminhava de mãos dadas com as mudanças e conservadorismo daqueles tempos já longínquos. Eis que esse novo O Beijo no Asfalto, não somente é fiel a sua fonte original, como também consegue, de forma sublime, transitar entre o teatro, cinema e comprovar que pensamentos conservadores de ontem ainda persistem nos dias de hoje.
Dirigido pelo estreante Murilo Benício, o filme retrata os atos e consequências de um atropelamento ocorrido numa avenida de São Paulo. Arandir (Lazaro Ramos) presencia um atropelamento e tenta socorrer a vitima. Inesperadamente Arandir beija a vitima antes desse último vir a morrer e despertando a curiosidade de seu sogro Aprígio (Stenio Garcia), dos jornalistas e da própria policia que presenciaram o acontecimento.
Confesso que eu assisti somente uma vez a versão da década de 80 na extinta rede manchete e, ao assistir a essa nova versão, foi como recobrar memórias esquecidas. Porém, enxergo uma identidade própria nessa revisita do conto, já que ela flui tranquilamente entre o universo do teatro, cinema e os ensaios em que os atores moldam os seus respectivos personagens. É nessas sequências, aliás, que testemunhamos tanto a força do texto de Nelson Rodrigues, como também o grande desempenho de cada um dos atores. 
Otávio Muller, por exemplo, surpreende na transição de momentos de humor, sarcasmo, para situações que faz com que a gente começe a sentir desprezo pelo próprio. E se Fernanda Montenegro, como sempre, mostra a sua força, mesmo quando ela somente aparece nos ensaios, Débora Falabella se sobressai ao descascar a sua personagem e se revelar um ser distante do que no principio havia sido apresentado. Já Lázaro Ramos nos brinda com um desempenho completo, ao apresentar um personagem que transita entre a razão do seu ser e ambiguidade da qual não consegue esconder. 
Com uma fotografia em preto e branco “assumidamente” crua de Walter Carvalho, o filme carrega em si um clima de opressão dos tempos de chumbo e cuja essa sensação era também sentida, tanto na peça, como também na sua versão cinematografica dos anos 80. Curiosamente, o texto não envelhece ao ser revisto nos dias de hoje, já que o mesmo olhar conservador hipócrita da época (em sequências muito bem defendidas pelo talento de Stenio Garcia) ressurge em tempos em que o Brasil é tomado por assalto por aqueles que se dizem “cidadãos de bem”. Assim como foi dito no passado, a própria Fernanda Montenegro diz em cena que “iremos sobreviver”, mesmo quando o futuro nos mostra o quão iremos ter que lutar.
O novo O Beijo no Asfalto comprova que a obra de Nelson Rodrigues sobreviveu ao teste do tempo e que, novamente, revela um Brasil consumido pelo conservadorismo. 

Onde assistir: Cinebancarios: Rua General Câmara, nº 424, centro de Porto Alegre. Horários: 15h e 19h15min.   

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