terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Rasga Coração


Sinopse: Manguari Pistolão é ao mesmo tempo um herói e um homem comum. Atuante na militância em boa parte da vida, agora terá que enfrentar o mesmo que seu pai: seu filho, Luca, pretende deixar a faculdade de Medicina e ingressar de vez no movimento hippie. Em um crescente conflito com as escolhas do garoto, verá seu passado sendo reinventado na figura dele.

O cinema brasileiro muda de acordo com as mudanças em que o país vai passando ao longo do seu tempo. Se Neville D'Almeida havia retratado um Rio de Janeiro em que se restringia os pobres das favelas do resto da cidade no clássico Rio Babilônia (1982) o mesmo, então, retorna ao cenário em 2015, onde a elite vai aos morros para usufruir da vista, drogas e bebidas em Esse Vento Frio que a Chuva Traz. É o mesmo cineasta autoral, mas cujo seus filmes seguem as mudanças vertiginosas de um país vivendo sempre na corda bamba.
Em tempos indefinidos, existem cada vez mais cineastas brasileiros olhando para o passado e tentando, ao menos, fazer uma analise sobre o que deu certo e errado ao longo desse percurso. Embora tenha se acertado melhor na área documental até recentemente, Jorge Furtado jamais escondeu em seus longas metragens a sua posição política com relação à crise atual em que assola o nosso país desde meados de Junho de 2013, onde ocorreram os grandes protestos elaborados por essa nova geração de brasileiros. É aí que ele usa isso como mote principal para a realização de Rasga Coração, onde num único filme ele visita duas épocas distintas uma da outra, mas com semelhanças que carregam em si alguns acertos, mas também inúmeros erros.
A trama se divide entre o início dos anos 80, época em que, aos poucos, estava ocorrendo à redemocratização, com o início dos primeiros movimentos de protestos do ano de 2013. Manguari Pistolão (Marco Ricca) foi um militante contra o sistema e que, após se acomodar em trabalhos de repartição, tenta de todas as formas em se manter estável com a sua família. Seu filho Luca (Chay Suede) adere aos movimentos de protesto contra as escolas, ganhando apoio do seu pai, mas até que ponto isso vem a valer?
Em um mesmo filme testemunhamos o mesmo país, mas de épocas diferentes e cujas causas soam familiares, mas tendo consequências diferentes. Pistolão lutou até onde pode no que ele acreditava, mesmo tendo consequências que, posteriormente, começariam a lhe assombrar. Se num primeiro momento ele deseja que o seu filho siga o mesmo caminho, por outro lado, os pensamentos e lutas desse último soam que indefinidos, mesmo ele sabendo que é preciso lutar por uma causa, mas não sabendo exatamente qual delas. No meu entendimento, Jorge Furtado, talvez, queira nos dizer que os movimentos de Junho de 2013 tenham sido inconsequentes, pois os mesmos não apontavam um caminho definido e se criando, então, um espaço aberto para se germinar os retrocessos elaborados por partidos políticos. 
Porém, o passado de Pistolão nos mostra que, tantos os erros como acertos, podem ter consequências que podem tardar, mas que não deixarão de vir. O jovem Pistolão (aqui vivido por João Pedro Zappa) seria, então, uma representação de um novo Brasil redemocratizado, mas aceitando as propostas que viriam a deixá-lo acomodado, não o fazendo entender as mudanças que viriam e culminando na formação do seu futuro filho. Um Brasil acomodado teria sido a causa de termos sofrido um segundo golpe do nosso tempo? 
Jorge Furtado lança essa, além de muitas perguntas para todos nós, mas que a maioria não obterá, por agora, respostas que nos faça compreender esse complexo mosaico de eventos que nos aflige. Porém, no plano final da trama, Pistolão e sua esposa (Drica Moraes) se dão conta que o ambiente em que vivem está mudando, sendo que onde havia sol, por exemplo, é agora coberto por sombras de arvores e edifícios. As mudanças vão acontecendo, conforme as nossas atitudes ou pensamentos do próximo. 
Rasga o Coração é sobre um Brasil que vive entre acertos e erros em sua história e cujo passado sempre nos causara consequências para o nosso futuro. 


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