segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Cine Especial: Cinema Queer – Identidade e Diversidade: Parte 1



Nos dias 10 e 11 de Novembro eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre, onde participarei do curso Cinema Queer – Identidade e Diversidade, criado pelo Cine Um e ministrado pela professora de cinema Rosângela Fachel de Medeiros. Enquanto os dias da atividade não chegam eu por aqui irei destacar os principais filmes desse cinema ousado, diversificado e colorido.  
 


Glen ou Glenda? (1953)



Sinopse: Para investigar o suicídio de um travesti, um detetive da polícia busca informações com um psiquiatra entendido no assunto, que lhe conta duas histórias. Na primeira, Glen é casado com Barbara, mas deve descobrir uma maneira de contá-la sobre as suas necessidades de utilizar seus vestidos; na segunda, Alan decide se transformar em mulher fisicamente, através de uma cirurgia.

Após o sucesso do filme Ed Wood (94), muitos dos filmes do próprio  foram redescobertos para uma nova geração cinéfila, dentre eles, esse que foi o primeiro filme que ele dirigiu em 1853, sendo que já na época, condecorado a pior coisa já filmada. Mas visto atualmente, percebesse que Wood tinha grande imaginação, ao misturar tomadas de Bela Lugosi como um conquistador do mundo, em sequências extraídas de documentários e filmes destruídos que ele achou em um estúdio abandonado. É curiosa a conversa do médico, muito didatismo, sobre o assunto e a parte ficcional, na qual Wood que, realmente gostava de se vestir de mulher, interpreta Glen e Glenda. As partes nem sempre se casam (fato muito visto nos filmes de Wood) e o absurdo que provocam justifica o charme que o filme acabou adquirindo ao longo do tempo. 


Infâmia (1961)



Sinopse: Duas professoras de uma escola particular têm suas vidas viradas do avesso quando uma das crianças denuncia um sentimento um pouco maior que amizade entre as duas. A avó da garota, poderosa na cidade, trata de espalhar a história e fazer com que todos se voltem contra as pecadoras.

Para assistir a esse filme é preciso se colocar como se estivesse no início dos anos sessenta, pois naquele tempo, o homossexualismo ainda era um grande tabu na sociedade e no cinema. Portanto, o podemos considerar como um dos filmes mais ousados e corajosos daquele tempo, mesmo não possuindo nenhuma cena explicita e sim sugerida. Dirigido pelo diretor William Wyler (Bem Hur) o filme mostra o que acontece com a vida das pessoas a partir de um simples boato maldoso através (justamente) de uma criança, interpretada com maestria por Karen Balkin. 
Apesar de pouca idade, Balkin carrega todos os trejeitos de uma cobra perante sua presa para assim fazer com ela o que bem entender e a interpretação da menina é tão enigmática e poderosa e que com certeza esta na lista de melhores vilãs do cinema. Quanto a dupla central feminina, Audrey Hepburn cumpre bem o seu desempenho, mas é Shirley MacLaine que dá um verdadeiro show de interpretação principalmente no ato final da trama onde ela faz um desabafo e uma revelação na qual todos imaginavam desde o principio da trama, mesmo contrariando o olhar mais conservador da época, que simplesmente não aceitava tal verdade e só por isso. O filme merece ser redescoberto pelo público atual.


 

Pink Flamingos (1972)



Sinopse: A trama narra a trajetória de Divine, uma drag queen que quer recuperar o título de pessoa mais podreira da região em que vive.

Um casal de doidos que sequestra mulheres, faz um empregado engravidá-las e vende seus filhos…para alimentar um mercado de vendas de drogas na porta de escolas. E os personagens (muito) esquisitos não param por aí. Tem Mama Edie, a mãe de Divine, uma velha que fica num berço e tem um apetite imenso para ovos; Crackers, filho de Divine, que tem um estranho apetite sexual por galinhas; e Cotton, que gosta de ver Crackers se satisfazendo com as galinhas e com toda a mulher que tem o azar de cruzar com o caminho dele. 
Até hoje muitos consideram um dos filmes de pior espécie da história, mas que conseguiu ganhar os ares de cult e elementos é o que não faltam, já que o filme é um verdadeiro tapa na cara contra as pessoas que ainda vendiam o politicamente correto dentro dos EUA naquela época. Existe a lenda que o seu cineasta John Waters filmou a trama em apenas dois dias e ao preço de apenas R$ 10 mil dólares. E se a pessoa que assisti consegue assistir a esse filme até o seu final, aguarde para o banquete de fezes canino do qual ninguém consegue escapar de uma sensação de ânsia de vomito.


 Querele (1982)


Sinopse: O marinheiro francês Querelle (Brad Davis) desembarca em Brest. Marginal e movido pelo desejo, torna-se frequentador assíduo do bordel da cafetina Lysiane (Jeanne Moreau), amante de seu irmão Robert (Hanno Pöschl). Lysiane é casada com Nono (Günther Kaufmann), que costuma jogar dados com os clientes. Quem ganha pode ficar com ela, quem perde deve transar com ele.

Drama surreal franco-alemão realizado em 1982 por Rainer Werner Fassbinder, Querelle - Ein Pakt mit dem Teufel foi estrelado por Brad Davis, Franco Nero, Jeanne Moreau, Hanno Poschl, Laurent Malet e Gunther Kaufmann, entre outros. O argumento foi escrito por Fassbinder e Burkhardt Driest, adaptando o livro Querelle de Brest, de Jean Genet.Polémico como todos os trabalhos de Jean Genet - misógino ladrão, para além de artista - o filme joga grande parte dos seus méritos no ambiente claustrofóbico e estilizado que Fassbinder (também ele um autor maldito) fez sobrepor às interpretações, propositadamente pouco trabalhadas. Nota-se um efeito de espelho entre a ficção e a realidade do(s) seu(s) autor(es), colocando-se Fassbinder numa posição quase laboratorial, dando ao filme um cunho de artifício que é comentado e sublinhado do exterior. É, pois, mais uma experiência sensorial do que uma narrativa convencional. Acabou por ser o último filme do seu autor, que morreu de "overdose" quando estava na fase de montagem, pondo um fim precoce a uma breve, mas intensa carreira.
 

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