quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Maré Nostrum

Sinopse: Roberto (Silvio Guindane) e Mitsuo (Ricardo Oshiro) são dois desconhecidos que, após uma série de coincidências, voltam para o Brasil no mesmo dia, depois de um longo tempo no exterior. Eles se encontram devido a um terreno que foi negociado por seus pais decádas atrás e decidem tentar ganhar dinheiro em cima do local. No entanto, eles entram em conflito quando começam a achar que o lote possui poderes mágicos. 

A cena de abertura, talvez, seja o melhor momento do filme. Duas pessoas se  encontram num terreno, em meio a uma chuva inesperada, para cumprirem  um contrato de venda. Nakano (Edson Kameda), de origem japonesa, mostra-se uma pessoa reservada, enquanto o outro, o expressivo João (Ailton Graça), aceita o acordo sem pensar muito nas causas e efeitos. Existe uma aura de magia com relação a esse encontro, sobre os termos do contrato, principalmente sobre a chuva forte e que se interrompe inesperadamente no momento em que o acordo foi fechado. Curiosamente, o gênero fantástico dá de encontro ao realismo nesse momento, mas de uma forma discreta e silenciosa.
A partir desse ponto, a trama se move pelos diálogos e ações de seus respectivos personagens principais. São momentos em que dois ou mais personagens conversam em casa, na mesa de bar, dentro do carro ou em meio as lembranças nostálgicas dentro de um quarto. São a partir desses diálogos que são, então, remexidos os passados de Roberto (Silvio Guindane) e Mitsuo (Ricardo Oshiro), os problemas familiares e financeiros de cada um e planos com relação ao futuro de ambos. Os encontros servem mais para explicar ao cinéfilo que assiste sobre as reais personalidades dos personagens, sobre o andamento da trama, mas que não dá espaço para que possamos tirar as nossas próprias conclusões no que é visto na tela.
Tal modo que é apresentado a história , chama atenção o seu lado conveniente, como no caso, por exemplo, dos cenários serem apresentados somente para os personagens centrais. O universo da trama acaba se tornando então mero objeto de recurso: os bares onde os personagens conversam estão vazios, a estrada está deserta, não existem pessoas caminhando na praias, nem dentro na peixaria. Aqui, o horizonte parece artificial, e as conversas são  tão destacadas quanto a trilha ou a parte técnica dos sons que são quase imperceptíveis.
Mesmo assim, alguns pontos se destacam de forma positiva como no caso dos seus respectivos talentos em cena. No elenco, Carlos Meceni efetua um bom trabalho como Orestes, e Vera Mancini se mostra particularmente desenvolta na única cena em que aparece. Acima de tudo, é evidente o afeto pelos personagens, pelos sonhos desfeitos e pela melancolia de cada um. A redenção, por fim, vêm para os respectivos personagens centrais, mesmo quando ela soa artificial demais.  




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