terça-feira, 23 de outubro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Berenice Procura



Sinopse: Berenice é uma mulher dedicada ao seu trabalho de taxista. Ela tem uma paixão especial por fatos policiais e cenas de crimes. Um dia, ela escolhe o caso do assassinato de um travesti no bairro de Copacabana para fazer sua própria investigação. 

Em tempos em que o Brasil tenta vender uma espécie “digníssima família brasileira” para a posteridade, por outro lado, há indícios cada vez mais tênues de que essa imagem se encontra desgastada devido ao lado hipócrita vindo do próprio brasileiro. Se por um lado o conservadorismo do mundo real tenta a todo custo esconder essa realidade, por outro lado, a ficção cinematográfica colabora para escancarar uma realidade não vista nas novelas plásticas e sem vida. “Berenice Procura” mostra o outro lado dessa moeda, cujo figuras de uma trama policial sintetizam a real família brasileira a beira do precipício.
Dirigido por Allan Fiterman (Embarque Imediato), o filme conta a história de Berenice (Claudia Abreu) que, com o casamento em frangalhos, decide se dedicar a vida como taxista. Tendo certa tentação escondida com relação a crimes policiais, Berenice se atrai pelo assassinato de uma travesti, cujo corpo foi encontrado na praia de Copacabana. Não demora muito para que ela descubra um o outro lado da cidade, que é o submundo obscuro e cheio de segredos.
Em tempos em que o cinema brasileiro cada vez mais se renova, ao tentar explorar outros gêneros, Berenice Procura possui um clima de filme policial Noir poucas vezes visto em nossa história. Embora não possua uma fotografia em preto e branco, da qual nos lembre esse gênero, todas as figuras conhecidas estão lá: assassinato, inúmeros suspeitos, damas fatais e segredos obscuros.
Além disso, o cineasta Allan Fiterman cria um belo jogo de câmera, ao fazer enquadramentos fora do convencional, com planos sequências mirabolantes já no início da trama. Além disso, estamos diante de uma Copacabana pouco vezes vista nos cartões postais, mas sim moldada com uma fotografia obscura e que molda um clima de insegurança. Em tempos nebulosos do Brasil do mundo real, a realidade vista nessa ficção se mostra mais do que verossímil.
Curiosamente, o filme também remete alguns clássicos policiais dos anos 70, nos lembrando até mesmo a obra prima Taxi Drive. Berenice, por exemplo, não é muito diferente do personagem daquele filme interpretado por Robert De Niro, mas tendo uma raiva mais contida e procurando algum sentido na vida pelas ruas de Copacabana. Seu lar, por exemplo, é claustrofóbico, ao não saber se comunicar com o seu filho e tendo um casamento em declínio com o marido (Eduardo Moscovis, ótimo).
Uma vez que a personagem vai adentrando no caso da travesti assassinada, se abre um leque de inúmeros personagens envolvidos, sendo alguns até mesmo próximos a ela. Em contra partida, o filme faz uma severa crítica sobre qual é a verdadeira imagem da família brasileira atual, sendo que ela, talvez, não seja moldada pelos laços de sangue, mas sim pela solidariedade pelo próximo. Indivíduos excluídos pela sociedade, por serem considerados diferentes, acabam sendo mais felizes com o pouco que tem do que aqueles que se encontram naquela que se diz ser “digníssima família brasileira”, mas que se encontra a beira da falência moral e digna.
Embora algumas soluções pareçam previsíveis na trama, Berenice Procura é um belíssimo jogo de gato e rato, além de sintetizar o atual  lado hipócrita de um povo brasileiro em frangalhos.



Onde assistir: Cinebancários. Rua General Câmara, nº424, centro de Porto Alegre. Horários: 17h e 19h.   



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