terça-feira, 21 de agosto de 2018

Cine Especial: Pier Paolo Pasolini: Intelectual e Cineasta Maldito: Parte 3



Nos dias 01 e 02 de setembro eu estarei na Cinemateca Capitólio Petrobras de Porto Alegre, onde irei participar do curso Pasolini: Intelectual e Cineasta Maldito, criado pelo Cine Um e ministrado pela professora e crítica de cinema Fatimalei Lunardelli. Enquanto os dias dessa atividade não chegam, eu estarei por aqui falando um pouco dos filmes desse perfeccionista e polêmico cineasta.  




Édipo Rei (1967)



Sinopse: Antes da Segunda Guerra, na Itália, um casal de jovens tem um menino e, tentando fugir, a criança é tomada dos pais no deserto para ser assassinado. Mas a criança acaba nos braços do Rei e da Rainha de Corinth, que lhe dá o nome de Édipo (Franco Citti). O que Édipo não espera é que seu destino está traçado para uma terrível tragédia envolvendo sua família.



Pasolini encarou uma empreitada de peso: filmar a tragédia Édipo Rei. Além de todos os recursos recorrentes a que nos referimos, Pasolini faz algo genial. Presumindo que boa parte do público conhece a história, ela interage com ela: em alguns momentos centrais, substitui falas, o que produz um efeito polifônico. O espectador enuncia internamente a fala clássica e ouve no filme algo que soa como uma interpretação. Por exemplo: quando Édipo se coloca ante a esfinge, não ouve “Qual é o animal que pela manhã anda com quatro pernas…”, etc; mas a esfinge lhe diz “Qual é o enigma sobre sua origem?”. Ao invés de Édipo responder ao enigma e a esfinge se precipitar no abismo, Édipo fica enfurecido e a arremessa. Então ela diz: “o abismo em que você me joga está dentro de você!”. Por esta passagens e muitas outras, pode se ver que o Édipo de Pasolini é mais freudiano que o de Sófocles.



Medéia (1969) 

Sinopse: Para retomar o reino que seu tio roubou de seu pai, Jasão (Giuseppe Gentile) rouba o velocino de ouro e seduz a poderosa feiticeira Medéia (Maria Callas), realeza em um local onde o poder surge de sacríficios humanos. Ela mata o próprio irmão para fugir com seu amado. Anos depois, Medéia é abandonada por Jasão, que pretende se casar com a filha do rei. Traída, a feiticeira fará uma terrível vingança contra seu antigo amante.
O filme de Pasolini é uma releitura da tragédia grega, apresentando o confronto entre o mundo arcaico e racional, entre o inconsciente e o consciente. O ritmo é lento assim como a incômoda trilha sonora, bárbara e tribal. A primeira parte do filme, praticamente sem diálogos, inicia-se com o discurso do centauro e apresenta eventos anteriores à tragédia de Eurípedes: os rituais e sacrifícios bárbaros em Colchis (terra de Medeia), a educação de Jasão e sua viagem até Colchis, onde, com a ajuda de Medeia e do irmão dela, consegue roubar o velocino de ouro. Perseguidos pelo pai de Jasão, Medeia mata o irmão e foge com Jasão.A segunda parte do filme, que passa a acompanhar a tragédia de Eurípedes, começa com a reaparição do centauro – na verdade agora 2, um deles representado pela figura de um homem.  



Pocilga (1969)

Sinopse: O filme conta duas histórias separadas. A primeira, em um passado indeterminado, conta a história de um jovem canibal que matou o próprio pai e é sentenciado à morrer comido por animais. Na segunda, o filho de um ex-industrial alemão, Julian (Jean-Pierre Léaud), não consegue se relacionar com pessoas e decide acabar com sua fazenda de porcos.
Pocilga é um filme ligado diretamente ao trabalho anterior de Pasolini, Teorema (1968). Em Pocilga ele amplia o discurso sobre a essência do modus operandi burguês de que ele havia registrado o colapso existencial em Teorema. Nos dois filmes temos a presença da terra negra e seca que representa o deserto da alma humana. Nos dois filmes existe a luz dourada que por meio de rebatedores geram uma constante sensação de crepúsculo dentro dos planos. Crepúsculo esse que representa o estágio de toda a sociedade corrompida que Pasolini disseca com poesia e acidez.

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