segunda-feira, 16 de julho de 2018

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: Rei



Nota: filme exibido para os associados no último sábado (14/07/18) no Cinebancários.

Sinopse: Em 1860, um aventureiro francês de 35 anos partiu para Araucanía, uma região inóspita no sul do Chile, com o intuito de fundar um reino. Ele partiu com o aval do chefe indígena da região, Mañil. Porém, ao chegar, descobre que este morreu. Sem seu apoio, é preso pelo governo chileno, que vê no estrangeiro um perigo, e tem que justificar sua viagem para não ser preso e exilado.

A cada ano que passa o cinema Chileno vem se destacando por um cinema autoral, criativo e por vezes crítico. Em tempos em que a sombra do conservadorismo autoritário que ameaça a democracia de muitos países do mundo, é sempre interessante ver um filme que retrate um passado longínquo, mas que ecoe com relação ao males de tempos contemporâneos. Rei possui um incrível visual experimental para se contar uma trama aparentemente simples, mas que faz a gente pensar em todas as imagens que testemunhamos no decorrer do filme.
Dirigido por Niles Atallah (Lucía), o filme acompanha a cruzada de um aventureiro francês chamado Antoine de Tounens (Rodrigo Lisboa), que decide viajar para America do sul e conhecer as partes mais remotas do Chile. Lá conhece Araucanía, local comandando pelo indígena Manil e prometendo para aquele povo que se tornaria rei da região e tornando eles livres. Porém, o governo Chileno o captura por considerá-lo extremamente perigoso e iniciando assim um julgamento.
Embora o filme comece de uma forma convencional, logo se percebe que Niles Atallah não está nenhum pouco disposto em apresentar algo que ressoe familiar, mas sim que se diferencie de outros filmes com temáticas similares. Os governantes que julgam o protagonista, por exemplo, são representados com curiosas máscaras, como se todo o julgamento que vier em seguida não passe de um grande teatro a ser encenado e para que logo o protagonista seja condenado. Porém, curiosamente, nessas passagens o próprio Antoine é representado por uma máscara e fazendo a gente se perguntar o quão ele é verdadeiro em suas ações ou se não passa também de uma farsa de um show politicamente circense elaborado por ambas as partes.
Em meio a essas dúvidas sobre a real natureza do protagonista, Niles Atallah faz uma crítica feroz contra os colonizadores do passado, seja ele do Chile como também do restante do mundo. Para isso, o cineasta cria uma curiosa edição, onde acontece uma transição de cenas fictícias, verídicas e até mesmo com filmes mudos e perdidos pelo tempo. Ele vai ainda mais além, ao recriar partes do filme como se fossem rolos perdidos e que algum momento da história havia sido redescoberto por historiadores entendedores do assunto.
De um filme experimental, ele se encaminha para algo de níveis abstratos e que, por vezes, cada um terá um entendimento pessoal com relação aos seus significados. Em meio a isso, Rodrigo Lisboa faz o que pode para o seu desempenho se sobressair em meio às impressionantes cenas vistas na tela, mas se tornando em alguns momentos apenas uma figura complexa de muitas que surgem até o seu derradeiro final da obra. O final, aliás, irá fazer muitos se perguntarem o que acabaram de testemunhar e fazer com que a gente debata após o encerramento da obra. 
Rei é aquele típico filme experimental, cinematograficamente falando, do qual você ama ou abandona de imediato.   
 
Onde assistir: Cinebancários. Rua General Câmara, Nº424, centro de Porto Alegre. Horário: 15h e 19h. 


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