quarta-feira, 30 de maio de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: A Vida Extra-ordinária de Tarso de Castro



Sinopse: Boêmio. Provocador. Sedutor. Revolucionário. Além de idealizador do "Pasquim", Tarso de Castro foi um dos maiores jornalistas do Brasil. Ao investigar sua vida, vem à tona a história de um país embriagado pela ditadura e pela censura, onde o sonho de democracia nascia de uma geração libertária.
Em tempos atuais de “jornalistas fofos”, sendo esse um apelido “carinhoso” criado pelo jornalista de Porto Alegre Moises Mendes, está cada vez mais raro se encontrar nessa profissão alguém que se sobrepõem ao sistema atual jornalístico e que acaba se vendendo pela informação, por vezes, parcial.  Contudo, após o golpe de 2016,  há um fortalecimento em meio ao jornalismo alternativo e sendo algo que não se via desde os tempos pós golpe de 1964.  Mas independente disso, dificilmente existirá um profissional como Tarso de Castro que, não somente buscava um furo de reportagem, como também inseria o seu pensamento crítico em meio a noticias que obtinha. 
Dirigido por Leo Garcia e Zeca Brito, o filme é uma retrospectiva bem humorada sobre o Jornalista gaúcho Tarso de Castro, profissional que ia muito além de sua profissão. Através de conversas entre familiares, amigos, jornalistas e artistas, se têm aqui um mosaico de informações sobre a vida e a obra desse profissional e de como ele teve a capacidade de até mesmo driblar a famigerada censura da época da ditadura. Dentre as suas maiores realizações estão os jornais Pasquim e Enfim.
Assim como em filmes recentes como Todos os Paulos do Mundo, o documentário constrói uma narrativa através de cenas clássicas do cinema nacional, além de programas televisivos em que o jornalista participou e de arquivos de jornais das principais noticias elaboradas pelo profissional. Contudo, o filme se sobressai ao possuir um ritmo dinâmico, cuja edição faz com que se crie um verdadeiro balé de imagens saltando a todo o momento na tela e os primeiros minutos da obra sintetizam muito bem essa proposta. Obviamente é uma forma em que os cineastas criaram para representar como era Tarso de Castro, tanto como pessoa como também profissional, sendo alguém que nunca se acomodava em um lugar, mas sim sempre estando ativo a todo o momento.
Além disso, os cineastas foram também criativos na maneira como elaboraram as cenas com os entrevistados. Dizia-se que Castro trabalhava até mesmo durante uma conversa de bar amigável, mas quando estava em ritmo de trabalho pelas ruas, sempre buscava por um telefone mesmo quando não se havia nenhum aparelho a sua frente. Testemunhamos, por exemplo, pessoas como Caetano Veloso falando sobre ele pelo celular, ou de amigos e jornalistas sentados num bar relembrando sobre as estripulias de Castro e gerando os momentos mais engraçados do documentário.
Aliás, é nesses momentos descontraídos que se é relembrado até mesmo lendas urbanas sobre o jornalista. Em uma delas, é levantada a hipótese de que ele poderia ter sido um guerrilheiro e amigo de Ernesto Che Guevara. Ambos realmente se conheceram, mas foi uma hipótese criada de uma forma mal interpretada pela atriz americana Candice Bergen que, aliás, foi uma das inúmeras conquistas do jornalista.
Mulherengo e sedutor, Tarso de Castro conquistou inúmeras mulheres ao longo de sua vida, mas ao mesmo tempo levantando até mesmo lendas sobre a possibilidade de ter se envolvido com outros homens. Caetano Veloso, por exemplo, se divertia muito com essa possibilidade, pois Castro o beijava na frente de todo mundo e não se envergonhando com relação a isso. Tendo uma opinião forte sobre assuntos políticos, Castro defendia a comunidade LGBT na época como ninguém e desafiava até mesmo políticos como Leonel Brizola com relação ao posicionamento dos partidos sobre o assunto.  
Logicamente o documentário não foge da questão sobre o golpe de 1964, mas que, curiosamente, até mesmo nesse momento os cineastas fizeram questão de manter o teor bem humorado que haviam começado. É interessante, por exemplo, como Castro driblava a censura de uma forma humorada e bem criativa pelos jornais como Pasquim e não temendo nem com a possibilidade de uma eventual prisão. Somente no ato final do documentário, onde se é discutido os últimos anos de vida do jornalista, que o clima fica um tanto mórbido, mas nada que prejudique a proposta convidativa para se conhecer essa figura importante dentro da história jornalística brasileira.
Em tempos em que o jornalismo investigativo do Brasil está cada vez mais escasso, o documentário A Vida Extra-ordinária de Tarso de Castro é exemplo de tempos em que um jornalista de verdade não se vendia fácil ao diabo, mas sim buscava os verdadeiros fatos de determinados eventos.

Onde assistir: Casa de cultura Mario Quintana.  R. dos Andradas, 736 - Centro Histórico, Porto Alegre. Horário: 19horas. Itau Cinema: Av. Túlio de Rose, 80 - Passo d'Areia, Porto Alegre. Horário: 13horas.



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