quarta-feira, 9 de maio de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: Rogério Duarte, o Tropikaoslista




Sinopse: Um mergulho na vida e na obra de Rogério Duarte, uma das figuras seminais das artes e do pensamento brasileiro dos últimos 50 anos. Músico, compositor, artista gráfico, um dos criadores do Tropicalismo, Rogério sempre esteve por trás - e sempre à frente - de tudo que havia de mais moderno e contemporâneo na cultura brasileira.

Uma das coisas que, às vezes, mais me incomoda no cinema atual, não é somente a sua falta de originalidade, como também a sua forma divulgação sem nenhuma criatividade. Bom exemplo disso para ser destacado é os pôsteres dos filmes americanos que, ao invés de destacar o filme em si, destacam os seus astros, como se isso fosse salvar determinados filmes de um grande fracasso. Rogério Duarte, o Tropikaoslista me fez relembrar, tanto desse pensamento atual que as vezes me incomoda, como também ter a chance de poder apreciar na tela soobre o melhor de nossa cultura e que não pode ser esquecida.
Dirigido por Walter Lima (Antônio Conselheiro - O Taumaturgo Dos Sertões) o documentário é estrelado por Rogério Duarte, artista que iniciou a carreira fazendo as artes de pôsteres de divulgação de filmes e dando destaque a proposta principal vinda de cada um deles. Ao longo de sua vida, o artista foi de tudo um pouco, desde músico, compositor, artista gráfico e um dos fundadores do tropicalismo brasileiro. Porém, assim como os demais artistas, Rogério Duarte também sofreu dos males vindos da ditadura, mas não o impediu de seguir em frente e fazer a sua própria história.
Assim como o recente Torquato Neto - Todas as Horas do Fim, o filme possui algumas passagens de cenas dos filmes da época do "Cinema Novo" para, não somente homenagear aquele período, como também prestar uma homenagem ao cineasta Glauber Rocha, grande amigo de Rogério Duarte e que ambos trabalharam juntos em grandes projetos. Com ideias criativas, Duarte foi, por exemplo, o realizador do pôster clássico de Deus e o Diabo na Terra do Sol, além de também ser de sua autoria muitas artes de divulgação de inúmeros filmes e que são lembradas por sintetizar um período mais rebelde, realístico e reflexivo do nosso cinema. Em contrapartida,  Duarte sofreu com a censura dos tempos da ditadura, mas não o impediu em seguir fazendo outras realizações.
Embora seja 100% de Rogério Duarte narrando em cena sobre a sua cruzada, o documentário também tem participações especiais de Gilberto Gil e Caetano Veloso, ambos os amigos do artista de longa data e que receberam inúmeras ideias vindas de sua mente criativa. Não é preciso ser gênio para adivinhar que foi Duarte o foi responsável pelas capas dos discos daquele tempo e sintetizando em suas artes o movimento tropicália, do qual seria um refresco para nossa cultura e um símbolo de rebeldia contra a tirania da época do qual o nosso país passava. E se por um lado 1968 pioraram ainda mais para inúmeros artistas, tanto que alguns tiveram que recorrer ao exílio, Rogério Duarte se manteve com o que tinha, mesmo tendo sido preso, torturado e quase sentenciado a morte.
O cineasta Walter Lima consegue nos passar uma transição entre tempos mais dourados para nebulosos, dos quais criaram cicatrizes profundas, tanto físicas como também psicológicas para a vida de Duarte, mas que o fizeram mais forte para seguir em frente. Embora tenha meio que desaparecido no mundo artístico durante os anos 80, o período fez com que ele procurasse maiores fontes de conhecimento, tanto científico como espiritual e fizesse com que se reerguesse para os novos tempos. Infelizmente o documentário perde um pouco do seu ritmo em sua reta final, principalmente quando Duarte já não tem muito que dizer em cena, a não desfrutar do pouco que a vida lhe deu e passar os seus pensamentos e ideias que lhe fizeram permanecer em pé perante os obstáculos. 
Rogério Duarte, o Tropikaoslista pode ser o documentário sobre um artista, mas também fala um pouco de nossa cultura, da qual sofre represálias de alguns, mas que sobrevive pela boa vontade de mentes bem intencionadas e nada hipócritas de outros.  


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