segunda-feira, 2 de abril de 2018

Cine Especial: Cinema Russo: Parte 4

Nos dias 07 e 08 de Abril eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre participando do curso Cinema Russo: Diretores, Diretoras e um pouco de História, criado pelo Cine Um e ministrado pela editora da revista cinema Teorema Ivonete Pinto e pela pesquisadora de cinema Juliana Costa. Antes disso, eu estarei por aqui postando sobre os melhores filmes daquele país, cujo alguns clássicos nos ensinam até mesmo o verdadeiro significado da palavra “socialismo”.


SOLARIS (1972)


Sinopse: Solaris é um planeta distante, que vem sendo constantemente estudado há décadas, e cujo mistério sobre seu oceano ainda não foi esclarecido, nem seus efeitos. Por falta de interesse e resultados, a solarística está morrendo; aliado a isto, os membros na estação espacial que orbita o planeta estão sendo afetados pelo oceano. Por conta disto, o psicólogo Kelvin - conhecido de um dos doutores da solarística e amigo de um dos tripulantes - é mandado para a estação para averiguar a situação. Lá, ele percebe aos poucos que Solaris é, mais que um planeta, um espelho da alma.
Refilmado em 2002 por Steven Soderbergh, Solaris é um clássico filme russo dirigido por Andrey Tarkovskiy baseado na obra do autor polonês Stanislaw Lem. Há quem considere Solaris uma resposta soviética ao americano 2001 – Uma Odisséia no Espaço. Mas Tarkovsky afirmava não ter assistido o filme dirigido por Stanley Kubrick antes de produzir sua aclamada ficção científica. Stanisław Lem quase não permitiu a adaptação de Tarkovski, pois o diretor russo inicialmente insistia em retirar do roteiro toda referência à ficção científica, o que desagradou o escritor. 
Solaris apresenta uma das histórias mais complexas, belas e trágicas. Muitos reclamam do início lento da obra, e realmente sua primeira meia hora é lentíssima, às vezes com cenas muito desconexas em relação à trama principal. Mas o filme cresce assustadoramente quando o protagonista Kelvin chega à Estação Solaris e o que se segue é quase um filme de terror com vultos passando, silêncio inquietante, um clima realmente assustador.



Stalker (1979)



Sinopse: Três viajantes do futuro atravessam uma zona proibida e encontram um lugar onde as fantasias são realizadas e a verdade é revelada.


Em 1979, ao realizar Stalker, o cineasta confirmava-se independente dentro do cinema soviético, nem padronizado, nem cumpridor de cânones. E aqui, ia mais longe. Além da adequação de cada diálogo em prol da narrativa, cada gesto, cada pequena contração dos músculos faciais carregava uma representação.
Os personagens principais dessa trama são três: Stalker (uma espécie de andarilho de caminhar titubeante), o professor e o escritor. E são os três que partem numa jornada a uma terra abandonada e proibida, a Zona. Perigosa e nascida de uma catástrofe, essa área reclama visitas por possuir uma caverna que supostamente preenche os desejos mais escondidos. 
O filme gira, então, em torno da busca da fé. Cada frase, principalmente as do personagem Stalker, e cada expressão facial vêm para requerer essa fé, seja ela dos outros personagens (o professor e o escritor), seja ela dos próprios espectadores. Mesmo que contemplativamente, o espectador parece precisar crer para o filme fazer sentido. Tarkovsky, então, ao longo da narrativa, vai colocando gradativamente essa semente de crença em nossas mentes.
E isso só tem a se exacerbar com cada enquadramento, cada música, cada fala. Enfim, cada plano, com seus corpos, objetos, paisagens, vento e neve contribuindo, indiretamente, para tecer o fio narrativo. O cinema de Tarkovsky carrega a característica primeira das coisas perfeitas: o que ali não aparece, com certeza seria excesso.

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