Nos dias 17 e 18 de Março eu estarei na Cinemateca Capitólio,
participando do curso Narrativa Cinematográfica, criado
pelo Cine
Um e ministrado pela pesquisadora e professora de história de cinema Fatimarlei Lunardelli. Enquanto os dias
não chegam por aqui eu irei relembrar dos principais clássicos do cinema que
serão analisados durante atividade.
ACOSSADO
Sinopse: Após roubar um carro em Marselha, Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo)
ruma para Paris. No caminho mata um policial, que tentou prendê-lo por excesso
de velocidade, e em Paris persuade a relutante Patricia Franchisi (Jean
Seberg), uma estudante americana com quem se envolveu, para escondê-lo até
receber o dinheiro que lhe devem. Michel promete a Patricia que irão juntos
para a Itália, no entanto o crime de Michel está nos jornais e agora não há
opção. Ele fica escondido no apartamento de Patricia, onde conversam, namoram,
ele fala sobre a morte e ela diz que quer ficar grávida dele. Ele perde a
consciência da situação na qual se encontra e anda pela cidade cometendo
pequenos delitos, mas quando é visto por um informante começa o final da sua
trágica perseguição.
Quando Acossado estreou no ano
de 1959, atingiu o mundo do cinema como um verdadeiro choque elétrico que é
sentido até mesmo nos dias de hoje. Pode-se dizer que foi o filme que deu a
largada para o movimento da Nouvelle
Vague, cujo movimento tinha a intenção de passar uma vontade de renovar e
de quebrar regras, e por isso atingiu em cheio os jovens agitados e politizados
da época. O fim dos anos de 1950 e o inicio dos anos de 1960 representou o
principio em que os jovens de todo o mundo ganharam voz alta dentro da
sociedade – o nascimento do rock’n’roll, a queima de sutiãs e os protestos de
maio de 1968 são reflexos diretos disso tudo. E o filme de Godard representou, principalmente nos aspectos técnicos, a chegada
dessa juventude ao cinema com um frescor até então inédito.
De certa forma, não é errado enxergar em Acossado o elo perdido de
ligação entre o cinema clássico dos anos 1950 e os filmes transgressores da
década seguinte. O raciocínio é o seguinte: os críticos franceses da revista Cahiers du Cinema (Godard incluído) admiravam os diretores proscritos como Nicholas Ray que, nos EUA, dirigiam sob
fortes amarras de estilo, contrabandeando para dentro dos filmes temas ousados,
mas sempre de forma dissimulada. Godard não estava em Hollywood e não tinha
dinheiro, mas em compensação não precisava dissimular nada. Fez Acossado
com US$ 90 mil, do jeito que quis, e mudou o cinema para sempre de uma
forma jamais vista.
Alguns anos antes, Hollywood já havia percebido que filmes sobre jovens
eram um grande filão, mas sempre os fez de forma conservadora como se exigia na
época. Acossado rompeu esse paradigma e eletrizou a juventude em todo
o mundo. Até então, ninguém jamais havia visto, em filme, um personagem virar para
a câmera e se dirigir diretamente ao espectador. Michael Poiccard (Jean-Paul
Belmondo), o herói de Acossado, não só fazia isso como
mandava a platéia se f… A própria personalidade do rapaz era transgressora, uma
espécie de James Dean de celulóide:
um ladrão de carros que roubava apenas pelo prazer da velocidade. Um jovem que
gostava de se vestir bem e fumar cigarros caros. Alguém cuja única preocupação
era viver o momento, sem dar bola para o futuro; alguém para quem o amanhã é
sempre longe demais. A filosofia “viva aqui e agora”, sempre tão sedutora para
os jovens, acabava de ganhar um ícone cinematográfico.
Acossado possui apenas um fiapo de história; o que importa
no filme de Godard é menos o enredo
e mais a forma de contá-lo. Trata-se da história de um rapaz francês, o já
citado Poiccard, que está apaixonado
por uma garota norte-americana (Jean
Seberg). A moça, que passa uma temporada em Paris, gosta dele – e de muitos
outros rapazes. Ela dorme a cada noite com um homem diferente, e encara essa atitude
com uma naturalidade que deve ter chocado os puritanos da época. Patricia Franchisi (nome dela) também
virou ícone para as garotas. O corte de cabelo curto, as minissaias e o
comportamento libertário viraram uma coqueluche entre as jovens francesas do
começo dos anos 1960.
Quando o filme começa, Poiccard acabou
de roubar um carro em Marselha e dirige para Paris em alta velocidade. Ele é
seguido por um policial e acaba tendo que matá-lo para não ser preso. O resto
do filme trata dos esforços do rapaz para fugir da polícia e, ao mesmo tempo,
conquistar o coração de Patrícia. Godard
filma tudo isso com um senso de urgência impressionante, um ritmo nervoso
acentuado pela montagem inovadora, que pula no meio das cenas como um disco de
vinil arranhado. “Acossado” foi o primeiro filme a apresentar uma técnica
chamada de “jump cut”, em que os cortes quebram a sensação de continuidade e
surgem nos momentos mais inesperados, apenas para acelerar o ritmo geral.
Observe, por exemplo, como os cortes rápidos dão à perseguição de carro que
abre o filme uma sensação alucinante.
O
longa-metragem surgiu de uma ideia de François
Truffaut, que escreveu o roteiro a partir de uma notícia de jornal e o
entregou ao amigo Godard. Nos anos
seguintes, os dois diretores foram se afastando, tanto em termos de temática
quanto na parte técnica (Godard
sempre gostou de experimentar novidades, enquanto Truffaut preferia mergulhar
no personagem em detrimento da técnica). Juntos, porém, os dois foram capazes
de criar um clássico instantâneo, um filme de transição entre dois períodos
difíceis do cinema. “Acossado” fez Hollywood acelerar a montagem dos seus
filmes, introduziu novas modas entre os jovens e foi, por isso, influência
básica para diretores como Arthur Penn
e William Friedkin, gente que
renovaria o combalido cinema norte-americano do pós-guerra, alguns anos depois.
Por isso é um filme que todos os cinéfilos deveriam ter em casa.
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