segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Meu Corpo é Político



Sinopse: O cotidiano de quatro militantes LGBT que vivem na periferia de São Paulo. A partir da intimidade e do contexto social dos personagens, o documentário levanta questões contemporâneas sobre a população trans e suas disputas políticas.

Uma coisa é saber que existe a comunidade LGBT, mas outra coisa é debater sobre o assunto para que então todos nós possamos assim compreendê-lo. Infelizmente num país como o nosso, principalmente no “pós-golpe 2016”, vivemos em uma realidade em que esse governo ilegítimo cada vez mais tenta esconder essas pessoas das demais, ou então criando propostas conservadoras e das quais somente tornariam a vida delas cada vez mais complicada. Em Meu Corpo é Político, testemunhamos uma realidade crua, do dia a dia de algumas dessas pessoas que vivem na luta contra o preconceito e no direito de obter um lugar ao sol.
Dirigido pela cineasta Alice Riff (Casa Vazia), acompanhamos o dia a dia de quatro militantes LGBT, que tentam viver o seu dia a dia através dos seus afazeres, trabalho e na luta pelo reconhecimento. Fernando Ribeiro é um homem transgênero batalhando para ter direito a utilizar o nome masculino em seus documentos. Giu Nonato, mulher trans, tem um importante trabalho fotográfico, feito na base da raça, que visa incentivar a valorização dos corpos. Paula Beatriz é a primeira trans diretora de escola do estado de São Paulo. E, por fim, Linn Santos é uma funkeira quer, ou “bicha lacradora”, como a própria provavelmente gostaria de ser chamada, em alusão às letras fortes de suas músicas.
Além dos quatro personagens centrais terem algo em comum, eles também vivem na periferia, região que, infelizmente, não é bem vista com bons olhos pelos poderosos, corruptos e conservadores. Esses últimos, aliás, dos quais são formados por políticos evangélicos, tem sido normalmente os principais responsáveis pela maioria da comunidade LGBT viver às vezes num verdadeiro calvário. Linn Santos, por exemplo, usa a sua musica do funk como uma espécie de protesto contra o presente e de um passado opressor, do qual se vivia preso nas mãos de pastores, mas que a partir do momento que largou dessa vida se sentiu livre para obter então o seu voo mais alto.
Seguindo a nova onda do cinema independente, dos quais esses filmes são uma espécie de ficção/documentário, ou simplesmente “cinema verdade”, o filme serve de plataforma para cada uma dessas pessoas falarem sobre suas vidas e, logicamente, soltar a voz numa forma de protesto e desabafo. Fernando Ribeiro, por exemplo, bota pra fora com um atendente sobre o fato de ainda não conseguir o direito de obter o seu nome masculino em seus documentos. É nesse momento em que a realidade transborda como um todo, não havendo nenhum resquício para que aquele momento soasse como artificial, mas sim uma espécie de desabafo sincero e do qual pudéssemos melhor apreciá-lo e compreende-lo.
Infelizmente o filme somente peca um pouco por não dar um espaço maior para alguns dos seus protagonistas. Paula Beatriz, por exemplo, é a que menos tem tempo em cena, mas que, toda vez que surge, ficamos nos perguntando como deve ter sido árdua a sua cruzada para ter chegado aonde chegou como diretora de uma escola. Em tempos em que os conservadores querem proibir assuntos de gênero dentro das escolas, Paula Beatriz seria uma voz forte contra esses retrocessos e que, pensando assim, um filme protagonizado somente pela própria seria muito bem vindo.
Com pouco mais de uma hora de duração, Meu Corpo é Político, é um manifesto contra esses tempos conservadores e que cada vez mais tornam o futuro do nosso país nebuloso e indefinido.   

Assista o trailer clicando aqui.

Onde assistir: Cinebancários. Rua General da Câmara 424, Porto Alegre. Horários: 15h e 19h. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário