sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: Câmara de Espelhos



Sinopse: Através de entrevistas realizadas com vários homens moradores da Região Metropolitana de Recife, este é um retrato aprofundado sobre o universo masculino e sobre como os homens enxergam o papel das mulheres na sociedade ocidental, tradicionalmente patriarcal e machista, e uma exploração minuciosa sobre a identidade feminina, sobre as violências sofridas pelas mulheres no Brasil e até mesmo sobre o cenário social e político do país.


O espelho é um reflexo de nós, do qual somente nos mostra a superfície, mas nunca o que há por dentro de cada um. Não é o que somos por dentro, mas sim as nossas ações é o que nos define.O documentário Câmara de Espelho é um pequeno reflexo sobre o olhar intimo que os homens têm com relação às mulheres e que expõe os seus pensamentos, por vezes, errôneos.
Dirigido pela cineasta Dea Ferraz (Sete Corações, 2015), acompanhamos a construção de dois cenários, dois quais possuem espelhos e algumas artes que representam a mulher contemporânea de hoje. A imagem é cortada, dando lugar a uma tela preta, onde começamos a ouvir em off a cineasta pedindo para um grupo de homens reagirem com relação ao que estão enxergando numa determinada imagem. O filme começa e vemos então dois grupos formados por homens entrando nos cenários que haviam sido criados, para que então eles testemunhem inúmeras cenas que serão apresentadas numa tela central do local e das quais cada um delas irá gerar reações diversas em cada um deles.
Já nos primeiros minutos alguém faz uma referência ao programa de TV Big Brother, já que eles se encontram num cenário aonde eles irão se interagir e tendo suas reações registradas de acordo com o que irão testemunhar na tela central. É inevitável que se aja essa comparação, mas que, diferente de inúmeros realities shows, Câmara de Espelhos está mais preocupado em tentar fazer com que esses indivíduos exponham as suas reais opiniões de um mundo cada vez mais feminista, mas que ainda sofre com o preconceito nascido do machismo vindo dos homens e até mesmo das próprias mulheres. Embora no princípio cada um deles tente passar uma atitude neutra, aos poucos, eles começam a ficarem mais a vontade ao lançar suas opiniões e gerando reações dos demais que se encontram no cenário.
Os temas expostos na tela central variam, desde o desejo sexual da mulher, como também a violência contra ela, a vida profissional, ter ou não ter filhos, questão do aborto e etc. Para obter então uma reação da qual se gere um debate após a exibição de cada cena apresentada, a cineasta convidou homens de gerações diferentes, opiniões distintas, assim como as crenças e até mesmo alguns com conhecimento com relação à história. Isso se cria certo atrito no ar no decorrer do documentário, já que a maioria tem opiniões que diferem das outras e fazendo com que todos tenham uma reação imediata.
Há logicamente opiniões muito conservadoras no decorrer da projeção, como no caso de um senhor mais velho do grupo querer se casar com uma mulher, unicamente para que ela faça tudo que ele quer e que ela seja surda e muda. É nesses momentos que a câmera da cineasta foca a todo custo cada um deles, para que então se obtenha um registro preciso de suas reações. A utilização de espelhos dentro do cenário, por exemplo, não é de uma forma gratuita, mas sim necessária, pois mesmo quando a câmera não foca alguém disparando uma opinião, os reflexos contribuem para testemunharmos diversos ângulos da ação e reação.
Embora nunca apareça, a diretora Dea Ferraz faz questão de participar dos debates acalorados de uma forma indireta. Num determinado momento, por exemplo, quando o debate se encontra no calor do momento, a cena é cortada, para que a tela seja banhada pela escuridão e para somente ouvirmos a cineasta dizendo para o cameraman onde se posicionar para pegar o melhor ângulo do momento. O ápice desses momentos é quando Ferraz age como um verdadeiro “Grande Irmão” (ou Big Brother) e dizendo para o seu colega de produção (que se encontra nos dois grupos de debate) reagir no calor do momento e para que assim o assunto tome outros rumos.
Na questão do aborto, por exemplo, preconceito, crenças e pensamentos até mesmo racionais são colocados na mesa e gerando um atrito do qual é sentido por todos. O clima só não vai para um caminho de agressão verbal porque há um interesse mútuo pelo diálogo mais racional, mesmo quando o preconceito tente aflorar de alguns deles. A cena final, aliás, não é preciso ser dito nada, pois basta observarmos a expressão do rosto de alguns em cena para nós termos uma ideia do que eles pensam quando eles veem na tela mulheres feministas protestando nas ruas pelos seus direitos e nas mais diversas formas.
Mais do que um mero Big Brother cinematográfico, o documentário Câmara de Espelhos escancara um Brasil ainda muito preconceituoso e que tem muito que aprender sobre os direitos iguais do mundo contemporâneo. 
Onde assistir: Cinebancários: Rua General da Câmara, nº424, centro de Porto Alegre. Horário: 15h e 19h.    



Me sigam no Facebook, twitter, Google+ e instagram

Nenhum comentário:

Postar um comentário