terça-feira, 31 de outubro de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: MANIFESTO


Sinopse: Os históricos manifestos de arte podem ser aplicados à sociedade contemporânea? É isso o que Cate Blanchett tenta responder ao explorar os componentes performáticos e o significado político de declarações artísticas e inovadoras do século XX, que vão dos futuristas e dadaístas ao Pop Art, passando por Fluxus, Lars von Trier e Jim Jarmusch.




Manifesto é um filme que se propõe a discutir o real papel da arte de ontem e hoje. Existe uma exposição de pensamentos dos quais a obra explora, sendo que, em alguns momentos, entrando até mesmo em confronto entre si e sintetizando a proposta principal do filme como um todo. Talvez a proposta da qual o artista plástico e agora diretor estreante Julian Rosefeldt queira nos passar é essa: onde se encontra a originalidade?
Talvez a arte de hoje pudesse ser criada a partir da essência do seu artista, sendo uma representação do mundo do qual convive e o rodeia. Ao invés disso, talvez estejamos apenas testemunhando manifestações com teor plástico, da qual nos cause uma sensação de Déjà vu, em vez de presenciarmos algo no mínimo original e ao mesmo tempo crítico.
Num primeiro momento, talvez pensássemos que estivéssemos sendo formados desde sempre a ter uma visão autoral e livre para moldarmos o que bem entendermos com relação a arte. Porém, num manifesto visto e dito no próprio filme, uma professora põe regras e limites para os seus alunos com relação ao que devem fazer com relação aos seus trabalhos artísticos. Isso vai contra a essência primordial da verdadeira arte, da qual não se deve haver amarras, mas sim tendo uma espada, na qual consegue cortá-las e criando-se então métodos para se fazer pensar e revolucionar.
Por meio de discursos profundos e reflexivos, Manifesto soa como uma verdadeira poesia filmada. A ironia é que, para compor sua obra, Rosefeldt também usa referências, da mesma maneira como uma espécie de critica no filme. Porém, o seu primeiro longa metragem vai muito além dessa proposta. 
Ouso dizer que Manifesto corre sério risco de se tornar um dos filmes mais originais nesse ano que está passando. Criado para ser exposto numa exposição na Austrália em 2015, Rosefeldt reuniu essas manifestações artísticas para então criar a sua obra, que vai desde a música, passando pela dança e, logicamente, o cinema. O desejo era para que essa nova geração tivesse um conhecimento sobre essas ideologias e fizessem com que pensassem sobre elas.
Mas então eis que veio a ideia de transformar isso num filme e ser levado para os cinemas. É claro que num primeiro momento ficamos em dúvida com relação a um artista de primeira viagem no mundo da sétima arte, principalmente pelo fato de que não é fácil passar textos dos quais poderiam soar até mesmo abstratos demais em cena. Porém, Rosefeldt surpreende ao criar um filme visualmente complexo em alguns momentos e que, embora lembre obras como Brazil: O filme (de Terry Gilliam) nos passe certa originalidade e obtendo então a nossa total  atenção.
Contudo, o que torna Manifesto um filme indispensável é a presença magnética de Cate Blanchett, que aqui interpreta 13 personagens distintos durante o filme. Se por um lado, o cinéfilo acha um tanto estranho um filme ser protagonizado praticamente por uma única atriz interpretando vários personagens, por outro, o que se prezar ir até o fim dessa cruzada irá se sentir mais do que compensado. Cate Blanchett definitivamente some de cena e dando lugar aos seus enigmáticos personagens e com seus mundos distintos e particulares.
Além do filme se inspirar em vários artistas dos quais merecem destaque na tela, Manifesto acaba mirando em outros alvos dos quais merecem uma total atenção para termos um momento de reflexão. Eis que o filme mira então no capitalismo (sendo um sistema ultrapassado que em longo prazo acarretou vários problemas na sociedade dito no filme), a postura e manipulação da mídia, e até dos próprios críticos, que usam sua linguagem subliminar para dizer como compreendem a arte mais do que os outros poderiam entender. Mas embora tenha nascido à ideia a partir de 2015, há uma surpreendente coincidência de o filme chegar justamente no Brasil de agora, sendo num momento em que conservadores, como no caso do  movimento MBL, querer nos dizer a todo custo o que é arte, quando na verdade criam somente uma cortina de fumaça para ocultar os verdadeiros males que afligem o nosso país atualmente. 
Manifesto definitivamente não é um filme do qual será compreendido por todos, mas é graças a sua originalidade, além da contribuição e o esforço surpreendente vindo de Cate Blanchett, é o que torna o filme uma experiência incomum e que foge por completo do convencional.


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