terça-feira, 8 de agosto de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: O Filme da Minha Vida



Sinopse: Serras Gaúchas, 1963. Tony cresceu sem a presença do pai francês (Vincent Cassel). Os anos passam e ele se torna professor de francês. Tony é apaixonado por livros e começa a frequentar um cinema. Com o passar do tempo, o professor descobre informações sobre seu passado, o forçando a tomar importantes decisões.
Não é pela sua originalidade na trama em que um filme alcança os seus status de qualidade, mas sim na forma como ele foi conduzido.  Em alguns casos, a parte técnica rouba a cena, mas não para superar a trama, mas sim para torná-la ainda melhor. O filme da Minha Vida é um desses casos em que a parte técnica, assim como na maneira em que o cineasta dirige as cenas, é o que nos faz prestar mais atenção na obra, mesmo quando ela não tenha nenhuma pretensão de mudar as nossas vidas através de sua história.
Baseado na obra do escritor chileno Antonio Skármeta (O Carteiro e o Poeta), o filme se passa nas Serras Gaúchas do ano de 1963, onde acompanhamos a vida do jovem Tony (Johnny Massaro, de Divã), do qual tinha uma infância feliz ao lado do seu pai francês (Vicent Cassel). Porém, ao voltar da faculdade, seu pai decide ir embora, abandonando não só ele como também a sua mãe. Para afogar suas dores, Tony se torna professor de língua francesa, lendo inúmeros livros, frequentando cinema, mas através dessa sua jornada de autoconhecimento será por onde ele consegue aos poucos compreender a partida de seu pai.
Após ter dirigido o maravilhoso O Palhaço, muitos se perguntavam se Selton Mello continuaria ou não dirigindo filmes. Esperando pelo momento certo para voltar atrás das câmeras, Selton se apaixonou pela obra de Antonio Skármeta e isso é muito visível na forma em que ele conduz o longa. O filme da minha vida pode ser simplificado como um retrato da transição da juventude para a fase a adulta, mas o cineasta vai muito além, ou ao menos na forma como ele conduz a sua criação.
Apaixonado pelo cinema como ninguém, Selton Mello bebeu da fonte do cinema francês na criação desse filme, mais precisamente em um dos períodos mais prolíficos daquele país que foi o movimento Nouvelle vague. Digo isso porque o seu protagonista Tony é uma espécie de Antoine Doinel, o alter ego do cineasta François Truffau, que havia surgido no clássico Os Incompreendidos e sendo interpretado pelo então jovem ator Jean‑Pierre Léaud. Assim como a sua contra parte francesa, Tony vive numa cruzada de descobertas, onde enxerga arte através do amor e do amor enxerga a beleza saindo dos poros das mulheres das quais ele enxerga.
Dessas mulheres, ele se apaixona pela jovem Luna (a bela e talentosa Bruna Linzmeyer de A Frente Fria Que a Chuva Traz), sendo que essa corresponde pelos seus desejos. Aliás, através Bruna Linzmeyer que Selton Mello conduz na criação de uma belíssima cena, da qual é uma representação do olhar que Tony tem e sente por ela ao observá-la no pátio da escola. Plasticamente eficaz, a cena é um belíssimo casamento entre fotografia, montagem, edição de arte e se tornando um dos pontos altos do filme.
A cena é na realidade um exemplo do que é o filme como um todo, onde o cineasta nos brinda com uma belíssima reconstituição de época, alinhada com uma belíssima fotografia e que nos passa uma época mais inocente e dourada. Aliás, a fotografia se torna uma representação do amadurecimento e mudança das quais o personagem Tony vai passando: de cores quentes reconfortantes, o clima muda para um tom mais pálido, sombrio e se tornando uma representação do caminho do qual Tony terá que trilhar para descobrir a verdade sobre o seu pai.
É através das duas figuras paternas que Tony começa a ser conduzido para sua fase adulta. Na ausência do seu pai (Cassel), temos então Paco (o próprio Selton Mello), homem do campo, mas tendo um olhar crítico com relação ao mundo do qual vive e não escondendo certos conflitos internos dos quais ele mantém dentro de si. Mesmo que de uma forma indireta, é através de Paco que Tony descobre um passado até então desconhecido do seu pai e cabe a ele saber administrar tamanhas informações das quais ele então receberá.
Não que o filme se prende ao politicamente correto, mas ele nos passa a ideia de termos que aceitar os erros do próximo, pois querendo ou não, isso faz parte do que é ser humano. Uma vez aceitando essa realidade, Tony se encaminha para um novo estágio de sua vida, do qual irá dar de encontro com uma nova estrada, mas que somente ele poderá atravessá-la. Tudo isso moldado de uma forma que, tecnicamente, faz com que a gente saia da sala com uma sensação de conforto, mesmo quando a trama não tenha apresentado nada de extraordinário, mas visualmente sendo tudo bem feito. 
O Filme da Minha Vida é uma obra visualmente bela, cinematograficamente falando, mesmo quando ela não traga em sua trama nada que vá mudar as nossas vidas como um todo. 


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