segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: ELLE



Sinopse:Michèle (Isabelle Huppert) é a executiva-chefe de uma empresa de videogames, a qual administra do mesmo jeito que administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando tudo de maneira precisa e ordenada. Sua rotina é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. No entanto, ela decide não deixar que isso a abale. O problema é que o agressor misterioso ainda não desistiu dela.

Até a pouco tempo me perguntava por onde andava Paul Verhoeven, pois estamos falando do cineasta responsável pelo nascimento de pérolas como Robocop, Vingador do Futuro, Instinto Selvagem e dentre outros. Mas devido a sua visão crítica, cuja maioria dos seus filmes explora a frieza da alma humana contemporânea, ele meio que acabou se tornando um autor estranho numa terra americana dominada pelo politicamente correto. Nada melhor então do que mudar de território, mais precisamente na França, onde lança Elle, provavelmente um dos melhores e mais provocativos filmes do ano.
Baseado na obra de Philippe Djian, o filme já começa com um soco no estômago, onde presenciamos Michèle (Isabelle Huppert, extraordinária), uma bem sucedida dona de uma empresa de vídeo games, ser brutalmente estuprada por um misterioso mascarado dentro de sua casa. Mas ao invés de cair na fragilização, Michèle age como se nada tivesse acontecido e segue na vida de negócios com punho de ferro. Mas ao mesmo tempo em que ela tenta descobrir o autor do tal ato, aos poucos o seu passado trágico bate a sua porta, assim como também atraindo certos lobos, mas que, aos poucos, vão caindo em sua teia bem arquitetada.
Com toques de suspense (bem ao estilo Hitchcock), drama, humor negro e sensualidade, o filme é uma pequena representação do mundo de hoje, mais precisamente sobre determinados grupos de pessoas que possuem a faca e o queijo na mão para obterem a felicidade, mas que não conseguem saber administrar tal feito. Dinheiro, traições e interesses rondam a vida de Michèle, sendo que esses elementos a tornam uma mulher fria e calculista. Porém, ela prefere ser assim, a ser então mastigada facilmente pelo lado hipócrita do universo da burguesia.
Enfrentar essa realidade é não transmitir fragilidade e coube Isabelle Huppert para tal feito. Dona de alguns dos papeis mais fortes do inicio do século 21 (como A professora de Piano), Isabelle Huppert transmite em sua personagem um ar de fria, calculista e que não se deixa abalar por ameaças vindas de baixo ou de cima. Aos poucos, percebemos que sua imagem de “Malévola contemporânea” é mais para se defender contra aqueles que tentam obter poder as suas custas, mesmo sendo pessoas muito próximas a ela.
São através dessas pessoas que obtemos um mosaico de figuras pálidas perante a sua personalidade forte: ex-marido (Charles Berling) vivendo pela sua sombra; um filho (Jonas Bloquet) dependente dela e pau mandado da namorada; um amante (Christian Berkel) mau caráter e justamente marido de sua melhor amiga (Anne Consigny) e uma mãe (Judith Magre) fora de sintonia com a realidade e sendo sugada por um namorado Gigolô. Mas fora esses personagens, em que pé se encontra o estuprador?
Por muitos momentos, o mistério em torno da real identidade do estuprador, serve apenas para movimentar as pedras desse xadrez e revelar cada vez mais o ser por detrás da superfície da protagonista. Aos poucos conhecemos o seu passado nebuloso, onde se confirma cada vez mais o fato de que ela vive num mundo onde o homem tenta oprimir a mulher, quando na realidade não passam de seres perdidos perante essa realidade complexa do mundo cada vez mais dominado por elas. Aliás, é preciso reconhecer a idéia engenhosa do cineasta em colocar o mundo do vídeo games na trama, já que eles servem para expor os desejos e extravasamento mais primitivos do ser humano.
Em um único filme, Paul Verhoeven coloca todos esses elementos vistos em suas obras anteriores e criando então uma trama provocativa e cheia de simbolismos. Um filme que, talvez, simbolize um pouco de sua busca pela estabilidade e controle criativo de suas obras. Coisa que talvez ele nunca tenha adquirido em território americano, mas antes tarde do que nunca.
Ao final de Elle, chego à conclusão que Paul Verhoeven nos passa idéia de que o mundo será um dia realmente governado pelas mulheres e a gente só agradece.    



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