quarta-feira, 15 de junho de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: TRAGO COMIGO



Sinopse: Telmo (Carlos Alberto Riccelli), um diretor de teatro aposentado, foi membro da luta armada durante a ditadura militar e chegou a ser preso por seis meses por conta disso. Porém, ele não consegue se lembrar de nada desse período, além de alguns lapsos momentâneos. Para tentar reativar sua memória e descobrir o que aconteceu, ele decide criar uma peça de teatro. Contando com um jovem elenco de atores, Telmo vai reconstruir a sua própria história.

No filme HOJE, a personagem de Vera (Denise Fraga) está se mudando para um novo apartamento, já que conseguiu através de uma indenização vinda do governo em decorrência do assassinato do seu marido Luiz (César Troncoso) no tempo em que eram militantes. No decorrer da obra, a personagem relembra o seu passado e enfrentando dolorosas lembranças e fantasmas dos quais não consegue desvencilhar. Toda a trama se passa em um único cenário, ou seja, o apartamento, do qual se torna uma espécie peça fundamental para a trama.
Naquele filme, Tata Amaral quis fazer uma trama da qual as lembranças de tempos difíceis como da ditadura se tornassem algo dolorido e que dificilmente a pessoa consegue esquecer. Quem vivenciou sabe o que eram aqueles tempos, mas que não se pode esquecer e que se deve passar como fonte de informação para as novas gerações que mal sabem o que realmente acontecia naquele período. Em Trago Comigo, a cineasta dá continuidade de como se deve da melhor forma possível manter essa história viva e para servir de alerta para que os erros do passado não se repitam em nosso presente. 
Telmo (Carlos Alberto Riccelli) é um ex militante e agora aposentado. Apaixonado pelo teatro decide adaptar a sua vida de luta no palco, para que então, somente assim, não somente exorcize as suas antigas dores, como também consiga lembrar-se de coisas que ele próprio havia esquecido. Contudo, o fantasma de seu antigo amor do qual havia perdido pode se tornar o seu calcanhar de Aquiles para realização de sua obra.
Assim como HOJE, boa parte da trama se passa em um único cenário, ou seja, tudo ocorre dentro do teatro do qual eles irão fazer a peça. Porém, mais do que vermos os personagens centrais ensaiando para a peça, vemos também essas determinadas cenas cortarem para cenas da peça já sendo encenada pra valer. Isso se cria um belo jogo de cena e fazendo com que criamos um quebra cabeça mental, onde comparamos o antes e o depois da cena já orquestrada para um possível público que for assistir.
O casamento entre cinema e teatro não é exatamente novo para o cinema brasileiro autoral de hoje, já que ano passado havia sido lançado o filme Orestes, de Rodrigo Siqueira, e que tratava de temas semelhantes. Curiosamente, ambos possuem o teatro como pano de fundo, dando a entender que essa arte, ou qualquer outra que preze, seja uma espécie de escape para exorcizar os seus demônios pessoais. Outra semelhança é de ambos serem ficção/documentário, já que aqui, a trama principal se entre corta entre depoimentos de ex-militantes e de parentes de pessoas que ainda hoje se encontram desaparecidos desde os anos de chumbo.
Interessante observar que, embora ajam pessoas conhecedoras de história, é impressionante como ainda exista pessoas do nosso mundo real que desconhecem as consequências daquele período e até mesmo desejam o seu retorno. Pegamos, por exemplo, o personagem Miguel Jarra (Felipe Rocha), um ator, aparentemente, limitado de novelas, mas que deseja atuar na peça. Porém, ele demonstra total desconhecimento da época da ditadura e não consegue entrar no personagem, sendo justamente Telmo (Riccelli) quando ele era militante.
Embora seja coadjuvante, o personagem de Felipe Rocha se torna bem interessante no decorrer da trama, já que ele seria uma espécie crítica que a cineasta faz, não somente sobre a geração atual desinformada, como também a geração de atores televisivos, que nada mais são do que meros bonecos que fazem pose de galão. Contudo, o seu personagem vai se transformando, principalmente quando descobre aos poucos o que Telmo realmente passou. Quando chegamos ao final, percebemos uma transformação completa de seu personagem e se distanciando da imagem do que ele foi um dia no princípio do filme.
Claro que a verdadeira alma do longa acaba sendo o próprio Telmo, sendo interpretado de uma forma convincente, para não dizer inesperada, pelo ator Carlos Alberto Riccelli. De forma eficiente, ele consegue passar para nós o fato de seu personagem carregar um grande peso do mundo nas costas, principalmente quando se considera culpado pela perda de um grande amor do seu passado. Riccelli transmite bem para nós, tanto no olhar, como nas palavras e trejeitos, uma pessoa cheia de cicatriz internas e que às vezes uma delas se reabre para lhe atormentar.
Em tempos em que vemos na tv deputados conservadores que idolatram torturadores do tempo da ditadura, filmes como Trago Comigo se tornam obras mais atuais do que nunca e obrigatório para ser visto e revisto por pessoas que procuram os verdadeiros fatos de nossa história.      



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