segunda-feira, 21 de março de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: TERRA E A SOMBRA



Sinopse: Alfonso (Haimer Leal) volta para casa após 17 anos de ausência, devido à doença que seu filho sofre. A situação tem mobilizado toda a família, com a esposa dele e sua mãe trabalhando na plantação de cana de açúcar para conseguir o sustento financeiro necessário. Mesmo com Gerardo (Edison Raigosa) praticamente trancafiado em casa, já que todas as janelas permanecem sempre fechadas para que não entre poeira, ainda assim ele não apresenta melhora no estado de saúde. Diante da situação, a família busca algum meio de interná-lo.



Atuado por interpretes amadores (atriz Marleyda Soto, intérprete da esposa do filho, é a única atriz realmente do elenco), o filme é franco desde o princípio na sua aproximação do qual faz com o setor primário da economia da Colômbia. Da fúria dos canavieiros, das queimadas ou mesmo da forma como a cana toma a casa, é evidente que o cineasta Cezar Azevedo condene a tomada industrial na agricultura colombiana e na forma como ela gradualmente acaba com a terra, agora virada em cinzas e sem nenhum sinal de vida. A doença do filho dentro da trama, assim como inúmeros outros exemplos a serem vistos, dá o movimento na história, na identificação dos efeitos do capitalismo selvagem sobre o homem, que dá pouco crédito e tão pouco dá assistência médica para aqueles que trabalham ferozmente abaixo do sol.
Os planos de dentro da casa são sombrios com o mais puro silencio. A penumbra e o silêncio comandam o cenário e transformando o ambiente num clima de luto em respeito ao rapaz doente após anos de sacrifício no trabalho de cana. Portas e janelas estão sempre trancadas para que não entre sujeita, o que demonstra um trabalho quase inútil visto a enorme montanha de cinzas que invadem o local por conta das fumaças das queimadas constantes de terrenos ao redor.
Esse cenário é um verdadeiro contraste quando nos deparamos com a parte externa da casa: quente e cantada aos sons dos passarinhos. A paisagem, embora simples, é muito bela de ser vista, registrada de uma forma sublime pela câmera e provando que, apesar dos problemas e dramas humanos, há ali uma natureza viva e boa para ser apreciada. 
O drama da família é um reflexo no espelho que reflete um problema sério vem do horror da exploração dos ricos pelos pobres. O médico do local é um inútil e nada faz pela recuperação do rapaz, além de lhe receitar meia dúzia de medicamentos, assim como nada se pode esperar dos chefões dos canaviais, que sugam os seus trabalhadores até o máximo possível sem sequer pagar os meses de trabalho a fio.
O filme tem uma aproximação com a nova onda que acontece no cinema do qual se chama ficção/documentário (filmes como Castanha) e, portanto prega uma aproximação quase documental, sempre deixando as imagens falarem por si, muito mais do que as palavras, que são bem curtas. A janela da casa, raramente aberta, mostra muito pouco o lado de fora da paisagem, que vai morrendo na frente dos nossos olhos devido à exploração do homem.
O lado cinematográfico é tão bem filmado que acaba reduzindo o impacto político trazido pelos temas colocados na mesa, nos conquistando mais pela manifestação estética. Algumas imagens se aproximam de um quadro em movimento, lembrando aquelas imagens que dá sempre a sensação de estarem se mexendo. O filme merecidamente ganhou o prêmio Câmera D’or no Cannes, destinado a diretores estreantes.
Acima de tudo, o personagem de Alfonso, que no principio poderia ser facilmente alvo de desprezo, ganha gradualmente um brilho cada vez maior dentro da história, abrindo o nosso olhar e perspectiva que não se contenta com maniqueísmos nem com respostas de simples solução. Uma obra realmente bem feita que nos leva a ficar atentos com os próximos trabalhos, não somente desse cineasta, como também do cinema colombiano como um todo.


  

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