sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Cine Dica: Em Cartaz: ORESTES



Sinopse:A filha de uma militante política traída e executada, uma defensora da pena de morte e uma enfermeira que lida diariamente com o resultado da violência são alguns dos personagens que se confrontam nesta reflexão sobre os mecanismos da justiça.


Atualmente a resposta dos brasileiros contra o crime tem sido muito agressiva, aonde muitos desejam até mesmo a morte de bandidos através do linchamento. Esse assunto, por vezes, se manifesta em alguns casos, como quando ocorrem confrontos entre policiais e (supostos) criminosos e é então quando entra em cena reflexões sobre o que ocorreu realmente nos tempos da ditadura. No mais novo filme de Rodrigo Siqueira (Terra Deu, Terra Come), Orestes constrói um cenário entre ficção e realidade para voltar no assunto com todo o seu lado complexo do decorrer do tempo.
Inspirado na tragédia Oréstia de Ésquilo com o caso do Cabo Anselmo, agente infiltrado que colaborou para a morte de vários militantes nos anos 1970, entre eles sua companheira Soledad Viedma, o filme estabelece e enlaça outros assuntos similares do passado, presente e cria um mosaico de inúmeros debates e reflexões para serem digeridas gradualmente. Das inúmeras opiniões colocadas na mesa, vários envolvidos com a discussão, basicamente divergem de uma defensora de vitimas da violência que procura explicar de uma forma franca os sentimentos de vingança com o discurso de proteger os inocentes contra os bandidos que devem ser punidos severamente. Nesse ponto, o filme escancara os movimentos de grupos que praticam justiças com as próprias mãos e que acreditam estar acima de qualquer pessoa para praticar tais atos.
Em situações que exploram o lado emocional, as sessões de psicodrama envolvem os mesmos protagonistas, com destaque para a filha de Soledad e suas dores com relação a dúvidas quanto a sua paternidade. No nível jurídico, um julgamento fictício protagonizado por dois advogados põe em debate a culpabilidade de um Orestes fictício que, é baseado no caso de Anselmo e Soledad, e por extensão o perdão aos torturadores facultado pela Lei da Anistia. As cenas filmadas de São Paulo, aonde focam um  urubu voando  e depois por um helicóptero policial representam esse assunto e transformam num verdadeiro  estudo sobre as pulsões latentes na sociedade do passado e de hoje.
Em certo momento do longa, um dos personagens, sobrevivente da ditadura, diz: “Tive que procurar ajuda profissional para arrumar minha cabeça porque eu ia pirar. A questão não era o torturador que me machucou. É o torturador que tinha dentro de mim”. Os padrões de comportamento que são repetidos podem também ser fruto do que em psicologia chamamos de reforço positivo. Aquele que é achacado, assim que mudar de posição, não perderá a chance de dar o troco.
Nesse particular, Rodrigo, que dirigiu e escreveu o documentário, faz importante crítica à Lei da Anistia, que ao perdoar os crimes, chancela a impunidade e deixa livre a possibilidade de que os tais padrões de comportamento continuem acontecendo. A revisão da lei da Anistia proposta pela OAB foi rejeitada pelo STF, ainda em 2010, sob a justificativa de que, “devemos olhar para o futuro não para o passado”, nas palavras de Marco Aurélio Mello. A instância máxima da Justiça falava em transição democrática pacífica. O perdão aos torturadores trouxe uma carga emocional fortíssima para os violados e não propiciou a transição. Ainda vivemos em uma ditadura. Mas as vítimas e os motivos mudaram.
Embora sendo exibido num circuito restrito, Orestes é um documentário para ser visto por todos, onde nós coloca  de frente com o melhor e o pior de nós e resta somente você descobrir quais desses dois lados você mais alimenta. 


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