Sinopse:A filha de uma militante política traída e executada, uma
defensora da pena de morte e uma enfermeira que lida diariamente com o
resultado da violência são alguns dos personagens que se confrontam nesta
reflexão sobre os mecanismos da justiça.
Atualmente a resposta dos brasileiros
contra o crime tem sido muito agressiva, aonde muitos desejam até mesmo a morte
de bandidos através do linchamento. Esse assunto, por vezes, se manifesta em
alguns casos, como quando ocorrem confrontos entre policiais e (supostos)
criminosos e é então quando entra em cena reflexões sobre o que ocorreu
realmente nos tempos da ditadura. No mais novo filme de Rodrigo Siqueira
(Terra Deu, Terra Come), Orestes constrói um cenário entre ficção e
realidade para voltar no assunto com todo o seu lado complexo do decorrer do
tempo.
Inspirado na tragédia Oréstia de
Ésquilo com o caso do Cabo Anselmo, agente infiltrado que colaborou para a
morte de vários militantes nos anos 1970, entre eles sua companheira Soledad
Viedma, o filme estabelece e enlaça outros assuntos similares do passado, presente
e cria um mosaico de inúmeros debates e reflexões para serem digeridas
gradualmente. Das inúmeras opiniões colocadas na mesa, vários envolvidos com a
discussão, basicamente divergem de uma defensora de vitimas da violência que
procura explicar de uma forma franca os sentimentos de vingança com o discurso
de proteger os inocentes contra os bandidos que devem ser punidos severamente.
Nesse ponto, o filme escancara os movimentos de grupos que praticam justiças
com as próprias mãos e que acreditam estar acima de qualquer pessoa para
praticar tais atos.
Em situações que exploram o lado
emocional, as sessões de psicodrama envolvem os mesmos protagonistas, com
destaque para a filha de Soledad e suas dores com relação a dúvidas quanto a
sua paternidade. No nível jurídico, um julgamento fictício protagonizado por
dois advogados põe em debate a culpabilidade de um Orestes fictício que, é baseado
no caso de Anselmo e Soledad, e por extensão o perdão aos torturadores
facultado pela Lei da Anistia. As cenas filmadas de São Paulo, aonde focam um urubu voando e depois por um helicóptero policial representam
esse assunto e transformam num verdadeiro estudo sobre as pulsões latentes na sociedade
do passado e de hoje.
Em certo momento do longa, um dos
personagens, sobrevivente da ditadura, diz: “Tive que procurar ajuda
profissional para arrumar minha cabeça porque eu ia pirar. A questão não era o
torturador que me machucou. É o torturador que tinha dentro de mim”. Os padrões
de comportamento que são repetidos podem também ser fruto do que em psicologia
chamamos de reforço positivo. Aquele que é achacado, assim que mudar de
posição, não perderá a chance de dar o troco.
Nesse particular, Rodrigo, que dirigiu
e escreveu o documentário, faz importante crítica à Lei da Anistia, que ao
perdoar os crimes, chancela a impunidade e deixa livre a possibilidade de que
os tais padrões de comportamento continuem acontecendo. A revisão da lei da
Anistia proposta pela OAB foi rejeitada pelo STF, ainda em 2010, sob a
justificativa de que, “devemos olhar para o futuro não para o passado”, nas
palavras de Marco Aurélio Mello. A instância máxima da Justiça falava em
transição democrática pacífica. O perdão aos torturadores trouxe uma carga emocional
fortíssima para os violados e não propiciou a transição. Ainda vivemos em uma
ditadura. Mas as vítimas e os motivos mudaram.
Embora
sendo exibido num circuito restrito, Orestes é um documentário para ser visto
por todos, onde nós coloca de frente com o melhor e o pior de nós e resta
somente você descobrir quais desses dois lados você mais alimenta.
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Excelente o blog. Muito bom gosto. Parabéns. NathyFlix
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ResponderExcluirObrigado querida
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