Sinopse: No passado, Riggan
Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, um
super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a
estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em
busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir,
roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway.
Entretanto, em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner (Edward
Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough), Riggan precisa
lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e ainda uma estranha voz que insiste
em permanecer em sua mente.
Pegamos um exemplo básico:
se eu simplesmente escrever a minha critica sobre esse filme, no máximo ela alcançará
umas cem visualizações hoje na minha pagina. Porém, se eu terminar ela e andar
nu na avenida Ipiranga de Porto Alegre e segurando um cartaz com os dizeres “leem
a minha critica seus filhos da p..” com certeza eu terei no mínimo umas
noventa mil visualizações hoje.
Começo a minha critica dessa forma pensando sobre o homem atual, com seu talento para dar e vender, tentando
escrever os melhores textos ou interpretando os melhores personagens no palco. Contudo,
se surge um garoto que sofre um pequeno acidente com o skate e grita um
palavrão devido a isso, ele será muito mais famoso hoje postando esse momento
no youtube do que um profissional da área da cultura que deu o sangue ao longo
dos anos para nos passar algo mínimo criativo. Vivemos numa época em que o absurdo,
voyeurismo, redes sociais e filmes com roteiros mastigados, para serem vistos
pela massa cinéfila, dominam o mercado de entretenimento em proporções irreversíveis
e Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é o melhor filme do momento
que sintetiza esse mundo contemporâneo que vive num verdadeiro cataclismo.
Tendo surpreendido em
filmes como 21 Gramas e Babel, Alejandro González Iñárritu não mede esforços
para apontar o dedo em todo o lugar que mereça uma analisada e uma critica ácida.
Em seu filme, Thomson (Michael Keaton) já foi um grande astro do cinema no
passado, ao interpretar um famoso super herói de HQ, mas no momento que desiste
da cine série, vê sua carreira ir para o espaço. Tentando uma volta por cima na
carreira, o protagonista dirige, roteiriza e atua numa peça teatral na Broadway,
mas o mundo do entretenimento de hoje, mais uma estranha voz que manda fazer
algo que ele não quer, faz com que a qualquer momento seus planos deem tudo
errado.
O refrão “arte imita
a vida” se encaixa perfeitamente nessa obra, mais precisamente caindo no colo
de Michael Keaton: após ter atuado em dois filmes do Batman na virada dos anos
oitenta para os noventa, o ator se viu na participação de filmes que caíram no
esquecimento e sendo somente lembrado como o ex-ator do homem morcego. Talvez o
que vemos em Birdman é mais do que uma interpretação, mas sim as frustrações
que são postas para fora de um grande ator que, se viu mastigado pela indústria,
mas que busca uma redenção para a sua carreira e para sua própria vida pessoal.
Sendo assim, a trama
já no início nos bombardeia com piadas de humor negro e criticas contra a própria
Hollywood que, na visão pessoal do cineasta, vive hoje de franquias de super heróis
e que prendem inúmeros talentos a elas que, por bem ou por mal, tentam conseguir
um reconhecimento pelos olhos da massa. Thomson se tornou um indivíduo que se
recusa a se vender a esse sistema novamente, mas o mundo de histórias fáceis e redes
sócias, com as suas notícias e vídeos instantâneos, lhe fazem ficar num beco
sem saída que, lhe poderá arruiná-lo, mas que poderia sair beneficiado. Não se
vender ao sistema, mas não lutar contra ele seria uma derrota que poderia sair
daí uma vitória? É uma realidade estranha, mas real, no qual vivemos nela e que
o cineasta nos joga bem na nossa cara!
Esse duelo interior e
exterior que o protagonista enfrenta nos proporciona momentos de puro delírio
visual, que por vezes nos confunde, mas que rapidamente nos faz entender o que
esta acontecendo na nossa frente. Tem-se então, não somente uma critica verbal
contra o sistema, como também visualmente, onde delírios e realidade do
protagonista caminham de mãos dadas até chegar ao seu verdadeiro ápice. Atenção
para a cena onde Thomson caminha pela rua, discutindo com o seu eu interior
(mas precisamente Birdman) e nos proporcionando um dos momentos mais belos e imprevisíveis
do cinema desse ano.
Antes mesmo desse
momento sublime, Alejandro González dá uma verdadeira aula de plano-sequência
que, se por um lado ele não inova, por outro ele faz disso algo bem criativo. A
todo o momento a sua câmera esta em busca de algo, como se houvesse um desejo
de bisbilhotar o que acontece nos bastidores da peça a cada momento e
destrinchando o lado frustrado e alienado dos astros e dos que trabalham nesse
ramo. Embora perceptível o pulo do tempo em algumas cenas, o cineasta com
certeza buscou inspiração de outros diretores que se arriscaram a fazer tamanho
feito com os planos-sequências, como no caso do de Alfred Hitchcock quando fez
o seu Festim Diabólico.
Com a câmera que vai
a busca do que acontece por detrás das cortinas de uma peça, acabamos conhecendo
personagens coadjuvantes tão frustrados, que pensam somente em si, quanto o próprio
protagonista: o ator que surta a cada momento (Edward Norton), a atriz que busca
a realização de um sonho de estabilizar profissionalmente na Broadway (Naomi
Watts), o agente do protagonista que busca sempre uma forma melhor de sair lucrando
(Zach Galifianakis) e a filha deslocada (Ema Stone) do protagonista que, busca
uma reconciliação com o pai, mas ao mesmo tempo terá que matar os seus próprios
demônios interiores.
Personagens reais que,
embora com talentos nas veias, são frustrados com a vida, mas que buscam um
lugar nesse mundo concorrido, em que surgem a todo o momento celebridades instantâneas,
mas que logo são esquecidas e substituídas por celebridades piores ainda. Uma
trama que nos faz pensar e nos perguntar qual é o nosso papel nesse mundo louco,
independente de qual profissão você exerça, pois no fundo você deseja um lugar
ao sol para voar e sem se preocupar. Birdman ou (A Inesperada Virtude da
Ignorância) é isso e muito mais do que se possa imaginar.
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Meus parabéns pela resenha e o ótimo gosto para filmes.
ResponderExcluirObrigado Victor, sua opinião vale muito.
ResponderExcluirMuito bom seu texto. Gostei de outro post também no qual lembrou da carreira do ator Michael Keaton. Um ator maravilhoso que já devia ter ganho um oscas pelo conjunto de sua trajetória como ator.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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