quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Cine Especial: Cinema Marginal Brasileiro: Parte 1




 Na minha ultima participação desse ano, dentro dos cursos de cinema elaborados pelo Cena Um (dias 11 e 12 de dezembro), o assunto será sobre o Cinema Marginal Brasileiro, que será ministrado pelo jornalista Leonardo Bomfim. Enquanto a atividade não chega, estarei por aqui postando sobre os principais filmes desse movimento que bateu de frente com a censura da ditadura da época.

O BANDIDO DA LUZ VERMELHA 


Sinopse: Jorge, um assaltante de residências de São Paulo, apelidado pela imprensa de "Bandido da Luz Vermelha", desconcerta a polícia ao utilizar técnicas peculiares de ação. Sempre auxiliado por uma lanterna vermelha, ele possui as vítimas, tem longos diálogos com elas e protagoniza fugas ousadas para depois gastar o fruto do roubo de maneira extravagante.

Rogério Sganzerla, em seu segundo trabalho como diretor (o primeiro foi o curta Documentário de 1966) realiza um filme surpreendente, usando e abusando com o mito da crônica policial paulistana dos anos 60. Seu filme é uma espécie de “faroeste do terceiro mundo”, caótico e desconexo.  Com sua linguagem visual muito a frente do seu tempo, O Bandido da Luz Vermelha pode ser visto como o ponto de transição entre a estética do Cinema Novo (influenciado pela nouvelle vague do cinema francês) e a ruptura do Cinema Marginal. Um clássico inesquecível e que foi relembrado novamente, graças à sua sequência, intitulada  Luz das Trevas.

 

Matou a família e foi ao cinema



Sinopse: Rapaz da classe média mata a navalhadas o pai e a mãe e vai assistir ao filme "Perdidas de Amor", no qual um homem mata uma mulher por amor. Ao mesmo tempo, duas jovens se amam e uma delas mata a mãe que as critica; o marido mata a mulher que reclama das dificuldades financeiras.

Matou a família e foi ao cinema (1969), de Júlio Bressane, definitivamente é  uma das obras mais importantes da historia do nosso cinema brasileiro. Com um talento incomum, o diretor consegue fazer o filme oscilar, o tempo todo e de uma forma bem perigosa, entre o  drama, o clichê e o sublime, a vida cotidiana e um olhar pessoal na intimidade dos personagens  que, no entanto, jamais são desvendados por completo.
Os planos, melancólicos, aliado a uma impressionante fotografia em  preto-e-branco,  lembram muito mais o cinema mudo, do que o tão conhecido  nouvelles vagues francês daquele período. A montagem mistura as tramas  ao longo do filme, fazendo o espectador assistir por um momento uma trama, para então ser jogado em outra sem mais nem menos, exigindo maior atenção para aquele que assiste. 
Um filme corajoso em pleno regime da ditadura militar do Brasil, pois retrata um pouco a  desorganização da moral cotidiana, de destruição da família e a falta de afeto, mantêm seu impacto e sua emoção. Não tanto pelo registro histórico ou pela clarividência sociológica, mas pelo visionarismo cinematográfico do diretor, que foi capaz de transformar um argumento de base naturalista e melodramática numa das mais belas tragédias brasileiras.

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