Sinopse: João Carlos
Castanha tem 52 anos e é ator. Também trabalha na noite como transformista em
baladas gays. Vive com a mãe septuagenária, Celina, no subúrbio de Porto
Alegre. Solitário, doente e confuso, aos poucos ele deixa de discernir realidade
e ficção.
No ano passado eu havia
assistido na Casa de Cultura Mario Quintana o filme chamado Esse Amor que nos
Consome, onde mostrava uma dupla responsável por um grupo de dança alternativa.
O que me chamou atenção naquele filme é pelo fato dele transitar entre a ficção
e documentário, já que os protagonistas estavam atuando como eles mesmos e
mostrando na frente da câmera o seu cotidiano. Esse tipo de cinema brasileiro
talvez tenha começado a partir de 2007, com o maravilhoso O Jogo de Cena de
Eduardo Coutinho e com certeza irá se fortalecer ainda mais com Castanha.
Em seu primeiro longa metragem, Davi Pretto usa pouquíssimos recursos, porém eficientes, para focar o dia a dia de João Carlos Castanha, que durante as noites nas baladas de Porto Alegre, se torna um transformista para alegrar determinadas boates gays da capital gaúcha. Ao mesmo tempo convive com a sua mãe Celina e com um problemático sobrinho chamado Marcelo, que transita entre a marginalidade e a cada vez mais distante redenção. O grande charme do filme está no fato de não sabermos ao certo o que é real e o que é ficção, pois o próprio protagonista pára por um momento no que está fazendo e fala sobre a sua vida de ontem e hoje na capital.
Durante o dia, o protagonista passeia por lugares conhecidos da cidade, como a Casa de Cultura Mario Quintana e fazendo com que nos identificamos nestes momentos com ele. Mesmo quando ele se apresenta de uma maneira em que nos faça convencer a diferenciá-lo de nós. Mas isso não acontece.
Curiosamente, alguns momentos imprevisíveis surgem. Quando ator (ou personagem) dá de encontro com uma situação, onde estão ocorrendo filmagens de um casal discutindo, tem-se ali então um belo exemplo do cruzamento de ficção e realidade: seria o personagem trabalhando num filme dentro da história? Seria próprio João Carlos Castanha trabalhando no filme que estamos assistindo?
Ao mesmo tempo, o filme procura ser um retrato do nosso mundo contemporâneo atual, pois mesmo não dando enfoque sobre determinados assuntos, eles estão ali nas entrelinhas. Belo exemplo é o fato de nós sabermos em que época a trama se passa, a partir de assuntos do cotidiano do protagonista conversando com um taxista ou quando vemos o noticiário da TV e damos de cara com os protestos que se espalharão no país no ano passado. Temas políticos estão espalhados em toda projeção de forma discreta, mas certeira e embalados com um humor sarcástico do protagonista.
Contudo, Castanha por vezes tem o seu desempenho eclipsado pela atuação de sua própria mãe, que atua naturalmente e nos emociona quando toca no assunto com relação ao seu ex-marido, que atualmente se encontra no asilo. As cenas em que mostram o pai de Castanha no asilo são poucas, mas falam por si e correspondem um pouco sobre o tipo de relação que ambos tinham um com o outro. Aliás, essas cenas também representam um pouco sobre o passar tempo, que para o bem ou para o mau ele corrói e destrói tudo que existe.
A imagem de Castanha transformista na boate gay, mesmo conduzindo o seu público com o seu bom humor, não esconde o fato de sua imagem ser uma figura pálida do que já foi um dia. Seus traços do seu rosto, emoldurado por uma pesada maquiagem, tentam inutilmente esconder as marcas do passado, do seu presente e de um futuro indefinido. Talvez isso seja de propósito, sendo talvez uma representação cansada de sua luta perante uma sociedade que se encontra indefinida, não sabendo para aonde vai e ficando presos por valores que se encontram hoje falidos.
Valores esses que talvez deixem mundo em que Castanha vive um tanto que nebuloso. Querendo ou não, ele pertence há uma sociedade cada vez mais conservadora e alienada com políticos formados por pastores e que usam a palavra da bíblia como arma contra uma fatia de público que vai contra a maré dessa sociedade hipócrita. Mesmo com os percalços, os minutos finais nos dizem para não desistir e levarmos tudo pelo bom humor, mesmo quando isso parece não ter fim.
Cru, simples e direto, Castanha é isso e muito mais. Levando-nos a questionar o mundo que vivemos e fazendo nos identificar e nos questionar a nós mesmos.
Em seu primeiro longa metragem, Davi Pretto usa pouquíssimos recursos, porém eficientes, para focar o dia a dia de João Carlos Castanha, que durante as noites nas baladas de Porto Alegre, se torna um transformista para alegrar determinadas boates gays da capital gaúcha. Ao mesmo tempo convive com a sua mãe Celina e com um problemático sobrinho chamado Marcelo, que transita entre a marginalidade e a cada vez mais distante redenção. O grande charme do filme está no fato de não sabermos ao certo o que é real e o que é ficção, pois o próprio protagonista pára por um momento no que está fazendo e fala sobre a sua vida de ontem e hoje na capital.
Durante o dia, o protagonista passeia por lugares conhecidos da cidade, como a Casa de Cultura Mario Quintana e fazendo com que nos identificamos nestes momentos com ele. Mesmo quando ele se apresenta de uma maneira em que nos faça convencer a diferenciá-lo de nós. Mas isso não acontece.
Curiosamente, alguns momentos imprevisíveis surgem. Quando ator (ou personagem) dá de encontro com uma situação, onde estão ocorrendo filmagens de um casal discutindo, tem-se ali então um belo exemplo do cruzamento de ficção e realidade: seria o personagem trabalhando num filme dentro da história? Seria próprio João Carlos Castanha trabalhando no filme que estamos assistindo?
Ao mesmo tempo, o filme procura ser um retrato do nosso mundo contemporâneo atual, pois mesmo não dando enfoque sobre determinados assuntos, eles estão ali nas entrelinhas. Belo exemplo é o fato de nós sabermos em que época a trama se passa, a partir de assuntos do cotidiano do protagonista conversando com um taxista ou quando vemos o noticiário da TV e damos de cara com os protestos que se espalharão no país no ano passado. Temas políticos estão espalhados em toda projeção de forma discreta, mas certeira e embalados com um humor sarcástico do protagonista.
Contudo, Castanha por vezes tem o seu desempenho eclipsado pela atuação de sua própria mãe, que atua naturalmente e nos emociona quando toca no assunto com relação ao seu ex-marido, que atualmente se encontra no asilo. As cenas em que mostram o pai de Castanha no asilo são poucas, mas falam por si e correspondem um pouco sobre o tipo de relação que ambos tinham um com o outro. Aliás, essas cenas também representam um pouco sobre o passar tempo, que para o bem ou para o mau ele corrói e destrói tudo que existe.
A imagem de Castanha transformista na boate gay, mesmo conduzindo o seu público com o seu bom humor, não esconde o fato de sua imagem ser uma figura pálida do que já foi um dia. Seus traços do seu rosto, emoldurado por uma pesada maquiagem, tentam inutilmente esconder as marcas do passado, do seu presente e de um futuro indefinido. Talvez isso seja de propósito, sendo talvez uma representação cansada de sua luta perante uma sociedade que se encontra indefinida, não sabendo para aonde vai e ficando presos por valores que se encontram hoje falidos.
Valores esses que talvez deixem mundo em que Castanha vive um tanto que nebuloso. Querendo ou não, ele pertence há uma sociedade cada vez mais conservadora e alienada com políticos formados por pastores e que usam a palavra da bíblia como arma contra uma fatia de público que vai contra a maré dessa sociedade hipócrita. Mesmo com os percalços, os minutos finais nos dizem para não desistir e levarmos tudo pelo bom humor, mesmo quando isso parece não ter fim.
Cru, simples e direto, Castanha é isso e muito mais. Levando-nos a questionar o mundo que vivemos e fazendo nos identificar e nos questionar a nós mesmos.
Oi, Marcelo. Passando para conhecer seu blog. Estou gostando bastante.
ResponderExcluirBacana seu paralelo com o filme do Coutinho (O Jogo de Cena). Assim como nos filmes do documentarista, o Castanha (o filme como todo, não apenas o personagem/sujeito real) tem muita ternura para transmitir.
Oi Cicero, seja bem vindo. Que bom que gostou da minha critica e se puder continue acompanhando
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