segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Cine Dica: Em Cartaz: ROBOCOP (2014)



MISSÃO DADA, MISSÃO (QUASE) COMPRIDA.
  
Sinopse: Em um futuro não muito distante, no ano de 2028, drones não tripulados e robôs são usados para garantir a segurança mundo afora, mas o combate ao crime nos Estados Unidos não pode ser realizado por eles e a empresa OmniCorp, criadora das máquinas, quer reverter esse cenário. Uma das razões para a proibição seria uma lei apoiada pela maioria dos americanos. Querendo conquistar a população, o dono da companhia Raymond Sellars (Michael Keaton) decide criar um robô que tenha consciência humana e a oportunidade aparece quando o policial Alex Murphy (Joel Kinnaman) sofre um atentado, deixando-o entre a vida e a morte.



Fazer uma refilmagem que supere a obra original, que é considerada um grande clássico, é mesmo que querer reverter o curso de um rio. Por muito tempo Robocop ficou sendo alvo dos estúdios para retornar aos cinemas, mesmo sobre uma avalanche de protestos perante o projeto. Para a surpresa de todos, a árdua tarefa coube ao nosso cineasta José Padilha, que se por um lado faz um trabalho que não supera o original, por outro ele injeta a sua forma pessoal de se criar um filme e evita do projeto ter ido numa direção muito mais delicada.

Felizmente, a produção não cai na armadilha de se fazer uma mesma historia que embora ajam alguns pontos em semelhança, o filme de Padilha se envereda para outras questões não exploradas no original, como o fato de ser essencial um policial robô ter ainda o seu lado humano para que possa então ganhar a confiança do publico. Mas talvez uma das melhores coisas dessa mais nova versão é ver o protagonista ter que aceitar a sua condição meio homem e meio maquina.

Alex Murphy (Joel Kinnaman) é quase morto num atentado arquitetado por bandidos. Felizmente (ou não) consegue a oportunidade de continuar ainda vivo, graças ao projeto da empresa OmniCorp comandada por Raymond Sellars (Michael Keaton), que tem a ambição de colocar um ser humano num robô policial. É ai que entra em cena o cientista Norton (Gary Oldman), que é incumbido de transformar Alex numa maquina de combate contra o crime.  

Diferente do original, Alex não descobre aos poucos que um dia foi um ser humano, sendo que imediatamente ele acorda após a operação (numa seqüência de sonhos com direito a musica de Frank Sinatra) e começa a encarar a dura realidade do que aconteceu com ele. Sem sombra de duvida essa é uma das partes mais corajosas do filme, onde a armadura é tirada gradualmente e revela o que somente sobrou de Alex embaixo da carcaça de metal. É nesse ponto que Joel Kinnaman surpreende ao interpretar Alex Murphy, pois ele passa para nós toda a dor que está sentindo e desejando não estar naquela situação.

Com isso, o filme se envereda mais no drama do personagem em ter que aceitar as suas condições meio homem e meio maquina, sendo que ter uma vida normal com sua esposa (Abbie Cornish) e filho será praticamente impossível. Em meio a isso, o protagonista passa por inúmeros testes para ver se é correto um homem meio robô patrulhar as ruas. Ao mesmo tempo, começasse gradualmente o filme revelar as reais intenções, tanto  Raymond Sellars como também da própria policia que um dia Alex trabalhou.

É ai que se encontra o motivo pelo qual Padilha quis trabalhar nesse projeto, pois o filme faz com que o cineasta volte a trabalhar num assunto bem espinhoso visto em Tropa de Elite 2: a policia vendida, que por vezes trabalha até mesmo para aqueles que ela mesmo caça. Isso faz com que a trama não caia numa vala comum e faz com que a gente questione aqueles que deixemos nossas vidas por um desejo de segurança.

Não há como negar que vemos a forma de Padilha filmar em boa parte do filme, sendo que a sequência inicial onde vemos inúmeros drones tentando fazer uma pacificação no Teerâ, faz com que por um momento sentirmos a sensação que voltamos ao lado de Capitão Nascimento subindo ao morro. Isso claro se deve ao fenomenal trabalho de Lula Carvalho, cuja sua câmera sempre está em movimento e fazendo com que a gente sinta certa verossimilhança nas cenas. Criasse então a sensação de um documentário sendo filmado ao vivo, mas que não é muito de se admirar, já que o estrelado de Padilha e seus técnicos vieram do seu primeiro grande sucesso de critica que foi o documentário Ônibus 174.

Infelizmente nem tudo são flores nessa produção, já que se ouviu que Padilha se incomodou muito com os produtores que não queriam que ele tivesse 100% de liberdade criativa para criar o filme. Se tiver um olhar mais atento, irá reparar que do inicio até o final do segundo ato do filme é Padilha puro. Contudo, do inicio do terceiro ato em diante, tem a sensação que os produtores meteram as mãos nas rédeas e queriam que a trama tomasse um novo rumo.

Obviamente que isso aconteceu, já que até mesmo a trama da um espaço para uma possível sequência, caso o filme seja um sucesso que tanto o estúdio deseja. Vendo esse terceiro ato como ficou, imagina então como o filme seria se não tivesse um diretor autoral como Padilha que desse um pouco de alma para o projeto. Com certeza o resultado final seria muito pior.  

No final das contas o filme é bem divertido, com boas doses de reflexão, mas que com certeza irá se tornar um bom exemplo de filme que seria melhor, se não fosse ambição de produtores falando mais alto. 
 


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2 comentários:

  1. Seria bom se algum dia lançassem em DVD uma "versão do diretor"... sem as interferências dos produtores!

    quem sabe, né?... levou uns 20 anos, mas fizeram isso com o original tbm (tenho o 1º robocop sem cortes e com cenas q não passaram no cinema)!!

    Abs!

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  2. Eu tenho essa versão sem cortes que é bem mais violenta. Como eu disse, não é fácil mudar o curso do rio!

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