quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Cine Dica: SESSÃO PLATAFORMA: BESTIAIRE



Sinopse: Populares na Europa medieval, os bestiários eram catálogos que reuniam informação sobre animais reais e fantásticos, acompanhados por ilustrações e lendas antigas cujas principais personagens eram animais exóticos. O filme desdobra-se como se de um livro de imagens fílmicas se tratasse, onde os seres humanos e os animais estão em exibição. Ao ritmo da mudança das estações do ano, os animais e as pessoas observam-se entre si. Temos a oportunidade de ver criaturas fascinantes e encantadoras: por um lado, búfalos, hienas, zebras, rinocerontes, avestruzes, por outro, taxidermistas e tratadores de animais. Todos habitam organizada e silenciosamente um quadro que o espectador observa. Uma meditação deslumbrante sobre a consciência da natureza e as fronteiras entre natureza e "civilização".

Dirigido por Denis Côté cujo seus filmes são confinados aos circuitos mais alternativos, fornece aqui em sua mais nova obra, inúmeras qualidades estéticas, juntamente com uma reflexão que nasce no espectador que assiste. Enquanto a maioria das salas de cinema passa filmes convencionais, Bestiáire surge como uma verdadeira lufada de ar fresco, cujos protagonistas são animais em um zoológico, que embora não digam palavra alguma, expressam seus supostos modos e sensações que transmitem para a câmera, de acordo com o lugar que eles estão no momento. Como na maioria das obras deste tipo, parece absolutamente necessário se criar uma história que enlaça o comportamento humano com os dos animais (assim como acontece em  animações, documentários ou ficção), mas Bestaire evita nas armadilhas que ocorrem em outros filmes, apresentando os animais em uma relação consistente e crua com o os humanos que surgem na tela e com o próprio espectador que assiste.
A relação entre os animais e os seres humanos, uma vez que é mostrado, prova por vezes ser pacifica, mas que não esconde o lado hipócrita dessa relação, para não dizer cruel. A crueldade realista, para não dizer bestial: um taxidermista agindo friamente com o que faz de melhor, estudantes nas artes plásticas e visitantes do zoológico. Mas eles estão ali presentes em sua relação primaria com os animais, isto é, em um desejo de posse e dominação: as cabeças empalhadas referem se ao troféu de caça, os guardas que controlam o ritmo de vida no animal, tratadores que alimentam de hora em hora os animais, mas que não muda o fato deles estarem privando a liberdade do animal dentro do zoológico, para então dar mais segurança para as massas humanas alienadas que os visitam.
O filme como um todo é produzido através das grades das gaiolas, que constantemente fica lembrando o encarceramento e observação criada em torno dos animais encarcerados gerando em alguns momentos sublimes, mas também de pura tensão: a cena que mostra zebras nervosas sendo colocadas em cubículos, da há sensação de que a qualquer momento elas serão abatidas. Do começo ao fim, somos apenas observadores de mãos atadas e o filme também abre com pessoas observando, mas de uma forma diferente: seus olhos observam o animal (jaz empalhado) enquanto suas mãos reproduzem os contornos no papel. Este processo de trazer o espectador para o local de observador junto com outras pessoas que surgem na tela, o diretor quer simplesmente encenar uma relação pré-existente de dominante / dominado que caracteriza a relação ao animal.

NOTA: O filme novamente será apresentado no próximo sábado as 17horas na sala P.F GASTAL.  Mais informações sobre a sessão Plataforma você encontra na pagina da sala clicando aqui.

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