segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cine Especial: TODAS AS CORES DE PEDRO ALMODÓVAR: EXTRA


UM UNIVERSO COLORIDO EM TODOS OS SENTIDOS
Ganhando o Oscar de melhor filme Estrangeiro por Tudo Sobre Minha Mãe.  

O universo de Almodóvar é imperfeito, com seres imperfeitos, que buscam a todo o momento um lugar ao sol, mesmo que isso pareça impossível. Os seus protagonistas vão desde há pessoas loucas, gays, lésbicas, travestis e transexuais, que fazem de tudo, para destruir uma muralha a frente delas, para conseguir o seus objetivos e que para o bem ou para mal, tem resultado. O mundo em que elas vivem é colorido, com cores quentes, frescas, mas que às vezes, mostrado de uma forma plástica, para esconder o lado obscuro e hediondo, da cidade onde eles moram. Madri, a cidade favorita do cineasta, que é vista por diversos ângulos em todos os seus filmes, desde um lar  reconfortante, como o pior dos lugares para se viver.
De longe, Almodóvar é o cineasta que mais injeta em seus filmes o seu “eu” interior, mais precisamente, tanto fragmentos de inúmeras situações que ele viveu ao longo da vida, como também aquelas que ele presenciou, através de outras pessoas. Não há como negar a força do universo feminino, que ele sempre incrementou em seus projetos, sendo elas, o lado doce e forte do cineasta. De Salto Alto, Mulheres A Beira de um Ataque de Nervos, A Flor do meu Segredo, Tudo sobre Minha Mãe e Volver, são exemplos de tramas, onde mostra mulheres a beira do abismo, mas que mostram força perante o obstáculo, em frente aos homens como exemplo de desafio (ou busca), que por vezes,  não as compreendem, ou tentam até mesmo dobrá-las a todo o custo, mas que no final das contas, ame-as ou deixe-as.

A SEMSIBILIDADE DO SER Y:
Má Educação

Embora na maioria dos casos, Pedro Almodóvar seja reconhecido como um cineasta que melhor traduz o universo interior das mulheres, as camadas de inúmeras personalidades do homem, está muito presente nos seus filmes, mas de uma forma, que dificilmente o publico masculino em geral consegue aceitar ela, sendo muito poucos com a mente aberta, para conseguir abraçá-la. As primeiras obras, como A Lei do Desejo, por exemplo, vemos homens que abraçam os seus desejos pelo mesmo sexo, de uma forma crua, louca e humana. O publico feminino, tão acostumado a suspirar por Antonio Bandeiras atualmente, se choca ao ver o astro de filmes como Zorro, se deitar com outro homem e amá-lo loucamente, como se aquilo fosse (e é) natural, como se aquilo fosse encontrado em qualquer esquina de Madri. Não tenha duvidas que Antonio Bandeiras tenha tido o seu melhor momento da carreira nas mãos do cineasta, que via nele, tanto a forma exata de representar o desejo interior do homem, como também o lado obscuro de sua loucura, que faz mover o ser em busca de seu objetivo. Assim como foi visto em Ata-me, onde o personagem de Bandeiras, tendo perdido sua felicidade no passado, tenta a todo custo adquirir uma luz na vida, através da personagem de Victoria Abril, mesmo no contra gosto dela.
O universo dos travestis de Almodóvar é visto de uma forma natural e (porque não dizer) belamente superior a própria mulher em alguns momentos. Talvez porque eles agem como deveriam ser, ou simplesmente injetam a sensibilidade que eles têm, para conseguir adentrar no universo da mulher e entende-la, mesmo que isso pareça impossível para outros olhos.  Quando vemos a personagem de Marisa Paredes (em Salto Alto), se emocionar e até mesmo chorar, ao assistir um homem travestido que nem ela, representando um tempo dela que não volta mais, percebemos a força que aquele ser tem, mesmo representando algo que ele não é, ou que ele talvez queira ser, sendo que às vezes, isso já basta para o indivíduo.  
Também não é necessariamente os homens de Almodóvar ser gays, travestis ou algo do gênero, para demonstrar a sua doçura um pelo outro. Em seu melhor trabalho, Fale com Ela, os dois protagonistas criam um laço de amor e amizade, que embora nunca dito, demonstra um amor não declarado um pelo outro, enquanto as mulheres da trama, se encontram em estado de coma. Novamente a loucura e o abuso do homem perante o sexo frágil é posto em cheque aqui, mas de uma forma singela, humana, cheia de amor e o mais puro cinema de Almodóvar, onde a seqüência do suposto estupro está entre as melhores cenas de sua carreira.


ONDE ESTÁ ALMODÓVAR?
A PELE QUE HABITO 

Como havia dito acima, a vida e o lado pessoal de Almodóvar, esta impregnado em toda a sua filmografia, sendo  até mesmo difícil dizer qual dos seus filmes é um retrato exato de sua vida. Talvez muitos irão dizer que seja  Má Educação, muito embora, eu acredito que  seja apenas uma critica do cineasta contra as instituições católicas, que tenta cobrir com panos quentes, o abuso que a toda poderosa fez ao longo dos anos. Critica, que talvez o cineasta quisesse ter feito já há muito tempo, mas que só pode lançar em 2004, pois se nos seus primeiros filmes (anos 80), já cutucaram alguns, imagine se tivesse feito algo do gênero naquele período.
Mas então, qual seria o filme que mais se aproxima do que é Almodóvar? Seria de Salto Alto? Tudo sobre Minha Mãe? Volver? Seriam todos, ou o filme sobre  Almodóvar em si estaria por vir? Fica na opinião de cada um!
Até lá, veremos novos filmes, que talvez venham superar a sua genialidade de seus filmes anteriores. Pois se em A Pele que Habito, é um filme menos pessoal do cineasta, mas que mesmo assim, consegue injetar o seu universo do começo ao fim, podemos esperar algo cada vez maior nos seus filmes seguintes, mesmo que ele invente de experimentar novas formas de contar uma historia. Um filme em Preto Branco? Seria um contraste se comparado ao seu universo de cores quentes, mas que por ali, estaria Almodóvar de sempre, em sua querida Madri! 

Leia também: TODAS AS CORES DE PEDRO ALMODÓVAR: Partes 1,2,3,4,5,67


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