Nos
dias 28 e 29 de Julho, estarei participando do curso DAVID LYNCH: O LADO ESCURO DO SONHO , criado pelo CENA UM e ministrado pelo professor e critico
de cinema Rafael
Ciccarini. E
enquanto os dois dias não vêm, por aqui, estarei escrevendo um pouco sobre o
que eu sei desse cineasta, que é o melhor que sabe mexer com as nossas mentes.
Mulholland Drive
DESDE QUE
ESTREOU NO BRASIL HÁ DEZ ANOS, OBRA MAXIMA DE DAVID LYNCH CONTINUA SENDO UM DOS
MAIS INIGMÁTICOS FILMES DA HISTORIA.
Sinopse: Um acidente
automobilístico na estrada Mulholland Drive, em Los Angeles, dá início a uma
complexa trama que envolve diversos personagens. Rita (Laura Harring) escapa da
colisão, mas perde a memória e sai do local rastejando para se esconder em um
edifício residencial que é administrado por Coco (Ann Miller). É nesse mesmo
prédio que vai morar Betty (Naomi Watts), uma aspirante a atriz recém-chegada à
cidade que conhece Rita e tenta ajudar a nova amiga a descobrir sua identidade.
Em outra parte da cidade o cineasta Adam Kesher (Justin Theroux), após ser
espancado pelo amante da esposa, é roubado pelos sinistros irmãos Castigliane.
Foi apartir desse
filme, que conheci finalmente o universo bizarro de David Lynh. Mais
precisamente, foi numa edição, da saudosa revista SET (com o ET na capa), em
que além da critica sobre o filme, tinha matéria especial falando um
pouco de cada filme que ele criou. Isso foi o suficiente para eu ir à caça, para assistir a
essa obra, mas nem imaginava que ela me pegaria de jeito, muito menos ter imaginado
se tornando o meu segundo filme preferido da minha vida (perdendo para Blade
Runner).
POR TRAZ
DAS CORTINAS VERMELHAS
Para David Lynch, os filmes não precisam
fazer sentido, pois a própria vida não faz. Com essa opinião (e dentre muitas),
é o que serve de impulso para ele criar filmes, um tanto que inusitados e
diferentes de tudo que se vê por ai e o publico a de gostar ou odiar. Quando Mulholland
Drive estreou no inicio dessa primeira década do século 21, acabou não só
gerando debates, como inúmeras teorias levantadas em diversas mídias, como a
internet por exemplo. Nem mesmo Matrix, com todas as suas engrenagens
filosóficas, superou em termos de debates, discutições e teorias levantadas ao
longo do tempo.
Se muitos ficaram admirados com número de
buscas na rede para entender os mistérios da série Lost, pode-se dizer que foi
Lynch que começou com essa mania. Isso graças ao fato de, não somente esse
filme, como também outros de sua filmografia, deixar mais perguntas do que
respostas nas mentes das pessoas. Para se ter uma idéia da dimensão do cenário
da época que estreou Mulholland Drive, houve
muitas salas de cinema, que pediam as pessoas (após terem assistido o filme),
para que não contasse os mistérios e revelações da trama, para aquelas pessoas
que iriam pegar a sessão seguinte. Contudo, Mulholland Drive sendo visto por uma segunda ou
terceira vez, consegue até matar a charada, o que não quer dizer que tenhamos
uma resposta para tudo que é mostrado em cena. Digamos, que do primeiro até o
final do segundo ato, estejamos (aparentemente) assistindo uma historia com
começo, meio e fim. Mas ao surgir a enigmática (e melhor cena) seqüência do
Clube Silencio, de uma forma inesperada, tudo que assistimos até ali é
revertido e o cineasta nos joga em uma realidade, na qual num primeiro momento,
ficamos sem saber o que esta acontecendo realmente.
Mas o diretor nos
deixa a ficar vendo navios? Não exatamente, pois com um belo jogo de câmera,
Linch nos proporciona um passeio por inúmeras pistas que surgem na tela. Mas
não espere ele explicando as cenas, pois é a pessoa que irá assistir que terá
que fazer um verdadeiro quebra cabeça mental, com as cenas que são jogadas para
ele, desde personagens chaves que surgem em cena, como determinados objetos
simbólicos que aparecem, como uma chave azul e um piano miniatura como exemplo.
Além disso, no decorrer da trama, mesmo com poucos recursos, Lynch gosta de
brincar com nossa perspectiva, deixando agente boiando em alguns momentos,
fazendo agente acreditar, que o que estamos vendo é uma coisa, quando na
verdade é outra. Bom exemplo disso é quando surge uma cena de uma atriz
cantando, no que aparentemente parece ser um palco, mas a câmera afasta e
revela ser um estúdio, que por sua vez revela não estar num prédio, mas sim num
deserto do entardecer, mas que por fim, quando a câmera finalmente para de se
afastar, é revelado que tudo aquilo está num grande estúdio de cinema.
Na época, o filme
acabou consagrando, até então a desconhecida atriz Naomi Watts, num papel que
exigiu trabalho em dobro e para aqueles que já viram o filme, sabem do que
estou falando. O seu desempenho foi tão elogiado, que muitos lamentaram ela não
ter sido indicada ao Oscar, o que não quer dizer que não choveram inúmeros
convites para filmes, que somente levantariam mais o seu status de ótima atriz,
como Senhores do Crime, 21 Gramas, King Kong e dentre outros. Vale lembrar, que originalmente, Mulholland Drive foi realizado
para a TV, como filme piloto que daria origem a uma série, mas, como a rede ABC
rejeitou o projeto por achá-lo pesado demais, David Lynch decidiu levá-lo ao
cinema. A idéia do filme surgiu quando ele visualizou a placa Mulholand Drive,
a mítica estrada de Los Angeles, que atravessa as colinas de Santa Mônica, passando
por Hollywood até a praia de Malibu, na Costa Oeste. Durante o último Festival
de Cannes, Lynch disse que se inspirou na visão da placa sendo iluminada pelos
faróis dos carros que passam pela estrada à noite, permeada pela inocência
perdida de seus fantasmas que queriam conquistar Hollywood. "Que as
pessoas entrem, então, nesta viagem por Mulholand Drive e sintam algo que não
se explica", disse o cineasta à rede ABC de televisão.
Mulholland
Drive rendeu-lhe
indicação ao Oscar de Melhor Direção em 2002 e a conquista da Palma de Ouro na
mesma categoria no Festival de Cannes 2001, cujo júri foi presidido pelo
próprio Lynch. O filme também foi indicado a quatro Globos de Ouro
(Filme-Drama, Direção, Roteiro e Trilha Sonora) e venceu na categoria Melhor
Fotografia o Independent Spirit Award, além de ter sido eleito o Melhor Filme
de 2001 pelas Associações de Críticos de Cinema de Nova York, Boston e Chicago.
Com tudo isso, ao longo do tempo, Mulholland Drive veio a se tornar um dos mais
importantes filmes da primeira década do século 21. Um filme que mexe com os
sentidos do espectador, o faz pensar e adentrar ainda mais no universo de
Lynch. Seja por esse filme, ou por outros de sua (quase) impecável filmografia
cheia de mistérios.
Boa análise.
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