“FILME-ME, MAS NÃO ME DIRIGE”
Sinopse: Perdida num limiar de insanidade e
lucidez poética, a "party queen" russa Anna Pavlova perambula pelas
ruas de Berlim em uma crise de identidade.
O subtítulo acima faz uma
referencia a uma das principais frases da protagonista, ditas para o cineasta
que fica atrás dela, o tempo todo, durante quatro meses de filmagens. A frase pode
ser muito bem usada como exemplo do que está por vir na tela, pois o jovem
cineasta Theo Solnik, segue a jornada de dias e noites da jovem russa amalucada
nas ruas de Berlim, mas jamais se intromete em suas aventuras, onde tudo pode
então acontecer. Com o objetivo de mostrar o lado utópico desse clima constante
felicidade que aparece ser comum em Berlim, “uma cidade onde é possível viver com
pouco dinheiro e se divertir muito”, segundo as próprias palavras do cineasta.
Com essa intenção, Solnik pega
carona com Ana nas ruas da cidade, onde tudo que vemos na tela nada é ensaiado,
sendo tudo bem cru, realista, por vezes deprimente, mas não menos que
espetacular. A bela fotografia em preto e branco, aliás, se casa muito bem com
os momentos, tanto sombrios da protagonista, como também os momentos de muita
luz e vida que ela passa para a câmera. Além de claro servir muito bem, em
mostrar um lado um tanto obscuro da cidade, que por vezes, de nada lembra as
belas imagens dos cartões postais que tantos os alemães vendem por lá. Muito
embora ajam momentos de mais pura beleza, principalmente quando surgem as
verdadeiras pessoas naquelas ruas, e tornam elas, muito mais interessantes.
Mas embora a fotografia, montagem
e á idéia principal, que o cineasta quis passar, tenham se cruzado no momento
certo e na hora certa para a criação desse filme, nada disso funcionaria, se
não fosse pela energia magnética de sua protagonista. Ao assistir Ana na tela,
imediatamente me identifiquei com ela, pois ela é uma jovem, cheia de vida e
que pretende (a todo custo) viver ao máximo. Essa característica via sempre aos
montes quando era mais jovem, sendo que me lembrou bastante umas colegas de
escola, mas elas não tinham essa força tão destrutiva como à dela, na qual, com
certeza ninguém conseguiria sempre acompanhar suas aventuras naquelas ruas. Existem
momentos, inclusive, que Ana para na frente da câmera, e passa tamanha força em
seus olhos, que cria um verdadeiro contraste, se comparado nos momentos no
qual, seu corpo se entrega a bebedeiras e drogas, mesmo ela estando consciente
que tais fraquezas são prejudiciais a ela. Embora pequena, é uma verdadeira entidade
imprevisível, onde ela se arrisca a noite, ao falar mal e cuspir em uma pessoa
de uma danceteria, em que ela estava devendo dinheiro. Momento esse, aliás, um
dos mais tensos, pois nada daquilo é armado, onde até mesmo Theo, por pouco, não
é agredido.
São esses momentos dela que nos
fazem ficar tão fascinados pela sua pessoa, que até chegamos a duvidar em
certos momentos, se aquilo tudo foi realmente real. Não é a toa que a própria
Ana Pavlova foi mencionada em alguns prêmios de melhor atriz no mundo a fora,
mesmo ela não estando atuando em momento algum na tela, pois ela é aquilo, e
isso é o que mais fascina. Sendo que não sentimos tanta energia de vida e
naturalidade em outras pessoas, quando as vemos atuando como elas mesmas em determinados
documentários. Pelo menos no meu caso, não me lembro de algo parecido como isso
que eu vi na tela.
Com um ato final em que Ana revela
novas camadas de sua personalidade para a câmera, o filme deixa no ar, certas duvidas,
sobre o futuro da protagonista, e o que é mais importante, nos faz desejar em não
querer largar do ombro da protagonista, e desejar passar mais algumas noites
com ela nas ruas de Berlim.
NOTA: Infelizmente o filme teve
somente duas sessões na Usina do Gasômetro, na mostra de Documentários Artdoc.,
que complementa o seminário recém realizado RODA-Rodada de Debates sobre a
Arte, que abrigou na capital encontros entre artistas, críticos e curadores.
Tive o maior prazer de participar de uma das sessões, com a participação do próprio
cineasta Theo Solnik, que contou em um debate após a sessão, sua experiência de
rodar esse filme e do seu dia a dia junto com Ana, nos quatro meses de filmagem.
Para um filme cheio de qualidades
(e um dos melhores que vi desse ano), merece uma segunda vinda em nossa
capital.
Vou ver se consigo baixá-lo.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Adorei! Descreveu perfeitamente.
ResponderExcluir