quinta-feira, 12 de abril de 2012

Cine Dica: 'Anna Pavlova Vive em Berlim'


“FILME-ME, MAS NÃO ME DIRIGE”
Sinopse: Perdida num limiar de insanidade e lucidez poética, a "party queen" russa Anna Pavlova perambula pelas ruas de Berlim em uma crise de identidade.
O subtítulo acima faz uma referencia a uma das principais frases da protagonista, ditas para o cineasta que fica atrás dela, o tempo todo, durante quatro meses de filmagens. A frase pode ser muito bem usada como exemplo do que está por vir na tela, pois o jovem cineasta Theo Solnik, segue a jornada de dias e noites da jovem russa amalucada nas ruas de Berlim, mas jamais se intromete em suas aventuras, onde tudo pode então acontecer. Com o objetivo de mostrar o lado utópico desse clima constante felicidade que aparece ser comum em Berlim, “uma cidade onde é possível viver com pouco dinheiro e se divertir muito”, segundo as próprias palavras do cineasta.
Com essa intenção, Solnik pega carona com Ana nas ruas da cidade, onde tudo que vemos na tela nada é ensaiado, sendo tudo bem cru, realista, por vezes deprimente, mas não menos que espetacular. A bela fotografia em preto e branco, aliás, se casa muito bem com os momentos, tanto sombrios da protagonista, como também os momentos de muita luz e vida que ela passa para a câmera. Além de claro servir muito bem, em mostrar um lado um tanto obscuro da cidade, que por vezes, de nada lembra as belas imagens dos cartões postais que tantos os alemães vendem por lá. Muito embora ajam momentos de mais pura beleza, principalmente quando surgem as verdadeiras pessoas naquelas ruas, e tornam elas, muito mais interessantes.
Mas embora a fotografia, montagem e á idéia principal, que o cineasta quis passar, tenham se cruzado no momento certo e na hora certa para a criação desse filme, nada disso funcionaria, se não fosse pela energia magnética de sua protagonista. Ao assistir Ana na tela, imediatamente me identifiquei com ela, pois ela é uma jovem, cheia de vida e que pretende (a todo custo) viver ao máximo. Essa característica via sempre aos montes quando era mais jovem, sendo que me lembrou bastante umas colegas de escola, mas elas não tinham essa força tão destrutiva como à dela, na qual, com certeza ninguém conseguiria sempre acompanhar suas aventuras naquelas ruas. Existem momentos, inclusive, que Ana para na frente da câmera, e passa tamanha força em seus olhos, que cria um verdadeiro contraste, se comparado nos momentos no qual, seu corpo se entrega a bebedeiras e drogas, mesmo ela estando consciente que tais fraquezas são prejudiciais a ela. Embora pequena, é uma verdadeira entidade imprevisível, onde ela se arrisca a noite, ao falar mal e cuspir em uma pessoa de uma danceteria, em que ela estava devendo dinheiro. Momento esse, aliás, um dos mais tensos, pois nada daquilo é armado, onde até mesmo Theo, por pouco, não é agredido.
São esses momentos dela que nos fazem ficar tão fascinados pela sua pessoa, que até chegamos a duvidar em certos momentos, se aquilo tudo foi realmente real. Não é a toa que a própria Ana Pavlova foi mencionada em alguns prêmios de melhor atriz no mundo a fora, mesmo ela não estando atuando em momento algum na tela, pois ela é aquilo, e isso é o que mais fascina. Sendo que não sentimos tanta energia de vida e naturalidade em outras pessoas, quando as vemos atuando como elas mesmas em determinados documentários. Pelo menos no meu caso, não me lembro de algo parecido como isso que eu vi na tela.
Com um ato final em que Ana revela novas camadas de sua personalidade para a câmera, o filme deixa no ar, certas duvidas, sobre o futuro da protagonista, e o que é mais importante, nos faz desejar em não querer largar do ombro da protagonista, e desejar passar mais algumas noites com ela nas ruas de Berlim.

NOTA: Infelizmente o filme teve somente duas sessões na Usina do Gasômetro, na mostra de Documentários Artdoc., que complementa o seminário recém realizado RODA-Rodada de Debates sobre a Arte, que abrigou na capital encontros entre artistas, críticos e curadores. Tive o maior prazer de participar de uma das sessões, com a participação do próprio cineasta Theo Solnik, que contou em um debate após a sessão, sua experiência de rodar esse filme e do seu dia a dia junto com Ana, nos quatro meses de filmagem.
Para um filme cheio de qualidades (e um dos melhores que vi desse ano), merece uma segunda vinda em nossa capital.    


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2 comentários: