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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 21 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Estados Unidos Vs Billie Holiday' e 'Rosa e Momo'

Sinopse: Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. 

Está fácil adivinhar o começo, meio e fim de determinadas cinebiografias de cantores famosos, pois as fórmulas são quase sempre as mesmas. Conhecemos a origem do cantor(a), testemunhamos o seu auge, vícios decadência para então, enfim, a sua redenção. Por melhor que fosse, por exemplo, "Bohemian Rhapsody" (2018) eu já sabia como iria terminar, mas não pelo fato de conhecer a carreira do cantor ou da banda em si, mas sim por já conhecer as velhas fórmulas que os roteiristas usam para a elaboração desse tipo de produção.

Mas isso não significa que defeito, mas sim uma forma mágica do cinema de nos identificarmos com esses artistas, pois por mais que sejam talentosos, eles no final das contas não deixam de serem seres humanos. Por outro lado, se torna interessante quando embarcamos sobre a vida de um artista sem ao menos saber muito sobre ela. "Estados Unidos Vs Holiday" (2021) embarquei sem muito saber sobre a cantora Billie Holiday e me surpreendi.

Dirigido por Lee Daniels, do filme "O Mordomo da Casa Branca" (2013), o filme retrata sobre a famosa cantora de jazz Holiday, interpretada pela cantora e agora atriz  Andra Day durante o auge de sua carreira. No entanto, ela se torna alvo do Departamento Federal de Narcóticos com uma operação secreta liderada pelo Agente Federal Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), com quem ela teve um caso tumultuado no passado.

Como eu disse acima, pouco sabia sobre a cantora, muito embora tenha ouvido a música dela algumas vezes na vida. Ao embarcar na trama, testemunho uma entidade poderosa que foi esse talento, da qual usou a sua voz para fazer um forte protesto contra o racismo norte americano e do qual, infelizmente, ainda existe até hoje. Isso foi o suficiente para ser perseguida pelas autoridades, mas jamais abaixando a cabeça.

A minha surpresa principalmente fica por conta da interpretação assombrosa de  Andra Day ao dar corpo e alma para Billie Holiday, pois visualmente ela está idêntica a falecida cantora. Day transmite para nós toda a dor e fúria contida da cantora, pois já nos primeiros minutos constatamos que ela é uma de inúmeras pessoas negras vítimas de um racismo insano, mas que lutou para ser ouvida mesmo lhe custando um alto preço. Embora as chances sejam pequenas, não me surpreenderia se caso atriz ganhasse o Oscar pelo seu trabalho, pois é sem dúvida inesquecível.

tecnicamente o filme possui uma incrível reconstituição de época, onde a fotografia oscila em tons de cores de uma época mais dourada, mas que não esconde também cores pálidas que sintetiza a dura a realidade certas pessoas. Assim como o recente "Judas e o Messias Negro" (2021) o filme escancara a covarde perseguição do governo contra determinados talentos, seja pela sua mensagem, ou puramente por inveja e preconceito latente. Porém, em sua reta final, percebe que todas essas pessoas poderosas foram esquecidas pelo teste do tempo, enquanto talentos como Billie Holiday continuam vivos por anos a fio.

Indicado ao prêmio de melhor atriz no Oscar 2021, "Estados Unidos Vs Billie Holiday" é sobre a força de vontade de uma única pessoa, mas que se equivale perante à de muitas.  

Nota: Previsão de estreia nos cinemas brasileiros em Maio.   


 'Rosa e Momo'

Sinopse: Baseado no livro “A Vida Pela Frente” de Romain Gary, a trama acompanha Momo (Gueye), um adolescente órfão senegalês, que leva a vida fazendo pequenos furtos e traficando drogas. Em uma dessas situações, ele conhece Rosa (Loren), uma ex-prostituta que cuida dos filhos de suas ex-colegas de profissão.

Grandes guerras acabaram, mas a guerra particular de cada um permanece como um todo. Se por um lado há pessoas que sobrevivem mesmo carregando as cicatrizes vindas do passado, do outro, há também aquelas que enfrentam os obstáculos corriqueiros do dia a dia, mas que podem se tornar uma grande armadilha. "Rosa e Momo" (2019) é um filme que fala sobre duas pessoas distintas uma da outra, mas cuja as mesmas, com suas guerras particulares, as unem para sobrevirem ao longo do percurso.

Dirigido por Edoardo Ponti, o filme a história de uma sobrevivente do holocausto chamada Madame Rosa (Sophia Loren), que responsável por cuidar de uma creche, decide acolher uma criança de 12 anos chamado Momo (Ibrahima Gueye) que a assaltou recentemente. A partir dessa união se tem uma relação incomum.

Com um prólogo que nos faz a gente se perguntar o que está acontecendo, Edoardo Ponti procura antes de tudo em nos apresentar o cenário principal, uma cidade da Italiana bonita com cores quentes, mas não escondendo resquícios de um país que ainda carrega as suas feridas devido a Segunda Guerra. Em um determinado cenário, por exemplo, do qual se encontra escondido em um prédio, se vê ali uma pequena homenagem que o realizador faz aos tempos do Neorrealismo italiano e cujo movimento retratava uma Itália se reestruturando em meio aos escombros. Por conta disso, é mais do que natural a presença de Sophia Loren na tela.

Afastada há uma década do cinema, Sophia retorna com estilo e força na construção de uma personagem complexa, mas cuja as suas cicatrizes vistas em seu olhar, além de uma determinada tatuagem com números em seu braço, nos dá uma dimensão do que ela havia sofrido. Ao acolher crianças abandonadas de suas mães, a sua personagem Rosa procura fazer o mesmo o que haviam feito por ela no passado, mas não escondendo cansaço perante uma realidade de mudanças constantes.

Através de Momo ela enxerga uma forma de se sentir útil, mesmo quando o garoto não deseja ser acolhido. Aliás, Momo não é muito diferente da explosiva  Benni do filme alemão "Transtorno Explosivo" (2020), já que ambos são jovens abandonados pela sociedade e não conseguindo o espaço que realmente mereciam. Porém, Momo desce a guarda para os adultos que tentam ajuda-lo, mesmo quando o mesmo retribui com insultos, pois é a única forma dele expressar os seus sentimentos.

Curiosamente, Edoardo Ponti procura não julgar os seus personagens que surgem na tela, mas sim retratá-las como pessoas comuns que sobrevivem com o pouco que tem, mas felizes com o que pode compartilhar. Neste último caso temos Lola (Abril Zamora), personagem secundária, mas que rouba a cena toda vez que surge na tela. Não sabemos, por exemplo, no que ela trabalha para sobreviver, mas basta ela fazer companhia para Rosa para desejarmos que ela continue na história e se tornando peça fundamental para haver um equilíbrio entre a sua amiga e Momo.

Com um final previsível, mas do qual já estávamos esperando, "Rosa e Momo" fala sobre amizades de pessoas diferentes uma da outra, mas cuja essa distinção é o que as atraem e nascendo assim laços fortes perante as adversidades. 

Onde Assistir: Netflix.

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terça-feira, 20 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Professor Polvo' e 'Time'

Sinopse: Em uma floresta subaquática na África do Sul, um cineasta desenvolve uma amizade improvável com um polvo e descobre mais sobre os mistérios do mundo submarino. 

Em tempos em que o ser humano convive com diversos atritos com relação a própria humanidade, por outro lado, algumas pessoas decidem procurar por respostas na natureza que, por vezes, é esquecida. Uma vez que há este contato se cria um elo entre o ser humano com as raízes de tempos em que o céu e a terra já bastavam para o mesmo. "Professor Polvo" (2020) mostra a jornada de um cidadão comum que encontra algumas respostas para si ao observar o círculo da vida de um pequeno ser.

Dirigido por Pippa Ehrlich e James Reed, o documentário fala sobre Craig Foster, um documentarista exausto, conhece um professor improvável, um jovem polvo que mostra uma curiosidade notável. Visitando sua toca e rastreando seus movimentos por meses a fio, ele eventualmente ganha a confiança do animal e eles desenvolvem um vínculo nunca antes visto entre o humano e o animal selvagem. A expedição ocorre em uma floresta de algas na costa da África do Sul. 

A obra não perde muito tempo com relação ao que estava se passando na vida de Graig Foster, mas seja o que for, era mais do que o suficiente para ele procurar respostas por meio da natureza. Com uma parede de mar bem na frente da sua casa, ele decide criar uma experiência pessoal com relação ao círculo da vida de um ser vivo e do qual ninguém imaginava o quanto é complexo se ele for bem observado. Uma vez acontecendo isso, se há um estudo detalhado sobre a cruzada de um polvo e cujo os desdobramentos irão revelar algo raramente visto.

Os realizadores procuram sempre em criar uma edição de cenas que cause suspense na pessoa que assiste e gerando momentos até mesmo surpreendentes. É incrível, por exemplo, a primeira aparição do polvo, já que ele está coberto com diversos objetos do fundo do mar enquanto o documentarista e até mesmo os peixes observam com bastante curiosidade. Uma vez acontecendo o primeiro vislumbre do protagonista se tem o primeiro contato entre o homem e a natureza deste cenário cheio de vida e que tende a nos surpreender ainda mais.

A partir daí, Craig Foster procura obter contato com o polvo de forma gradual, mas jamais intervindo com relação ao que acontecerá em seu cenário natural. A confiança entre ambos acontece de forma verossímil, mesmo quando se parecia impossível que isso fosse acontecer ao longo do tempo. Uma vez obtendo a confiança do polvo, Graig Foster começa a mergulhar por quase um ano para observar o seu pequeno amigo, desde descobrir como ele se alimenta, como também saber como ele se defende dos predadores.

É neste ponto, por exemplo, que o documentário ganha até ares de filme de suspense, já que surgem pequenos tubarões que começam a caçar o polvo sem trégua. Em uma dessas perseguições, tanto Graig Foster como nós ficamos aflitos quando o polvo perde um tentáculo durante o embate com o tubarão. Porém, a sua recuperação é surpreendente e revelando um lado até mesmo inteligente deste curioso ser.

Inteligência, aliás, é a palavra chave que faz desse curioso animal sobreviver e viver a qualquer custo no fundo do mar. Curiosamente, sentimos aos poucos a Via Crúcis do protagonista, mas para somente constatarmos que o círculo da vida prossegue aja o que houver e sem a interferência de ninguém. Entre o perigo e a riqueza da natureza, o documentarista, enfim, compreende que a vida deve ser aproveitada ao máximo, mesmo quando a mesma possui uma passagem curta neste plano.

Indicado ao Oscar de melhor Longa Documentário para esse ano, "Professor Polvo" é uma lição de vida vinda de uma natureza não asfixiada pelo homem, mas cujo o próprio acaba aprendendo como se deve dar valor com relação a sua realidade ao redor.  

Onde Assistir: Netflix. 

'Time' 

Sinopse: Fox Rich, matriarca indomável e abolicionista moderna, esforça-se para manter sua família unida enquanto luta pela libertação de seu marido encarcerado. 

O grande atrativo de "Boyhood" (2014) era ver os mesmos atores em seus respectivos personagens, mas realmente envelhecendo diante dos nossos olhos, já que o filme foi rodado em pedaços por diversos anos. Por conta disso, sentimos o tempo na vida daqueles personagens, onde constatamos que eles não só mudaram fisicamente, como também amadureceram com relação aos pensamentos que se diferenciam se fosse olhar para o passado. "Time" (2020) segue para uma linha similar, mas em formato de documentário e onde testemunhamos pessoas reais que enfrentam uma situação a ser vencida a todo custo.

Dirigido por Garrett Bradley, o filme fala sobre Fox Rich, matriarca indomável e abolicionista moderna, esforça-se para manter sua família unida enquanto luta pela libertação de seu marido encarcerado. No passado, quando os negócios de sua loja estavam em crise, eles decidiram assaltar um banco e sendo pegos por causa disso. O documentário traz uma história de amor íntima, épica e não convencional.

A obra começa de forma curiosa, de forma analógica e retangular, já que são arquivos caseiros de vários anos e onde Fox conta sobre a sua situação atual naquele momento. O grande atrativo do documentário é vermos a mesma mudando conforme o tempo vai passando, onde enxergamos no início um olhar inocente dela e gerando um contraste quando fazemos uma comparação com imagens recentes da mesma. A Fox atual possui um olhar que diz tudo, onde carrega experiência de uma vida que teve que recomeçar do zero e tendo que sozinha sustentar os seus filhos.

Essa sensação sentimos também com relação as crianças, onde vemos jovens inocentes brincando na sala, para logo em seguida vermos eles adultos e lutando para se virar na vida para obter os seus sonhos. Tecnicamente o filme chama atenção pela sua fotografia em preto e branco, cuja a mesma sintetiza uma vida nada colorida daquela família, mas que encontra na fé a força para lutar pela vida. Fox, por exemplo, nunca escondeu pelos erros do passado, tão pouco culpou alguém por causa disso, mas culpando posteriormente o lado burocrático da justiça que não liberam nunca o seu marido.

A obra em si faz uma dura crítica com relação a Justiça norte americana, pois se percebe que a mesma somente é aplicada duramente contra o povo negro, como se houvesse sempre um desejo de vingança vinda dos poderosos. Isso é constatado ainda mais nas cenas em que Fox fica ligando diariamente para advogados e juiz para obter uma solução, mas quase sempre em vão. Pelo seu olhar, percebemos um olhar de decepção, mas não de rendição.

Embora curto, o documentário tem um peso maior principalmente quando fazemos um paralelo com o mundo atual, do qual cada vez mais vive de retrocessos e cujo os seus líderes radicais se alimentam disso. Fox Rich, ao menos, é um exemplo de esperança nesse cenário nebuloso, onde enxergamos nela a persistência e determinação para adquirir os seus objetivos, mesmo quando o sistema lhe diz ao contrário. Indicado ao Oscar de Melhor Longa Documentário, "Time" fala sobre o tempo, do qual adquire feridas, mas cuja as mesmas podem serem cicatrizadas. 

Onde Assistir: Amazon Prime.  


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segunda-feira, 19 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Feeling Through'

Sinopse: o encontro noturno de um jovem e um homem surdo-cego que precisa de ajuda para pegar o ônibus e ir pra casa.

Em tempos atuais, em que se há um individualismo e egoísmo cada vez maior entre as pessoas, quando surge uma boa ação acaba sempre soando surpreendente, quando na verdade deveria ser uma prática comum no dia a dia. Talvez em tempos em que estamos cada vez mais presos em redes sociais pela internet, parece que o toque humano vem sendo esquecido cada vez mais no decorrer do tempo. "Feeling Through" (2021) fala sobre o nascimento de uma curta amizade, porém, preciosa nos dias de hoje.

Dirigido por Steven Prescod e  Robert Tarango, o curta acompanha a história de um jovem chamado Tareek enquanto ele caminha pelas ruas de Nova Iorque depois de uma festa. No caminho, o rapaz encontra um homem cego e surdo com uma placa pedindo ajuda para atravessar a rua. Os dois acabam passando parte da noite juntos e criando uma inesperada amizade.

Os primeiros minutos registram sobre o que é os relacionamentos atuais, onde cada vez mais são predestinados a serem presos por mensagens pelo whatsapp e fazendo da relação algo muito artificial. O contato, por exemplo, em que surge entre os dois protagonistas começa por pura curiosidade, já que Tereek está sem saber o que fazer naquele momento e cuja a noite não lhe daria nenhum rumo. Com o homem cego e surdo ele descobre, mesmo que em pouco tempo, uma ação vinda dele que até mesmo o próprio desconhecia.

Tudo gira em torno do toque, seja pelo afeto, ou pela forma de guiar um dos protagonistas para o seu destino. Ambos são almas perdidas no percurso da vida, mas que conseguem juntos sentir um pouco do raro calor humano que tanto faz falta hoje em dia. Ao final cada um se encaminha para o seu rumo, mas guardando consigo uma lição de como somos prestigiados a ter a prática do bem, mas que raramente praticamos.

Indicado ao prêmio de melhor Curta Metragem no Oscar deste ano, “Feeling Through" é uma lição sobre como despertar o que há de bom em nós e que se encontra atualmente adormecido. 

Onde Assistir: Pelo Youtube  

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sexta-feira, 16 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Dois Estranhos'

Sinopse: Cartunista Carter James (Joey Bada$$) está tentando voltar para casa para encontrar seu cachorro depois de um bem-sucedido primeiro encontro, porém acaba sendo vítima de um policial racista e é baleado.   

O recurso narrativo do loop temporal já foi usado diversas vezes no cinema. Se isso começou de forma magistral no clássico "Feitiço no Tempo" (1993) ele se estendeu ainda mais na ficção como no ótimo "No Limite do Amanhã" (2014) e no terror pastelão "A Morte te dá os Parabéns" (2017). Já o curta "Dois Estranhos" (2021) procura não só expandir essa teoria criativa sobre esse tipo de viagem no tempo, como também fazer uma reflexão sobre os tempos de intolerância que estamos vivendo.

Dirigido por Travon Free o curta conta a história do cartunista Carter James (Joey Bada$$), que está tentando voltar para casa para encontrar seu cachorro depois de um bem-sucedido primeiro encontro. Contudo, acaba sendo vítima de um policial racista e é baleado. Para sua surpresa, ao invés de morrer, ele acaba revivendo o dia inteiro novamente e tentando de todos os modos rever o seu cachorro.

Fui assistir a esse curta sem nenhum conhecimento e me surpreendeu bastante. Pelo título você acredita que a trama se trata sobre da relação do protagonista com a jovem que ele passou a noite. Porém, no momento em que ele é morto pela primeira vez pelo policial racista, imediatamente o tom do filme muda e logo me veio a triste lembrança do infeliz caso racista contra George Floyd nos EUA.

Com uma ótima edição de cenas, o filme é dinâmico em sua abordagem, ao fazer você refletir sobre os tempos atuais, como também nos entreter na situação em que o personagem se encontra e fazendo a gente se perguntar se ele sairá dessa. Curiosamente, ele tenta nas mais diversas formas em sobreviver, até mesmo ao tentar dialogar com o policial insano que sempre está a sua espera na frente do prédio.

Na reta final, o filme transita entre a previsibilidade para um momento de grande surpresa, porém verossímil, pois infelizmente é muito difícil vencer na luta contra o preconceito. A mensagem final é para não desistirmos, mesmo quando tudo parece perdido. Destaco a ótima atuação de Joey Bada$$, visto em séries como "Mr. Robot" (2015 - 2019) e aqui ganhando o seu merecido destaque.

Indicado ao prêmio de melhor Curta Metragem no Oscar desse ano, "Dois Estranhos" se alinha entre a ficção e a realidade para refletirmos sobre os diversos crimes racistas orquestrados recentemente e para desejarmos um basta nisso imediatamente. 

Onde Assistir: Netflix.  

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quinta-feira, 15 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Shaun, o Carneiro A Fazenda Contra Ataca'

Sinopse: Um alienígena com poderes estranhos cai perto de Mossy Bottom Farm, e Shaun rapidamente faz um novo amigo. Juntos, eles devem fugir de uma organização perigosa que deseja capturar o visitante intergaláctico. 

Aardman Animations é um estúdio que se difere dos grandes conhecidos como no caso da Pixar e Disney. Logicamente, todos falam que a Pixar, por exemplo, cria tramas que consegue atrair o público infantil e adulto ao mesmo tempo e isso é inegável. Porém, Aardman Animations consegue combinar uma trama inocente com elementos do cinema clássico, onde a simplicidade de uma trama pode também atrair até um olhar mais exigente da própria crítica.

Se consagrando após o grande sucesso de "Fuga das Galinhas" (2000), o estúdio sempre esteve por perto em meio aos grandes, sendo que até mesmo surpreendeu em diversas premiações ao longo dos anos. "Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais" (2005), por exemplo, superou as expectativas, abocanhando o Oscar de melhor Longa de Animação e superando o favoritismo da época que era a animação "A Noiva Cadáver" (2005). "Shaun, o Carneiro A Fazenda Contra Ataca" (2020) vem agora para fortalecer novamente o estúdio, atraindo o olhar da crítica e conquistando cinéfilos de todas as idades.

Dirigido por Will Becher e  Richard Phelan, o filme é uma continuação do longa anterior de 2015, onde acompanhamos a jornada do carneiro Shaun, que se junta a um simpático alienígena para ajudá-lo a voltar para o seu planeta. O problema é que uma força super secreta do governo possui outros planos para o visitante.

O principal atrativo dessa animação é que ela não possui quase nenhuma fala, sendo que a história é muito bem compreendida pelas ações dos seus personagens, gestos e fazendo a gente se lembrar dos bons tempos do cinema mudo. Ao mesmo tempo, o filme é um mosaico cheio de detalhes, onde se percebe que foram trabalhados minuciosamente e nos surpreendendo ainda mais pelo fato de ter sido feito em stop motion. Em tempos em que a animação gráfica domina o mercado é sempre interessante ver um estúdio optar pelos velhos recursos.

A trama em si não é nada demais, sendo que ela nos soa familiar em vários momentos, mas isso não tira o brilho do mesmo como um todo. Além disso, o filme é recheado de homenagens aos grandes clássicos do cinema do gênero ficção, cuja as regências vão desde "2001 - Uma Odisseia no Espaço" (1968) para "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977) e "ET" (1982). Se por um lado os pequenos talvez não venham a entender as referências, do outro, os adultos irão degustar destes grandes atrativos.

Logicamente, sempre há aquelas lições de moral sobre amizade, união e sobre as ações de um determinado personagem. Curiosamente, esse mesmo personagem poderia ser tachado facilmente como vilão, mas logo compreendemos as suas motivações através de um flashback e fazendo com que tenhamos noção que de ele não é de todo mal. Um bom exemplo para os pimpolhos e que poderia ser usado com mais frequência para filmes que são vistos por toda a família.

Indicado ao Oscar de melhor Longa de Animação de 2021, "Shaun, o Carneiro A Fazenda Contra Ataca" é o fortalecimento de diversão e criatividade do estúdio  Aardman Animations.  

Onde Assistir: Netflix. 

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quarta-feira, 14 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Wolfwalkers'

Sinopse: Robyn, uma jovem caçadora, vai à Irlanda com seu pai para tentar acabar com o último bando de lobos. Os animais são vistos como demoníacos, verdadeiras encarnações do mal. Logo, os algozes terão outra perspectiva das alcateias.  

Em tempos em que a Pixar/Disney dominam o mercado de animação há sempre aqueles pequenos estúdios que surpreendem pela sua criatividade e pelo bom uso do desenho tradicional. O estúdio Irlandês de animação Cartoon Saloon, por exemplo, tem surpreendido o público e a crítica através de obras como "Uma Viagem ao Mundo das Fábulas" (2009) e A Canção do Oceano (2014). Pois então, a mesma retorna agora com "Wolfwalkers" (2020) uma animação de encher os olhos e com altas doses de lição de moral e companheirismo.

Dirigido por Tomm Moore e Ross Stewart, o filme se passa em uma época de superstição e magia, quando os lobos são vistos como demoníacos e a natureza um mal a ser domado.  Robyn, uma jovem caçadora aprendiz, vai para a Irlanda com seu pai na tentativa de eliminar um último bando. Quando a jovem salva uma garota nativa selvagem, sua amizade a leva a descobrir o mundo dos Wolfwalkers, transformando-a na mesma coisa que seu pai tem a tarefa de destruir.

Antes de tudo, é preciso destacar o primor que é essa animação. Feita de forma tradicional, os desenhos parecem que foram criados para pertencerem as paredes de tempos remotos e cuja as mesmas contam diversas histórias. Com imagens sobrepostas uma na outra, cria-se algo quase tridimensional, ou melhor dizendo, uma sensação de que os desenhos estão saindo da tela, onde cada forma se alinha uma com a outra e criando assim uma simetria fantástica.

Essa perfeição também se casa de forma perfeita com o seu elenco de personagens, onde cada um possui uma personalidade distinta e que servem como peças importantes para trama. Robyn é a verdadeira pequena heroína da trama, da qual transita entre os deveres de obedecer ao seu pai, como também de alimentar com a curiosidade com relação ao mundo lá fora. Dessa curiosidade ela conhece Mebh, menina selvagem que irá fazer com que Robyn conheça o lado que os Supersticiosos tentam destruir a todo custo.

Neste último caso, isso é muito bem representado pelo vilão Lorde Protetor Oliver Cromwell, cuja as suas atitudes lembram e muito o vilão de "O Corcunda de Notre Dame" (1996) da Disney. Na trama, a fé cega em nome de Deus contra o folclore visto na tela são temas que repercutem até os dias de hoje e que somente fazem com que os povos cada vez mais se separem. É a partir do amor e da amizade das duas pequenas protagonistas é que haverá um caminho de paz, mas até lá haverá diversos sacrifícios a serem tomados.

Assim como o recente "Soul" (2020), "Wolfwalkers" consegue tocar em assuntos espinhosos, que vai desde a vida e a morte, mas tudo de uma forma fluida e que não assusta os jovens que forem assisti-la. Acima de tudo, é um filme de aventura com coração, com vários bons ensinamentos e que se tornam valiosos nestes tempos nebulosos. Indicado ao Oscar de melhor Longa de Animação, "Wolfwalkers" é uma das mais belas animações do ano, feita com carinho e para aqueles que apreciam bons ensinamentos sobre coragem e ajuda ao próximo.  

Onde Assistir: Apple TV+

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terça-feira, 13 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'White Eye'

Sinopse: Nas ruas de Israel, um homem encontra sua bicicleta que havia sido roubada, descobrindo que agora ela pertence a um imigrante. 

O clássico "Ladrões de Bicicletas" (1948) retratava um homem e seu filho em busca de sua bicicleta roubada e sendo que o veículo era o único meio de trabalho que sustentava a sua família. O filme é um retrato de uma Itália ainda abatida após a Segunda Guerra Mundial e que sintetiza o desespero de um povo em busca de sobrevivência através do pouco que tinha em mãos. Assim como o clássico Italiano, o curta israelense “White Eye”(2021) gira também em torno de uma bicicleta, mas cujo os desdobramentos da trama fazem a gente repensar o quanto estamos perdendo a nossa própria humanidade nos dias de hoje.

Com direção assinada por Tomer Shushan, “White Eye” foi um dos vencedores da seção de curtas no último SXSW. A premissa é simples: um homem perde sua bicicleta e a descobre em posse de outra pessoa, o que a leva a acreditar que o veículo foi roubado. Porém, reaver a bicicleta irá desencadear eventos irreversíveis.

Embora com meros vinte minutos o diretor Tomer Shushan surpreende pela sua segurança com uso da câmera, já que a trama é toda construída sem nenhum corte, ou seja, em plano-sequência bem criativo e que não deve em nada a longas recentes como no caso de "1917" (2020). É curioso, por exemplo, alguns detalhes que são vistos ao fundo do cenário principal, desde um grupo de amigos conversando, como também uma prostituta da qual achamos por um momento que irá participar da história. São elementos que nos chama atenção, mas que não interferem na trama principal, pois esses personagens secundários podem ser unicamente uma representação do mundo seguindo em frente enquanto os eventos que giram em torno da bicicleta acontecem.

A trama, diga-se de passagem, é uma síntese do mundo contemporâneo atual, cada vez mais preso ao sistema cheio de regras com relação aos imigrantes e revelando o lado desumano de cada um dos seus países. O protagonista, por sua vez, percebe logo em seguida que está perdendo a sua dignidade unicamente por querer reaver a sua bicicleta, mas é através do possível infrator que ele irá descobrir um outro mundo que estava por detrás das cortinas. Ao final, a bicicleta se torna um mero objeto obsoleto, enquanto vidas tentam sobreviver a todo custo, mesmo que na surdina e distante dos olhares da justiça hipócrita, burocrática e corrupta.

Indicado ao prêmio de melhor Curta Metragem no próximo Oscar, "White Eye" fala sobre egoísmo e a falta de amparo pelo próximo em tempos nebulosos.  


Nota: Curta visto online na 30ª edição do Festival Curta Cinema, em março de 2021. 

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