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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Pieces of a Woman'

Sinopse: Martha e Sean se preparam para o primeiro bebê do casal, e decidem fazer o parto em casa. No entanto, o momento não ocorre como previam, e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia.

Kornél Mundruczó pode facilmente entrar na lista dos melhores cineastas autorais do cinema recente. Embora o húngaro tenha poucos filmes no currículo, do qual eu destaco o ótimo a "A Lua de Júpiter" (2018), em um curto espaço de tempo ele demonstrou um perfeccionismo do qual, não só desafia os seus intérpretes em cena, como também consigo próprio. Nas mãos dele, o filme "Pieces of a Woman" (2021) não se torna um mero drama, mas sim um estudo profundo sobre a perda, desconstrução e insurreição.

O filme conta a história da jornada emocional de uma mãe que acaba de perder seu bebê. Diante dessa perda, ela terá que lidar com as consequências que seu luto tem nas relações com o marido e a mãe, lutando para que seu mundo não desaba por completo. Durante esse percurso ela terá que aprender a lidar com a dor e recomeçar do zero.

Kornél Mundruczó já nos pega de jeito em seu primeiro ato, do qual pode ser interpretado também como um grande prólogo, já que o título do filme surge quando esse início se dá por encerrado após trinta minutos. Mas são trinta minutos de pura angustia, dor e perfeccionismo que o cineasta nos passa, já que ele é moldado quase em um plano-sequência interminável e do qual nos dá a sensação de estarmos juntos com os protagonistas no momento do parto. São trinta minutos em que sentimos a dor e o sofrimento de uma mulher para dar à luz em seu apartamento e do qual nem todas as pessoas irão aguentar até o seu último minuto.

Kornél Mundruczó faz close a todo momento de cada gesto, olhar e mudanças de comportamento de seus personagens, sendo que alguns casos representam ali uma mudança de atitude, ou de uma situação que provocará desdobramentos irreversíveis. Todo esse perfeccionismo se torna ainda mais poderoso quando o trio central deste prólogo se rende de corpo e alma para atuação, principalmente da atriz Vanessa Kirby, conhecida pelo seu trabalho na série "The Crow" (2016) e que aqui nos brinda com uma das melhores atuações femininas deste início de 2021.

Após esse prólogo, o filme é dividido em atos, do qual cada um representa um dia do calendário e do qual é representado com cenas de uma ponta em construção. Aliás, notasse que a ponte inacabada se torna uma parte simbólica da narrativa, já que os protagonistas se encontram partidos ao meio e não sabendo ao certo por onde recomeçar. O cineasta não tem pressa em nos mostrar como o casal central se encontra após os eventos do início da trama, mas aos poucos as respostas vêm à tona.

Diferente da meia hora inicial, existe um peso maior na atuação dos atores do que o perfeccionismo do diretor em si. Contudo, há um alinhamento simétrico nestes dois quesitos até o último minuto e fazendo da obra jamais perder o seu ritmo e mantendo a nossa atenção até o seu final. Fora a direção e atuação do elenco destaco também a sua fotografia, da qual transita por cores frias e sintetizando o estado de espirito dos respectivos protagonistas.

O filme, logicamente, abrirá um leque para inúmeros debates, que vai desde ao grande significado de uma perda, como também ao fato de saber quando é que devemos aceitar em seguirmos em frente ao invés de procurar um motivo para justificar a dor que nós sentimos. Não há heróis ou vilões nesta trama, mas sim somente pessoas falhas em suas ações, mas não significa também que elas estejam erradas. Talvez, o erro é não aceitar que coisas ruins acontecem, pois se ocorre é preciso saber dar a volta por cima e achar, enfim, uma saída.

Vale também destacar o atrito que há dentro da ala familiar da protagonista, da qual é muito bem representada pela veterana Ellen Burstyn e que interpreta a matriarca. Sua personagem, por sua vez, procura justiça, mas não para a sua filha, mas sim devido a um passado trágico e do qual ela se alimenta com isso. Conhecida mundialmente como a protagonista do clássico "O Exorcista" (1972), não me surpreenderia se Ellen Burstyn fosse novamente indicada para o Oscar.

Em seu ato final, testemunhamos os personagens principais, principalmente a protagonista, cansados de carregar o peso do mundo e procurando decidir se devem prosseguir com essa via Crúcis ou seguir um novo rumo. Talvez o filme perca um pouco do seu peso em seus últimos minutos ao criar soluções de fuga para os seus respectivos personagens. Contudo, em tempos em que o mundo real faz com que a gente enfrente grandes obstáculos, talvez nunca seja demais um filme terminar com um sopro de alivio.

Desde já,"Pieces of a Woman" é um dos melhores filmes de 2021 é só pelo seu primeiro ato já nos conquista por inteiro. 

Onde Assistir: NETFLIX.

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Cine Especial: Cine Debate: 'Menino Que Descobriu o Vento'

 NOTA: O filme será debatido na próxima live do Cine Debate. Para participar entre em contato com Maria Emília Bottini clicando aqui. 

Sinopse: O filme traz a história de William (Maxwell Simba), garoto morador de um vilarejo da região. Enquanto passam por um período de chuva rigorosa, os moradores de Malawi ficam impossibilitados de trabalhar na colheita. Está sendo sua única fonte de renda e alimentação

A Democracia é a peça fundamental para um país se sustentar perante a sombra do autoritarismo e assim possuir uma vida com mais dignidade e respeito. Porém, há países em que a Democracia fica só nome, ao vermos nações sendo sucumbidas perante a ambição de poderosos e dos quais fazem com que o povo sofra com um capitalismo desenfreado."O Menino Que Descobriu o Vento" (2019) mostra um povo largado a própria sorte, mas que sobrevive através do conhecimento, do pouco que os poderosos jogam fora e que nas mãos dos primeiros se transforma em vida.

Dirigido pelo ator Chiwetel Ejiofor, o filme conta a história de um jovem Malawi, que sempre esforça para adquirir conhecimentos cada vez mais diversificados. Porém, devido a mudanças no governo, o seu vilarejo começa a passar por fome, principalmente porque não há chuva devido ao corte de árvores e provocando uma grande seca. Resta ao jovem a ideia de começar a desenvolver uma inovadora turbina de vento.

O filme começa de uma forma primorosa, onde vemos os habitantes felizes com o pouco que tem, mas que é o suficiente para sonharem mais alto do que se imagina. É incrível, por exemplo, como são felizes alguns com somente um rádio, ou com a única roupa para ir à escola. São pequenos exemplos a serem pensados, já que talvez estejamos acomodados por demais com o que o mundo capitalista nos oferece, mas que acabamos ficando desesperados quando alguns desses itens acabam não funcionando simplesmente.

Quando um item não funciona é então jogado fora, mas haverá pessoas que irão aproveitar muito bem disso e o filme sintetiza muito bem essa questão a ser refletida como um todo. Aliás, é incrível como certas coisas que são tratadas como desdém podem futuramente serem valiosas para pessoas que passam por necessidades. O filme, por sua vez, escancara de forma crua que a falta de recurso acontece justamente vinda da política corrupta, da qual possui ambição de adquirir votos, mas esquecendo do povo logo após isso.

Gradualmente, o que antes era um cenário de cores quentes, logo vai se tornando acinzentado no momento em que o povo passa por necessidade. Na medida em que as adversidades e a fome aumentam, ficamos com temor pelo destino do jovem protagonista e de sua família, já que a fome atrai a violência e fazendo do cenário algo instável e quase insuportável.  É neste ponto, portanto, que a persistência e conhecimento do jovem que fará que um milagre aconteça, mas nascido pelo esforço e na esperança de um futuro melhor para aquele povo.

Embora seja novato na direção é preciso reconhecer o talento de Chiwetel Ejiofor em sua primeira empreitada, já que um filme como esse poderia ser facilmente descartável se fosse mal dirigido, mas ele consegue obter a nossa atenção com grande empenho. Curiosamente, ele tanto dirige como atua, já que no filme ele interpreta o pai do garoto e sua atuação em alguns momentos é poderosa, já que representa um pai desesperado e quase à beira da loucura. Atuação e técnica impecáveis e que faz de o filme seja revisto com gosto.

"O Menino Que Descobriu o Vento" é uma síntese sobre quando o povo é abandonado pelo estado e que cabe o primeiro sobreviver através do pouco que lhe resta e do conhecimento que buscaram durante essa jornada. 

Onde Assistir: NETFLIX. 

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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Cine Dicas: Estreias do Final de Semana (08/01/21)

NOTA: Salas da região Sul continuam fechadas. Confira a programação nos sites ItauCinema, Cinemark, GNC, Cineflix, Cinesystem e etc.    

Skin - À Flor da Pele

Sinopse: Um skinhead rompe com toda a cultura de ódio ao qual está inserido, ajudado por um ativista dos direitos negros.

Legado Explosivo

Sinopse: Ao se apaixonar por uma mulher, um ladrão de banco resolve mudar de vida, tornando-se uma pessoa honesta.

Um Tio Quase Perfeito 2

Sinopse: Um homem, correndo o risco de perder a admiração que tanto gosta dos sobrinhos, faz de tudo para concorrer com o novo centro das atenções.

Sapatinho Vermelho e os Sete Anões

Sinopse: Sapatinho Vermelho e os Sete Anões é uma releitura do famoso conto da Branca de Neve, onde o beijo da princesa de sapatos vermelhos (Chloe Grace Moretz) é a única cura para os sete anões que, na verdade, são sete príncipes arrogantes. A disputa pelo beijo da princesa fará com que eles mudem suas visões de mundo e entendam o verdadeiro significado da beleza.

O Império De Pierre Cardin

Sinopse: Milhões conhecem a logo icônica e a assinatura onipresente, mas poucos conhecem o homem por trás da marca. Quem é Pierre Cardin? Qual a história desse ícone legendário? House of Cardin é uma imersão na mente de um gênio, um documentário cronológico da vida e design de Pierre Cardin. Mr. Cardin deu acesso exclusivo aos arquivos do seu império e concedeu entrevistas nunca antes vistas no fim de sua gloriosa carreira.


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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'O Som do Silêncio'

Sinopse: jovem baterista teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo 

"O Milagre de Anne Sullivan" (1962) foi um dos primeiros filmes que marcaram a minha infância, ao mostrar uma professora que tenta todos os métodos ensinar uma jovem cega, surda e muda a compreender melhor a realidade em sua volta. O drama da perda dos sentidos é algo muito explorado, não só no cinema, como também em séries, literatura e outras mídias. "O Som do Silêncio" (2019) é mais um filme da lista, ao retratar a realidade de um jovem baterista descobrindo que perdeu o sentido da audição.

Dirigido por  Darius Marder, o filme acompanha a história de um jovem baterista, interpretado pelo ator Riz Ahmed do filme "Rogue One: Uma História de Star Wars" (2016) que teme por seu futuro quando percebe que está gradualmente ficando surdo. Duas paixões estão em jogo: a música e sua namorada, que é integrante da mesma banda de heavy metal que o rapaz toca. Essa mudança drástica acarreta em muita tensão e angústia na vida do baterista, atormentado lentamente pelo silêncio.

Em um primeiro momento a gente acha que o filme irá explorar o universo da música, quando na verdade irá explorar o próprio som da realidade em que nós convivemos em volta. A partir do momento em que o protagonista começa a ficar surdo, os realizadores foram engenhosos ao criar o tipo de som em que o protagonista começa a ouvir, desde a ruídos muito baixos ao puro abafamento do barulho que o cerca. O resultado acaba até mesmo sendo angustiante, já que sentimos na pele a dor e o desespero que ele começa a sentir a partir do momento em que a sua vida fica do avesso.

Mais do que um filme sobre superação, a história explora esse universo das pessoas surdas, ao ponto em que vemos o protagonista se interagir com outras que possui o mesmo problema, mas sabendo viver normalmente através dos sinais das libras. O segundo ato, por exemplo, acaba sendo até mesmo relaxante, já que aquela angustia do protagonista de perder o sentido da audição é deixado um pouco de lado e fazendo a gente constatar que sempre há um novo caminho.

Deve-se levar em conta que o filme funciona principalmente devido à grande atuação de  Riz Ahmed e cujo o seu olhar transmite todo o medo e angústia que o seu personagem sente ao não saber o que fazer no início da trama. Curiosamente, o terceiro ato nos revela uma situação digna de nota, onde o protagonista descobre uma nova realidade até então inédita para ele próprio e concluindo o quanto amadureceu após enfrentar diversos obstáculos. O filme termina nos dizendo que, independentemente do que aconteça com a gente, o mundo continuará sempre girando, mas nunca custa a gente fazer um esforço para acompanhá-lo.

"O Som do Silêncio" é um pequeno exemplo sobre superação perante as pancadas que a vida nos dá e que o nosso dever é sempre nunca desistir.  

Onde Assistir: Amazon Prime Video. 


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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'A Escolhida'

Sinopse: Veronica Henley é uma mulher bem sucedida, mas que se vê presa em uma realidade horrível que a força a confrontar o passado, o presente e o futuro antes que seja tarde demais. 

"Corra" (2017) não só revitalizou o gênero de horror, como também representou o grande temor de que os monstros reais do nosso passado ainda podem estar vivos em nosso presente. O filme estreou justamente em um momento em que os EUA e o mundo estavam começando a serem governados por uma extrema direita disfarçada de conservadora, quando na verdade ela possui todos os resquícios de racismo e com discursos polarizados. "A Escolhida" (2020) é um de inúmeros filmes que pegaram carona com o sucesso da obra de Jordan Peele, mas obtendo luz própria no momento que nos apresenta reviravoltas surpreendentes dentro da trama.

Dirigido por Gerard Bush por Christopher Renz, o filme conta a história de Veronica (Janelle Monáe), que é uma autora bem sucedida que se encontra presa em dois diferentes períodos: Os dias atuais e o Antebellum, a era das plantações no sul. Imersa nesta horrorizante realidade, ela deve descobrir o mistério por trás desses acontecimentos e fugir, antes que seja tarde demais.

Falar mais sobre o filme seria o mesmo que estragar algumas surpresas que nos pega desprevenidos e revelando a força maior do filme como um todo. Tecnicamente o filme foi realizado de uma forma muito bem pensada, desde ao plano-sequência da abertura, como também nas cenas em que a câmera lenta nos fascina. Ao mesmo tempo em que há todo um cuidado para reconstituir o cenário da Guerra Civil americana, por outro lado, há ali indícios de aquele cenário pode não ser bem o que nós imaginávamos.

Além de facilmente entrar na lista de filmes "pós terror" que andam fazendo sucesso atualmente, a obra possui também pitadas de outros grandes sucessos da ficção, que vai desde "Black Mirror"(2011) como também "Westworld" (2016). Quem acompanhou essas duas séries já tem, portanto, uma bagagem pronta e com isso, talvez, não venha se surpreender tanto com os desdobramentos da trama. Porém, os desdobramentos acontecem de uma forma que nos põem em dúvida sobre o que realmente acontece na tela, até que tudo fica claro em um certo momento, mas também obtendo o fator surpresa como um todo.

Em termos de interpretações vale destacar o fantástico desempenho da atriz e cantora Janelle Monáe como protagonista e cuja sua personagem vai oscilando entre uma mulher segura de si para alguém que deseja sobreviver em meio ao horror criado pela humanidade e da qual é, por vezes, difícil de explicar. Horror esse cujo o ingrediente vem do nosso próprio mundo real e nos revelando que o racismo norte americano continua encravado em suas terras enquanto houver pessoas que acreditam que podem estar acima de outras. O ato final talvez nos dê certa esperança, mas também nos dizendo que a Guerra Civil americana nunca terminou, assim como outras que nasceram na esperança pelo fim da escravatura.

"A Escolhida" é horror e realidade que se cruzam na tela, pois a obra em si é uma representação do temor que muitos sentem perante o fascismo da era Trump.  


Onde Assistir: Aluge pelo Youtube. 


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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming - 'A Voz Suprema do Blues'

Sinopse: Na Chicago de 1927, a protagonista interpretada por Davis trava um tenso duelo com executivos brancos e com um dos membros de sua banda formada por negros, durante uma sessão de gravação em estúdio. 

A união do cinema com o teatro tende a gerar um filme sem personalidade ou uma obra que desafia o talento do elenco dentro dele. "Um Limite Entre Nós" (2016), por exemplo, é baseado em uma peça de teatro, mas sabendo se expandir em sua adaptação cinematográfica e gerando assim uma pequena joia como um todo. É então que chegamos "A Voz Suprema do Blues" (2020), que segue para um mesmo caminho, onde a direção segura e atuações poderosas faz com que a obra se torne maior e cujo o palco não seria o suficiente.

Dirigido por George C. Wolfe, "A Voz Suprema do Blues" acompanha Ma Rainey (Viola Davis) em Chicago, 1927, numa sessão de gravação de álbum mergulhada em tensão entre seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca que está determinada a controlar a incontrolável "Mother of the Blues". Porém, uma conversa no local revela verdades que irão abalar a vida de todos.

Baseado na peça do vencedor do Prêmio Pulitzer, August Wilson, o diretor George C. Wolfe aproveita para expandir a ideia principal da obra já em sua abertura, onde testemunhamos uma Chicago de 1927 cheia de detalhes e rico em sua reconstituição. Ao mesmo tempo, essa abertura possui ecos do que está por vir, onde não esconde o prelúdio de um EUA em decadência e não preparada para entrar na depressão dos anos trinta. Além disso, abertura também escancara o lado hipócrita de um país que se diz terra das oportunidades, mas não para todos e principalmente para o povo negro que mais sofreu ao longo do percurso.

É aí que o elenco brilha neste quesito. Vemos personagens que lutam pelo seu dia a dia, que mantém o seu talento pela música acima de tudo, mas não obtém o retorno como esperado. O resultado é vermos personagens colocando para fora o seu passado sem glamour, onde horror vindo do homem branco se tornou o único ensino para dizer o quanto essa terra das oportunidades é gananciosa, corrupta e muito racista. O peso dessa dramaticidade não poderia ser carregado por qualquer um e é aí que dois intérpretes se sobressaem de uma forma genial.

Conhecido mundialmente pelo ótimo "Pantera Negra" (2018), Chadwick Boseman entrega o papel de sua vida, ao interpretar um jovem trompetista cheio de sonhos, mas cujo os mesmos são sempre interrompidos por aqueles que comandam o dinheiro, ou pelo seu próprio talento que não cabe o suficiente em seu único corpo. Os discursos que ele dá no vestiário onde se encontra os músicos está entre os melhores momentos do filme e cuja as suas ações imprevisíveis irão selar o seu destino. Isso tudo faz a gente somente lamentar o recente falecimento do ator e do qual o mesmo não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar deste ano pelo seu incrível trabalho.

Mas como se isso já não bastasse, temos também uma Viola Davis quase irreconhecível e cuja a sua personagem Ma Rainey é uma espécie de entidade da natureza da qual não pode ser controlada. Sendo pisada na vida por tudo e a todos, a personagem Ma Rainey usa a sua personalidade forte para obter os seus reais propósitos, mesmo que isso lhe faça ser abandonada em um futuro próximo. Todas as cenas da atriz são poderosíssimas, mas o seu olhar em sua última cena nos diz tudo sem nenhuma palavra e sintetizando a sua dor interior mesmo quando a própria tenta escondê-la.

"A Voz Suprema do Blues" é uma pequena jóia cinematográfica, da qual retrata uma época em que era preciso saber jogar para sobreviver, mas cujo esse jogo até hoje não encontrou o seu derradeiro fim. 

Onde Assistir: Netflix. 

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Cine Dica: Streaming: '2020 Nunca Mais'

 Sinopse: Uma retrospectiva bizarra sobre um ano bizarro em todos os sentidos.  

"Black Mirror" é uma série revolucionária ao contar histórias fictícias, mas que não são muito distantes de nossa própria realidade. Questões como redes sociais, fake news, negacionismo e polarização ao extremo são alguns dos assuntos em que a série mais aborda e dos quais nós enfrentamos no lado de cá da tela. Tudo isso transbordou de vez no ano de 2020, onde a pandemia do Coronavírus revelou a face grotesca de várias pessoas, onde escancarou governos despreparados perante o assunto e o falso documentário "2020 Nunca Mais" vem para recontar os absurdos desse ano tão  complexo.

Realizado pelos mesmos criadores de "Black Mirror",  com o título original de Death to 2020 (Morte à 2020, em tradução livre) e encabeçado por Charlie Brooker e Annabel Jones, nada mais justo que esse especial relembraria os eventos deste ano com um humor ácido carregado de ironía. A previsão se concretiza logo aos primeiros minutos, quando somos apresentados aos “entrevistados” da retrospectiva, que vão desde um jornalista interpretado por Samuel L. Jackson até a própria Rainha Elizabeth II, vivida por Tracey Ullman.

A escolha pelo humor ácido para descrever o que passou neste último ano é mais do que apropriado, pois antes rir do que chorar perante tantas situações horríveis e absurdas que ocorreram ao longo de cansativos doze meses. O documentário se destaca principalmente pela escolha de seus personagens, onde cada um representa uma faceta de uma sociedade que prega a todo custo o seu pensamento, mas sem querer ouvir a opinião diferente do seu próximo. Se por um lado temos uma dona de casa que aceita todo o tipo de mentira que transborda em seu celular, do outro, temos o historiador que possui uma grande bagagem de conhecimento da história, mas que o próprio não consegue fazer uma análise construtiva sem mencionar histórias populares, porém, fictícias.

Logicamente, tudo isso se dirige à figura polêmica que foi Donald Trump, cujo o seu discurso negacionista com relação ao vírus sentenciou inúmeros norte-americanos a morte ao longo do ano. Curiosamente, a obra destaca outros governantes da extrema direita que possuem o mesmo discurso, como no caso do grotesco Primeiro Ministro da Inglaterra Boris Johnson e cujo o seus discursos são tão bizarros quanto do próprio Presidente norte americano. É tanta coisa hedionda que o documentário se estenderia ainda mais se colocassem o nosso Presidente Bolsonaro na jogada, mas para isso seria preciso fazer uma análise mais aprofundada, pois só com o nosso governo atual precisaria de, no mínimo, dois documentários para recontar tantas loucuras que acontecem por aqui em nossas terras tropicais.

Só para se ter uma noção de como esse ano foi problemático, a questão do coronavírus chega até mesmo a ficar em segundo plano em alguns momentos de projeção, principalmente quando os realizadores colocam na tela questões sobre o combate contra o racismo e que neste ano estourou com o assassinato covarde de um jovem negro que havia sido morto por um policial. Tudo isso acabou gerando uma convulsão social, da qual começou nos EUA e se espalhou ao redor do mundo. Isso fez com que aumentasse ainda mais o combate contra Donald Trump, mas esse embate somente estava começando.

É aí que no ato final do documentário testemunhamos uma eleição norte americana bizarra, onde vemos um Presidente negar o resultado de uma eleição e que não aceita a derrota até o último instante. Todos nós conhecemos essa e outras histórias do ano de 2020, mas olhando para as situações vistas na tela concluímos que nenhuma ficção vista no cinema ou literatura criada até aqui previu tamanha montanha russa de situações que fizeram a gente testar a nossa força de vontade a todo momento. O ano de 2020 deu adeus para alegria de muitos, mas os resquícios do que ele provocou continuam e cabe a gente ver o que acontece neste jogo já tumultuado para esse novo ano.

"2020 Nunca Mais" é um replay sobre tudo o que havia dado errado neste ano, mas também escancarando o quanto somos persuadidos a querer continuar cometendo os mesmos erros. 

Onde Assistir: Netflix.  

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